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Crítica/"Os Incompreendidos"
Primeiro longa de Truffaut ganha nova edição em DVD
Filme marca encontro com Jean-Pierre Léaud, alter ego do cineasta em série
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
É particular a saga dos filmes da série Antoine
Doinel. Começou em
1959 como um sopro de juventude e rebeldia no cinema, com
"Os Incompreendidos", e terminou duas décadas depois como expressão de um cinema
oficial por excelência -o "cinéaste de France"-, com "O
Amor em Fuga" (1978).
"Os Incompreendidos", que
já tinha uma edição em DVD no
Brasil (inferior a esta), é o mais
famoso dos filmes da série, inclusive porque seu sucesso e o
prêmio de melhor direção em
Cannes foram decisivos para o
lançamento da nouvelle vague.
Era o filme da rebeldia: dos
adolescentes inquietos às voltas com um sistema escolar e
familiar pouco apto a compreender as ansiedades da época. O filme tem muito das relações familiares turbulentas do próprio Truffaut, mas ele sempre insistiu que não se tratava
de um filme autobiográfico.
Ali, começou a se sedimentar
o encontro com Jean-Pierre
Léaud, seu alter ego na série e,
em boa parte, na vida mesmo.
Léaud estrelou todos os filmes
da série, inclusive "Antoine e
Colette", a segunda parte, incluído originalmente no longa
de episódios "Amor aos 20
Anos" (e agora incluído como
extra de "Os Incompreendidos"). Um dos extras do DVD
dedica-se à profunda relação
que se estabeleceu ao longo da
vida entre ele e o ator juvenil
que lançara em 1959.
Nos demais discos, entramos
na fase colorida da série: "Beijos Proibidos" (1968), "Domicílio Conjugal" (1970), "O Amor
em Fuga" (1979). Sobretudo os
dois primeiros ficaram um tanto estigmatizados pela, digamos, alienação. Estávamos em
1968 ou em seus arredores, a juventude sublevada e Truffaut
preocupado com os amores e
casamentos de Doinel.
Não se faz uma revolução por
semana, e Truffaut já tinha feito a dele. Hoje, isso fica bem
mais claro e é possível revalorizar o humor e o romantismo da
série, que se manifesta, mais do
que nunca, em "Beijos Proibidos", com destaque para o segmento em que Doinel, na condição de detetive, se apaixona pela mulher do dono de uma
sapataria, a imbatível Delphine
Seyrig. Mas todo o filme hoje
recende modernidade, agilidade, inquietação, poder de observação. É por excelência o filme dos passeios por Paris.
Em "Domicílio Conjugal", o
desafio é mostrar a vida de um
casal (Antoine e Christine, interpretada por Claude Jade
-os namorados crônicos do filme anterior), suas dificuldades,
antagonismos, encontros.
"O Amor em Fuga" é o segmento final da série e, talvez, o
menos animador deles. Já é um
filme quase apartado da juventude, embora ali Antoine feche
o círculo de seus amores.
OS INCOMPREENDIDOS
Distribuidora: Versátil (R$ 44,90)
Avaliação: ótimo
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