São Paulo, domingo, 08 de julho de 2007

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Livraria carioca usa redação para levar seus vendedores à Flip

Funcionários da Livraria da Travessa recebem passagem, alimentação, ajuda de custo, ingressos para os debates e ficam em uma casa alugada em Paraty

MARCOS STRECKER
ENVIADO ESPECIAL A PARATY

Rui Campos, um dos sócios da Livraria da Travessa, acha que foi uma sorte ter perdido a disputa para ser a loja oficial da Flip, a festa literária de Paraty. "Na época, fiquei chateado, mas depois achei que foi a melhor coisa que podia ter acontecido." Ele traz seus funcionários desde o primeiro evento e passou a profissionalizar as excursões para Paraty. Nesta quinta edição, trouxe 24 vendedores. Eles recebem passagem, alimentação, ajuda de custo, ingressos para os debates e ficam em uma casa alugada.
Para não deixar as lojas vazias, os funcionários vêm em dois turnos. E como forma de selecionar os felizardos que deixam o trabalho no Rio para ouvir um time de escritores que neste ano reuniu dois prêmios Nobel, a livraria passou a fazer um concurso de redação, em que eles precisam responder a perguntas como "por que eu quero ir para a Flip?".
Não é um prêmio extemporâneo, mas uma forma de aumentar as vendas e qualificar os funcionários. Com a participação no evento, os livreiros têm assunto o ano inteiro para conversar com os clientes e podem indicar livros com mais propriedade. A estratégia deu certo. Nas semanas que antecedem a Flip, são montadas mesas nas lojas com livros dos autores convidados. Só com a expectativa do evento, os livros já saem bastante.
"A reação é imediata. Quando um autor "bomba" na Flip, mandamos na hora pedir mais livros para as lojas", diz Fernanda Hallack, diretora de recursos humanos. Os livros continuam vendendo bem várias semanas depois do término do evento.
Antonio Berto, que já trabalhou em livrarias conhecidas de São Paulo, acabou virando uma referência entre os colegas livreiros. Sua redação "vencedora" foi uma entrevista fictícia com Elizabeth Costello, a personagem criada pelo Prêmio Nobel J.M. Coetzee, presente em Paraty. Na conversa com a Folha, Berto se definiu como "o livreiro da Travessa", fazendo uma comparação involuntária com o "Livreiro de Cabul", personagem do best-seller da norueguesa Asne Seierstad.
Berto conta que vários autores passaram a freqüentar a casa dos livreiros nas sessões "after hours". Um deles, o irlandês Colm Tóibin, precisou ser "escoltado" para o hotel depois de uma noitada. Os livreiros ficaram com medo que perdesse sua mesa no dia seguinte. Tóibin até hoje se corresponde com os livreiros.
Algumas celebridades da Flip, quando "dão azar" de passar pela livraria antes de seguir para Paraty, são requisitados "na cara dura" a autografem seus livros. Na última semana, isso aconteceu com o israelense Amós Oz. As pilhas com esses exemplares sempre se esgotam "na hora".
O conceito de "festa literária", como a Flip se autointitula, é levado a sério pelos livreiros. Berto fala que eles passaram a freqüentar outras festas que se tornaram tradicionais na cidade. Uma delas acontece todo ano na casa do príncipe d. João de Orleans e Bragança.
"É uma coisa meio underground, as pessoas se divertem e lêem poesia em voz alta."
A experiência em misturar literatura e eventos vem de longa data para Rui Campos. Antes de fundar a Travessa, ele dirigia nos anos 70 a livraria O Muro, que funcionava no subsolo de uma galeria de Ipanema, onde se apresentavam grupos alternativos como o Nuvem Cigana, que reunia Chacal e Bernardo Vilhena, entre outros.


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