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"O IMPERIALISMO SEDUTOR"
Livro comprova queda perante brilho americano
GILBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um aspecto interessante do
livro "O Imperialismo Sedutor", de Antonio Pedro Tota, é
mostrar que estamos todos, de
Pequim a Quixeramobim, fadados à condição de americanólogos.
Somos obrigados a dispor de
um saber ou de um "logos" sobre
os Estados Unidos. Os antecedentes em São Paulo são Eduardo
Prado, Monteiro Lobato e Roland
Corbusier, sem esquecer o jornalista carioca Paulo Francis, que se
obnubilara "cidadão do mundo"
em sua Nova York.
O historiador Antônio Pedro
Tota é um estudioso obstinado do
fenômeno da "americanização do
Brasil" durante a Segunda Guerra
Mundial.
Essa americanização começa
paradoxalmente a partir de 1930,
data em que o trenzinho caipira
do presidente Getúlio Vargas
anuncia o moderno nacionalismo
na história do Brasil, depois do
ensaio do patriarca pé-de-valsa
José Bonifácio de Andrade e Silva.
O capítulo do livro que me comoveu foi sobre o intelectual nova-iorquino Waldo Frank, desbundado com a floresta e o sexo
assumido das mulheres brasileiras, em contraste com o dólar-line
puritano das matronas donas dos
Estados Unidos.
Ainda que pelas mãos auspiciosas de Rockefeller, o escritor Waldo Frank é a representação delirante da cópula amorosa das
Américas, tal qual o amor de perdição de Orson Welles no Brasil
de 1942.
Às vezes imagino, olhando do
presente para o passado, a reação
do delicado Waldo Frank, amigo
de Vinícius de Moraes, fã de Oswald de Andrade e alter ego do
brasilianista Mathews Shirts,
diante da notícia barra-pesada de
que lá nos Estados Unidos atualmente os mapas escolares já trazem o Brasil esfacelado, território
abaixo da Amazônia e do Pantanal, sendo essas duas regiões
identificadas como "área sob controle internacional".
A particularidade imperialista
da sedução audiovisual da comunicação precedeu à emissão mundial do dólar-Bretton-Woods.
O filme de guerra interfere no
espelho desafortunado dos tristes
trópicos. É de natureza midiática
o xodó nosso pelos Estados Unidos da América.
A sedução do rádio dentro do
automóvel está conectada à mais-valia ianque auferida pelo lucro
da guerra.
A imagem do soldado é o cidadão educado no binômio gângster e caubói, ou seja: dinheiro e
violência.
De todos os imperialismos no
mundo, seja anglo, japonês, russo
ou alemão, o predileto é o norte-americano, por causa do cinema
falado e do jazz, conforme poetaram Noel Rosa e Lamartine Babo.
Atenção: no Brasil, o marxismo,
internacionalista em sua essência,
se deixou seduzir por Marlon
Brando e Coca-Cola.
No livro de Antônio Pedro Tota
o tesão dos brasileiros pelos "brothers" é analisado até o fim da
guerra, em 1945. Doravante, o
complexo dólar-petróleo-TV-bomba atômica complicará o mecanismo da sedução.
Há décadas saiu de moda o uso
da palavra "imperialismo". Perdeu prestígio sociológico.
Nos anos 40, as "pictures" (som
e imagem) se aproveitaram da
alucinada aprontação de Adolf
Hitler. Este foi o espectro responsável por tornar simpática para
muita gente a democracia à norte-americana. Desse mito da Segunda Guerra Mundial resultou o
ideário de um partido político
chamado UDN, cuja "star" cinética foi o orador Carlos Lacerda.
O pirado do Adolf Hitler favoreceu indiretamente a americanização do Brasil e, por conseguinte,
pode ser considerado o exu póstumo ou padrinho do golpe de 64.
O problema dessa sedução diabólica imperialista é sua persistência compulsiva e a relação esquizofrênica mantida com os outros "cucarachos" da América do
Sul.
A combalida esquerda brasileira, desde a Segunda Guerra Mundial, não foi ainda capaz de persuadir a opinião pública com a
palavra de ordem disjuntiva: independência nacional ou sedução
"made in USA".
Gilberto Vasconcellos é professor de
ciências sociais da Universidade Federal
de Juiz de Fora (MG) e autor de "O Príncipe da Moeda" (ed. Espaço e Tempo), entre outros
O Imperialismo Sedutor
Autor: Antonio Pedro Tota
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 22,80 (235 págs.)
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