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Livraria carioca usa redação para levar seus vendedores à Flip
Funcionários da Livraria da Travessa recebem passagem, alimentação, ajuda de custo, ingressos para os debates e ficam em uma casa alugada em Paraty
MARCOS STRECKER
ENVIADO ESPECIAL A PARATY
Rui Campos, um dos sócios
da Livraria da Travessa, acha
que foi uma sorte ter perdido a
disputa para ser a loja oficial da
Flip, a festa literária de Paraty.
"Na época, fiquei chateado,
mas depois achei que foi a melhor coisa que podia ter acontecido." Ele traz seus funcionários desde o primeiro evento e
passou a profissionalizar as excursões para Paraty. Nesta
quinta edição, trouxe 24 vendedores. Eles recebem passagem,
alimentação, ajuda de custo, ingressos para os debates e ficam
em uma casa alugada.
Para não deixar as lojas vazias, os funcionários vêm em
dois turnos. E como forma de
selecionar os felizardos que
deixam o trabalho no Rio para
ouvir um time de escritores que
neste ano reuniu dois prêmios
Nobel, a livraria passou a fazer
um concurso de redação, em
que eles precisam responder a
perguntas como "por que eu
quero ir para a Flip?".
Não é um prêmio extemporâneo, mas uma forma de aumentar as vendas e qualificar
os funcionários. Com a participação no evento, os livreiros
têm assunto o ano inteiro para
conversar com os clientes e podem indicar livros com mais
propriedade. A estratégia deu
certo. Nas semanas que antecedem a Flip, são montadas mesas nas lojas com livros dos autores convidados. Só com a expectativa do evento, os livros já
saem bastante.
"A reação é imediata. Quando um autor "bomba" na Flip,
mandamos na hora pedir mais
livros para as lojas", diz Fernanda Hallack, diretora de recursos humanos. Os livros continuam vendendo bem várias
semanas depois do término do
evento.
Antonio Berto, que já trabalhou em livrarias conhecidas de
São Paulo, acabou virando uma
referência entre os colegas livreiros. Sua redação "vencedora" foi uma entrevista fictícia
com Elizabeth Costello, a personagem criada pelo Prêmio
Nobel J.M. Coetzee, presente
em Paraty. Na conversa com a
Folha, Berto se definiu como
"o livreiro da Travessa", fazendo uma comparação involuntária com o "Livreiro de Cabul",
personagem do best-seller da
norueguesa Asne Seierstad.
Berto conta que vários autores passaram a freqüentar a casa dos livreiros nas sessões
"after hours". Um deles, o irlandês Colm Tóibin, precisou ser
"escoltado" para o hotel depois
de uma noitada. Os livreiros ficaram com medo que perdesse
sua mesa no dia seguinte.
Tóibin até hoje se corresponde
com os livreiros.
Algumas celebridades da
Flip, quando "dão azar" de passar pela livraria antes de seguir
para Paraty, são requisitados
"na cara dura" a autografem
seus livros. Na última semana,
isso aconteceu com o israelense Amós Oz. As pilhas com esses exemplares sempre se esgotam "na hora".
O conceito de "festa literária", como a Flip se autointitula, é levado a sério pelos livreiros. Berto fala que eles passaram a freqüentar outras festas
que se tornaram tradicionais
na cidade. Uma delas acontece
todo ano na casa do príncipe d.
João de Orleans e Bragança.
"É uma coisa meio underground, as pessoas se divertem
e lêem poesia em voz alta."
A experiência em misturar literatura e eventos vem de longa
data para Rui Campos. Antes de
fundar a Travessa, ele dirigia
nos anos 70 a livraria O Muro,
que funcionava no subsolo de
uma galeria de Ipanema, onde
se apresentavam grupos alternativos como o Nuvem Cigana,
que reunia Chacal e Bernardo
Vilhena, entre outros.
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