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CDs recordam "ídolo da juventude"
Um dos galãs da jovem guarda e autor do sucesso "O Ritmo da Chuva", Demetrius tenta reengrenar como compositor
Ex-parceiro de pescarias de Roberto Carlos, para quem criou "Preciso lhe Encontrar", ele chegou a ficar 20 anos afastado de shows e discos
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pode haver quem olhe a capinha no outro lado desta página, do disco "Demetrius - Ídolo
da Juventude" (1962), e pense
que a foto foi puro marketing.
Nem tanto: Demetrio Zahra
Neto e seu topete deixavam
realmente as meninas e seus
coques em alvoroço.
Isto foi antes de Roberto Carlos estourar, durante o boom da
jovem guarda ("Era uma religião, uma maluquice", ainda se
assusta) e até um pouco depois.
Como tantas outras, sua carreira foi ficando sentada à beira do
caminho enquanto o Rei consolidava seu Olimpo solitário.
É possível relembrar esses
anos dourados (para ele, pelo
menos) ouvindo quatro discos
do cantor só agora lançados em
CD. Além do já citado, há um de
63, outro de 67 e mais um de 68.
Fazem parte de uma coleção de
25 títulos de jovem guarda da
Warner, que inclui Joelma,
Giane, Martinha, Vanusa, Os
Vips, Os Brasas e outros.
Aos 66, cabelos brancos e
sem topete, Demetrius soube
da novidade pela Folha. Encomendou à gravadora e pagou
por seus próprios discos. Não
fala disso nem de coisa nenhuma com amargura -com algum sarcasmo, sim. Há duas
semanas, por exemplo, deixou,
após muita insistência, um CD
com uma música nova sua no
escritório do empresário de
Bruno e Marrone.
"Não consigo falar com ninguém mais. Tem que passar pela secretária do primo do jardineiro para começar", diz, afirmando que, na jovem guarda,
todos eram muito próximos, e
que ele até pescava com Roberto Carlos na represa Billings.
"Talvez também seja assim hoje. Um pega o helicóptero e vai
na casa do outro", brinca.
"Dedé" de São Bernardo
Demetrius pega seu carro todo dia e vai ao bar Ferradura,
em São Bernardo, onde mora
há um ano -nasceu no Rio,
mas com seis meses já estava
em São Paulo. Para Nancy Santos, dona do bar e filha do grande cantor Agostinho dos Santos
(1932-1973), e para os outros
freqüentadores, ele é o "Dedé".
Vive de direitos autorais de
sucessos como "Preciso lhe Encontrar" (lançada pelo Rei em
70) e as versões de canções estrangeiras "Ternura" (origem
do apelido de Wanderléa, a
Ternurinha) e "O Ritmo da
Chuva" (gravada por um amplo
leque que vai de Raça Negra a
Fernanda Takai).
"Olho para a chuva que não
quer cessar/ Nela vejo o meu
amor...". É para cantar esses
versos -em playback, na verdade- que Demetrius ainda é
chamado para alguns programas de TV. "Se eu cansar de
cantar "O Ritmo da Chuva", significa que parei de cantar. O
problema é que, como não tenho gravado coisas novas, parece que sou um intérprete de
uma música só. Mas gravei um
caminhão delas", ressalta.
Durante 20 anos de carreira
(1960 a 80), foram sete LPs e
dezenas de compactos. Até que,
segundo conta, ouviu a voz de
seu filho de 14 anos ficando
adulta e resolveu trocar a vida
mambembe pela familiar.
"Não estava vendo meus três
filhos crescerem. Decidi não
gravar mais, fui viajar com eles
e tirei um ano sabático", relata.
Para sustentar a prole, virou
corretor de imóveis ("Eu era
campeão de vendas, porque
sempre perguntavam: "Você
não é o cantor?'"), dono de imobiliária, abriu loja de artigos
náuticos em Ubatuba e um
quiosque. Largou a vista da
praia e entrou numa zona escura depois que seu caçula, aos 18
anos, morreu afogado em 92.
Desalentado, recusou convites para celebrações da jovem
guarda, e parecia que nunca
mais tocaria seu violão de canhoto. Voltou em 99, gravando
um CD com seus sucessos, até
para combater a tristeza. Desde
então, tem feito aparições e
shows esporádicos.
Enquanto fuma alguns dos
30 cigarros que consome diariamente ("Meu médico está
me matando desde os anos 60")
e toma um Underberg, ele ri até
de dinheiro perdido. Vendeu
terrenos em Alphaville, antes
da ultravalorização da área, para comprar uma chácara em
Iperó, no sudoeste paulista
-também vendida sem gerar
fortunas. Hoje, tem um cantinho, um violão e pouca coisa
mais, como discos de Norah Jones e Peninha e um exemplar
de cada LP seu.
"Minha vida é simples, como
a vida tem que ser. Para que
complicar?", ensina ele, com
desejos de ser um compositor
novamente gravado, mas sem
fantasias de voltar aos tempos
de astro. "Não gosto de insistir
em coisas impossíveis ou complicadas."
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