São Paulo, quarta-feira, 08 de julho de 2009

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Fãs se despedem de Jackson em megafuneral

Na cerimônia, filha de 11 anos leva plateia às lágrimas ao dizer que o seu era "o melhor pai que se pode imaginar"

Entre o palco, em que se revezavam músicos, amigos, e o público, estava o corpo do cantor em caixão banhado a ouro


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Com 20 mil pessoas na plateia e transmissão para o mundo inteiro, fãs, amigos e parentes de Michael Jackson se despediram do músico na manhã de ontem, num ginásio em Los Angeles. A cerimônia pública foi estruturada como um típico funeral de família negra norte-americana, mas realizada com estrutura de megashow.
As pouco mais de duas horas -nas quais se revezaram no palco do Staples Center músicos, líderes religiosos, amigos e membros da família- foram encerradas com as palavras da única filha de Jackson, Paris Michael Katherine, de 11 anos, um dos poucos aspectos de sua vida que ele fazia questão de manter longe do público.
"Eu só quero dizer que, desde que eu nasci, o papai foi o melhor pai que se pode imaginar", começou a menina, mexendo no cabelo, vestidinho preto e pele muito branca. Nas primeiras fileiras da plateia, formada por celebridades como a atriz Brooke Shields, o silêncio era quebrado por uma onda de choros soluçados. "Eu só quero dizer que eu o amo tanto", concluiu, cercada pelos tios, e depois de ouvir carinhosamente da tia Janet que falasse mais alto no microfone.
Foi o momento mais emocionante de um "showneral" que começou com Mariah Carey e Trey Lorenz cantando "I'll Be There", um dos primeiros sucessos do grupo Jackson 5, do final dos anos 60, e terminou com todos no palco entoando "We Are the World" e "Heal the World", canções que marcaram as maiores iniciativas beneficentes do músico.
Entre o palco e a plateia, iluminado por um canhão de luz, estava o caixão que trazia o corpo do pai, morto aos 50 anos no dia 25 último em circunstâncias não esclarecidas. Tinha sobre ele uma coroa de flores e, segundo a imprensa local, era banhado a ouro de 14 quilates.
O caixão ficou a dois passos de onde os três filhos, os oito irmãos e os pais de Jackson estavam sentados, na primeira fileira. As irmãs e os pais vestiam preto. Parte dos irmãos usava gravata amarelo-ouro, como o caixão, e uma luva branca na mão direita, que foi uma das características visuais do músico. Todos usavam óculos escuros.
No teatro ao lado, 6.500 pessoas assistiam a tudo por um telão. Apesar de a área do ginásio estar fechada pela polícia, pelo menos mil fãs sem ingresso tentavam furar o bloqueio, no que eram vigiados por três vezes o número de policiais. Em 88 cinemas espalhados pelo país, a cerimônia era transmitida ao vivo. Na Times Square, de Nova York, os passantes acompanhavam pelos telões.
Nas principais TVs abertas e fechadas norte-americanas, a programação normal havia sido interrompida e âncoras relatavam passo a passo o que se desenrolava no palco. No mundo inteiro, os organizadores do evento estimavam em cerca de 1 bilhão de pessoas o potencial de espectadores.
Até a conclusão desta edição, não estava claro o destino do corpo de Jackson, retirado rapidamente tão logo a cerimônia se encerrou. De certo, sabia-se que antes do evento público houve um funeral privado, no cemitério Forest Lawn, em Hollywood, e que o cérebro e o pulmão do músico estão com o escritório do legista de Los Angeles, que ainda conduz exames para apontar a causa da morte.

"Rei do pop"
A cerimônia pública começou as 10h11 locais (14h11 de Brasília) com o músico Smokey Robinson lendo um texto de Nelson Mandela. Ao fundo, um telão com a foto de Jackson, os anos de nascimento (1958) e morte e o título, "rei do pop".
Era o mesmo palco onde o músico ensaiava o show que estrearia neste mês em Londres, marcaria sua volta aos palcos e, esperava ele, a estabilidade financeira, depois de anos de dívidas e um certo ostracismo. O "showneral" de ontem foi concebido por Kenny Ortega, o mesmo que comandava os ensaios até a morte de Jackson.
À parte o local escolhido, os milhares de presentes, a fama dos que tomavam o púlpito, o palco e o metal que cobria o caixão, o velório seguiu estrutura comum a cerimônias do tipo nos EUA, com toques da cultura afro-americana que ele negava parcialmente em vida e sem traços da religião original dos Jackson, Testemunha de Jeová, seguida hoje só pela mãe.
Um músico entoou uma canção religiosa, um pastor fez sermão, amigos relembraram a convivência, outra leu uma poesia. Mas eram respectivamente Lionel Richie, Al Sharpton, os esportistas Magic Johnson e Kobe Bryant e a cantora Queen Latifah, lendo texto feito especialmente para a ocasião pela poeta Maya Angelou.


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