|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pinacoteca mostra a arte brasileira do século 20
Coleção de Gilberto Chateaubriand traz produção moderna e contemporânea
Iniciado com um presente de Pancetti, conjunto de obras tem 7.000 peças, das quais 170 estão na exposição que é aberta hoje
GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Passou-se cerca de meio século desde que Gilberto Chateaubriand, hoje um dos maiores colecionadores de arte do
Brasil, ganhou do pintor José
Pancetti a primeira obra de sua
coleção, "Paisagem de Itapuã",
pequena tela a óleo retratando
uma praia tranqüila, em cuja
areia se escondia um tesouro
inimaginável. Foi o presente de
Pancetti que deu início a um
dos mais importantes conjuntos de obras brasileiras, hoje
com 7.000 peças em vários suportes, abrangendo desde a
época do modernismo até dias
recentes.
A Pinacoteca do Estado mostra agora parte desse conjunto.
São 170 obras organizadas por
Fernando Cocchiarale e Franz
Manatta a partir de escolhas
feitas pelo próprio Chateaubriand. O que resulta em um recorte único da produção artística brasileira, ainda que submetida ao olhar do colecionador,
com ênfase na produção que
segue os anos 60. Como lembra
Fernando Cocchiarale, "um panorama da coleção de Chateaubriand é um panorama da história da arte brasileira do último século".
Para o crítico Paulo Herkenhoff, ex-diretor do MAM do
Rio de Janeiro, Gilberto Chateaubriand inventou um país
em termos de coleção. "Em
épocas em que não havia incentivo público e fiscal, em que não
se davam bolsas para artistas,
ele foi um dos principais investidores, deu suporte para o trabalho de vários profissionais,
como Cildo Meireles, Waltércio Caldas e Ivens Machado."
Hoje em dia, Chateaubriand
ainda compra cerca de 300 trabalhos por ano.
A mostra na Pinacoteca, que
vem do MAM do Rio, onde as
obras ficam guardadas em regime de comodato desde 1993,
ocupa sete salas. A cronologia
da organização só é quebrada
pela disposição de obras abstracionistas e construtivistas,
dos anos 50 e 60 já no primeiro
ambiente. A decisão curatorial
acaba segregando representantes desses gêneros, que não são
muito fortes na coleção de Chateaubriand.
Em seguida, vêm os modernistas. "A Japonesa" (1924), de
Anita Malfatti, e "Urutu"
(1928), de Tarsila do Amaral,
são duas das telas mais valiosas
e antigas. No mesmo ambiente,
seguem pinturas de Portinari,
Vicente do Rêgo Monteiro, Ismael Nery, Di Cavalcanti, Djanira, Goeldi, Guignard, Ismael
Nery e Lasar Segall.
As sessões dedicadas aos
anos 60 e 70 aparecem como
retrato de um ambiente artístico mais politizado, com obras
que propõem rupturas com os
suportes tradicionais. Aqui estão reunidos trabalhos de de
Hélio Oiticica, Cláudio Tozzi e
Anna Maria Maiolino.
A pintura recupera seu lugar
com força total nos anos 80, o
que fica evidente nas obras de
Luiz Zerbini, Daniel Senise e
Cristina Canale. E conforme a
mostra vai se aproximando de
seu final, a fotografia e a tecnologia abrem caminho. Ainda
que o vídeo não esteja representado entre as peças dessa
mostra, tem boa presença na
coleção. Rogério Canella, Márcia Xavier, Albano Afonso,
Cláudia Andujar, Eduardo Kac
e Amilcar Packer são artistas
que integram uma turma com
forte atuação na cena atual.
Sobre o destino da coleção no
futuro, Chateaubriand brinca:
"Estou muito jovem para pensar nisso; tenho só 81 anos!".
COLEÇÃO GILBERTO CHATEAUBRIAND
Quando: abre hoje, às 11h; ter. a
dom., das 10h às 18h
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da
Luz, 2, tel. 0/xx/11/3229-9844)
Quanto: R$ 4; grátis aos sáb.
Texto Anterior: Trecho Próximo Texto: Ilustrada: Nova regra de classificação de filme transfere decisão ao pai Índice
|