São Paulo, Terça-feira, 08 de Junho de 1999
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Impressionismo pinta neste final de século


Tema de mostras em NY, livros e CD-ROM, o movimento artístico francês ainda hoje influencia a produção artística e volta a ter lances milionários em leilões


CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Cerca de dez anos depois de ter assombrado o mundo com as cifras astronômicas conseguidas nos leilões de Nova York (veja quadro nesta página), o impressionismo volta a surpreender.
Contrariando os mais céticos, que julgaram aquele momento como mais uma anomalia dos exagerados anos 80, o movimento ainda hoje atrai o público, o mercado e a crítica, que vê o impressionismo como uma constante fonte de inspiração.
"O impressionismo surgiu em um momento em que a pintura precisava refazer seus estatutos estéticos e poéticos, já que a fotografia cumpria melhor o papel de reprodutora da realidade. É o momento em que a pintura se liberta do real e consegue uma bagagem poética nova. A fotografia hoje faz o mesmo caminho", disse a curadora Lisette Lagnado.
"Parte da fotografia atual busca a decomposição da unidade do traço e da luminosidade e trabalha com o desejo de dissolver os limites entre as paisagens interior e exterior. Existe o desejo dela em se afirmar como uma linguagem poética autônoma e, assim como a pintura impressionista, tornar visíveis coisas que escapam ao olhar", complementou.
Vale ainda lembrar que impressionismo e fotografia estiveram muito ligados. A primeira mostra impressionista, por exemplo, em 1874, aconteceu no estúdio do fotógrafo Nadar.
Segundo o diretor do MAC-USP, Teixeira Coelho, o impressionismo influencia a produção artística contemporânea em vários níveis: conceituais e estéticos.
"Os impressionistas trabalhavam com a desconstrução do visível, que é a pedra de toque da atual produção artística. Também o fato de não ocupar toda a tela, de deixá-las inacabadas, por assim dizer, foi incorporado pela arte hoje", disse Teixeira Coelho.
O mercado também tem se mostrado ávido por telas impressionistas. Embora o recorde conseguido pelo retrato do dr. Gachet, realizado por Van Gogh, esteja imbatível desde 90, em novembro último um auto-retrato do pintor conseguiu US$ 71,5 milhões e, em maio, Cézanne bateu seu recorde mundial ao ter seu "Natureza-Morta com Cortina, Jarro e Cesta de Frutas" vendido em NY por US$ 62,5 milhões.
"O impressionismo fascina o espectador, pois é o movimento que mais apostou na procura do belo, que é o impulso básico de toda produção artística, mesmo neste final de século 20. É um anseio que é estrutural à nossa cultura", disse Teixeira Coelho.
Segundo o professor Gilson Pedro, do Scriptorium de Arte, que realiza frequentemente cursos sobre o tema, o impressionismo marcou sua influência ao dar à pintura uma nova velocidade, reflexo da rapidez das mudanças climáticas, que protagonizaram muitos trabalhos do movimento.
"A necessidade de buscar o "plein air", a luz natural do dia, transformou totalmente a arte, que precisou se fundamentar em uma nova velocidade. Os artistas acompanharam essa rapidez com suas pinceladas, para assim congelar instantes fugidios", disse.


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