São Paulo, domingo, 08 de julho de 2007

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Crítica/"Os Incompreendidos"

Primeiro longa de Truffaut ganha nova edição em DVD

Filme marca encontro com Jean-Pierre Léaud, alter ego do cineasta em série

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

É particular a saga dos filmes da série Antoine Doinel. Começou em 1959 como um sopro de juventude e rebeldia no cinema, com "Os Incompreendidos", e terminou duas décadas depois como expressão de um cinema oficial por excelência -o "cinéaste de France"-, com "O Amor em Fuga" (1978).
"Os Incompreendidos", que já tinha uma edição em DVD no Brasil (inferior a esta), é o mais famoso dos filmes da série, inclusive porque seu sucesso e o prêmio de melhor direção em Cannes foram decisivos para o lançamento da nouvelle vague.
Era o filme da rebeldia: dos adolescentes inquietos às voltas com um sistema escolar e familiar pouco apto a compreender as ansiedades da época. O filme tem muito das relações familiares turbulentas do próprio Truffaut, mas ele sempre insistiu que não se tratava de um filme autobiográfico.
Ali, começou a se sedimentar o encontro com Jean-Pierre Léaud, seu alter ego na série e, em boa parte, na vida mesmo.
Léaud estrelou todos os filmes da série, inclusive "Antoine e Colette", a segunda parte, incluído originalmente no longa de episódios "Amor aos 20 Anos" (e agora incluído como extra de "Os Incompreendidos"). Um dos extras do DVD dedica-se à profunda relação que se estabeleceu ao longo da vida entre ele e o ator juvenil que lançara em 1959.
Nos demais discos, entramos na fase colorida da série: "Beijos Proibidos" (1968), "Domicílio Conjugal" (1970), "O Amor em Fuga" (1979). Sobretudo os dois primeiros ficaram um tanto estigmatizados pela, digamos, alienação. Estávamos em 1968 ou em seus arredores, a juventude sublevada e Truffaut preocupado com os amores e casamentos de Doinel.
Não se faz uma revolução por semana, e Truffaut já tinha feito a dele. Hoje, isso fica bem mais claro e é possível revalorizar o humor e o romantismo da série, que se manifesta, mais do que nunca, em "Beijos Proibidos", com destaque para o segmento em que Doinel, na condição de detetive, se apaixona pela mulher do dono de uma sapataria, a imbatível Delphine Seyrig. Mas todo o filme hoje recende modernidade, agilidade, inquietação, poder de observação. É por excelência o filme dos passeios por Paris.
Em "Domicílio Conjugal", o desafio é mostrar a vida de um casal (Antoine e Christine, interpretada por Claude Jade -os namorados crônicos do filme anterior), suas dificuldades, antagonismos, encontros.
"O Amor em Fuga" é o segmento final da série e, talvez, o menos animador deles. Já é um filme quase apartado da juventude, embora ali Antoine feche o círculo de seus amores.


OS INCOMPREENDIDOS
Distribuidora:
Versátil (R$ 44,90)
Avaliação: ótimo


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