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O DÂNDI NO PALCO
Para Sábato Magaldi, peças de João do Rio, que estão sendo publicadas, ainda dariam boas montagens
"Dandismo sério" marca teatro do autor
DA REPORTAGEM LOCAL
"Puxa vida, que ótima notícia.
Vão editar o teatro do João do
Rio!". Foi assim que Sábato Magaldi, um dos grandes nomes da
historiografia do teatro brasileiro,
recebeu a notícia de que as peças
do escritor carioca vão ser publicadas pela primeira vez.
Em seu clássico "Panorama do
Teatro Brasileiro", o crítico dá papel importante para as comédias
de costume do autor. Hoje, 40
mais tarde, ele diz que pelo menos
duas peças do escritor ainda renderiam boas montagens: "Eva" e
"A Bela Madame Vargas".
Os dois grandes "hits" de João
do Rio nos palcos paulistanos e
cariocas estão anexados a quatro
outros textos menos conhecidos
no volume "Dramaturgos do Brasil": "Última Noite", "Que Pena
Ser Só Ladrão", "Encontro" e
"Um Chá das Cinco".
"Reunimos todas as peças que
estão hoje localizadas de João do
Rio. Pode-se dizer que é seu teatro
completo", diz o organizador da
coleção "Dramaturgos do Brasil",
João Roberto Faria.
Professor de literatura da Universidade de São Paulo, ele afirma
que a escolha do dândi carioca para a première da série da Martins
Fontes (junto com volume de
Aluísio Azevedo) foi orientada
pelo ineditismo do trabalho.
As peças só haviam tido edições
no início do século ou em revistas
de circulação restrita, como a da
Sociedade Brasileira de Autores
Teatrais (organização que, segundo João Carlos Rodrigues, biógrafo do escritor, teve João do Rio como o primeiro presidente).
"A idéia é colocar ao alcance do
leitor brasileiro a produção dos
dramaturgos do século 19 e depois nomes mais consagrados ou
inéditos à espera de reavaliação",
conta Roberto Faria.
Da produção teatral de João do
Rio, o pesquisador sublinha a ironia, a habilidade para diálogos e
elasticidade estilística. "Ainda
com o codinome Paulo Barreto,
ele começa defendendo o naturalismo no teatro. Pouco depois, já é
um autor simbolista. E a consagração veio com as comédias de
costume", opina.
Orna Levin, que organizou o volume de peças, salienta a capacidade de crítica de João do Rio ao
ambiente elegante com o qual ele
convivia e que servia de cenário
para suas peças. "Ele era dândi,
mas não um esnobe alienado."
A opinião coincide com a de Sábato Magaldi, que também reforça o "dandismo sério" do autor.
"Ele foi uma espécie de Oscar
Wilde brasileiro. Como ele, nutria
o gosto do paradoxo e pelas frases
de efeito brilhantes, em um trabalho conjugado com uma idéia de
profunda seriedade e valorizando
o que havia de mais autêntico nos
personagens", diz à Folha.
Wilde era de fato o predileto do
escritor, como atesta o biógrafo
João Carlos Rodrigues. "O seu
teatro vem em grande parte de
Oscar Wilde. Inspirado no autor,
de quem traduziu diversos textos,
João do Rio foi o primeiro a fazer
a chamada comédia sofisticada
no país", opina o pesquisador,
que reforça a admiração do dândi
pelo homossexualismo assumido
do autor irlandês.
Da produção contística, Rodrigues salienta a morbidez. "Eles
mexem com minorias sexuais, estados exacerbados de pessoas que
podem estar drogadas, perturbadas por um cheiro, obcecadas
com algo", afirma o autor do prefácio de "Dentro da Noite", relançado pela editora Antiqua.
Esse livro faz o elo entre os outros projetos envolvendo João do
Rio. É dele que foram tirados os
dois contos usados para montagem de espetáculo teatral de Marcus Alvisi (leia ao lado). O mesmo
livro é um dos títulos incluídos na
"estante eletrônica" que a Biblioteca Nacional pôs recentemente
na internet (www.bn.br), para
downloads gratuitos.
(CEM)
DENTRO DA NOITE. Autor: João do Rio.
Editora: Antiqua (tel. 0/xx/11/6244-7806). R$ 25 (200 págs.)
JOÃO DO RIO - DRAMATURGOS DO
BRASIL. Organização: João Roberto
Faria (coleção) e Orna Messer Levin
(volume João do Rio). Editora: Martins
Fontes (tel. 0/xx/11/3241-3677).
Quanto: preço não definido
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