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Fãs se despedem de Jackson em megafuneral
Na cerimônia, filha de 11 anos leva plateia às lágrimas ao dizer que o seu era "o melhor pai que se pode imaginar"
Entre o palco, em que
se revezavam músicos,
amigos, e o público,
estava o corpo do cantor
em caixão banhado a ouro
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
Com 20 mil pessoas na plateia e transmissão para o mundo inteiro, fãs, amigos e parentes de Michael Jackson se despediram do músico na manhã
de ontem, num ginásio em Los
Angeles. A cerimônia pública
foi estruturada como um típico
funeral de família negra norte-americana, mas realizada com
estrutura de megashow.
As pouco mais de duas horas
-nas quais se revezaram no
palco do Staples Center músicos, líderes religiosos, amigos e
membros da família- foram
encerradas com as palavras da
única filha de Jackson, Paris
Michael Katherine, de 11 anos,
um dos poucos aspectos de sua
vida que ele fazia questão de
manter longe do público.
"Eu só quero dizer que, desde
que eu nasci, o papai foi o melhor pai que se pode imaginar",
começou a menina, mexendo
no cabelo, vestidinho preto e
pele muito branca. Nas primeiras fileiras da plateia, formada
por celebridades como a atriz
Brooke Shields, o silêncio era
quebrado por uma onda de
choros soluçados. "Eu só quero
dizer que eu o amo tanto", concluiu, cercada pelos tios, e depois de ouvir carinhosamente
da tia Janet que falasse mais alto no microfone.
Foi o momento mais emocionante de um "showneral" que
começou com Mariah Carey e
Trey Lorenz cantando "I'll Be
There", um dos primeiros sucessos do grupo Jackson 5, do
final dos anos 60, e terminou
com todos no palco entoando
"We Are the World" e "Heal the
World", canções que marcaram
as maiores iniciativas beneficentes do músico.
Entre o palco e a plateia, iluminado por um canhão de luz,
estava o caixão que trazia o corpo do pai, morto aos 50 anos no
dia 25 último em circunstâncias não esclarecidas. Tinha sobre ele uma coroa de flores e,
segundo a imprensa local, era
banhado a ouro de 14 quilates.
O caixão ficou a dois passos
de onde os três filhos, os oito irmãos e os pais de Jackson estavam sentados, na primeira fileira. As irmãs e os pais vestiam
preto. Parte dos irmãos usava
gravata amarelo-ouro, como o
caixão, e uma luva branca na
mão direita, que foi uma das características visuais do músico.
Todos usavam óculos escuros.
No teatro ao lado, 6.500 pessoas assistiam a tudo por um
telão. Apesar de a área do ginásio estar fechada pela polícia,
pelo menos mil fãs sem ingresso tentavam furar o bloqueio,
no que eram vigiados por três
vezes o número de policiais.
Em 88 cinemas espalhados pelo país, a cerimônia era transmitida ao vivo. Na Times Square, de Nova York, os passantes
acompanhavam pelos telões.
Nas principais TVs abertas e
fechadas norte-americanas, a
programação normal havia sido interrompida e âncoras relatavam passo a passo o que se
desenrolava no palco. No mundo inteiro, os organizadores do
evento estimavam em cerca de
1 bilhão de pessoas o potencial
de espectadores.
Até a conclusão desta edição,
não estava claro o destino do
corpo de Jackson, retirado rapidamente tão logo a cerimônia
se encerrou. De certo, sabia-se
que antes do evento público
houve um funeral privado, no
cemitério Forest Lawn, em
Hollywood, e que o cérebro e o
pulmão do músico estão com o
escritório do legista de Los Angeles, que ainda conduz exames
para apontar a causa da morte.
"Rei do pop"
A cerimônia pública começou as 10h11 locais (14h11 de
Brasília) com o músico Smokey
Robinson lendo um texto de
Nelson Mandela. Ao fundo, um
telão com a foto de Jackson, os
anos de nascimento (1958) e
morte e o título, "rei do pop".
Era o mesmo palco onde o
músico ensaiava o show que estrearia neste mês em Londres,
marcaria sua volta aos palcos e,
esperava ele, a estabilidade financeira, depois de anos de dívidas e um certo ostracismo. O
"showneral" de ontem foi concebido por Kenny Ortega, o
mesmo que comandava os ensaios até a morte de Jackson.
À parte o local escolhido, os
milhares de presentes, a fama
dos que tomavam o púlpito, o
palco e o metal que cobria o caixão, o velório seguiu estrutura
comum a cerimônias do tipo
nos EUA, com toques da cultura afro-americana que ele negava parcialmente em vida e sem
traços da religião original dos
Jackson, Testemunha de Jeová, seguida hoje só pela mãe.
Um músico entoou uma canção religiosa, um pastor fez sermão, amigos relembraram a
convivência, outra leu uma
poesia. Mas eram respectivamente Lionel Richie, Al Sharpton, os esportistas Magic Johnson e Kobe Bryant e a cantora
Queen Latifah, lendo texto feito especialmente para a ocasião
pela poeta Maya Angelou.
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