São Paulo, quinta-feira, 08 de agosto de 2002

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O DÂNDI NO PALCO

Para Sábato Magaldi, peças de João do Rio, que estão sendo publicadas, ainda dariam boas montagens

"Dandismo sério" marca teatro do autor

DA REPORTAGEM LOCAL

"Puxa vida, que ótima notícia. Vão editar o teatro do João do Rio!". Foi assim que Sábato Magaldi, um dos grandes nomes da historiografia do teatro brasileiro, recebeu a notícia de que as peças do escritor carioca vão ser publicadas pela primeira vez.
Em seu clássico "Panorama do Teatro Brasileiro", o crítico dá papel importante para as comédias de costume do autor. Hoje, 40 mais tarde, ele diz que pelo menos duas peças do escritor ainda renderiam boas montagens: "Eva" e "A Bela Madame Vargas".
Os dois grandes "hits" de João do Rio nos palcos paulistanos e cariocas estão anexados a quatro outros textos menos conhecidos no volume "Dramaturgos do Brasil": "Última Noite", "Que Pena Ser Só Ladrão", "Encontro" e "Um Chá das Cinco".
"Reunimos todas as peças que estão hoje localizadas de João do Rio. Pode-se dizer que é seu teatro completo", diz o organizador da coleção "Dramaturgos do Brasil", João Roberto Faria.
Professor de literatura da Universidade de São Paulo, ele afirma que a escolha do dândi carioca para a première da série da Martins Fontes (junto com volume de Aluísio Azevedo) foi orientada pelo ineditismo do trabalho.
As peças só haviam tido edições no início do século ou em revistas de circulação restrita, como a da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (organização que, segundo João Carlos Rodrigues, biógrafo do escritor, teve João do Rio como o primeiro presidente).
"A idéia é colocar ao alcance do leitor brasileiro a produção dos dramaturgos do século 19 e depois nomes mais consagrados ou inéditos à espera de reavaliação", conta Roberto Faria.
Da produção teatral de João do Rio, o pesquisador sublinha a ironia, a habilidade para diálogos e elasticidade estilística. "Ainda com o codinome Paulo Barreto, ele começa defendendo o naturalismo no teatro. Pouco depois, já é um autor simbolista. E a consagração veio com as comédias de costume", opina.
Orna Levin, que organizou o volume de peças, salienta a capacidade de crítica de João do Rio ao ambiente elegante com o qual ele convivia e que servia de cenário para suas peças. "Ele era dândi, mas não um esnobe alienado."
A opinião coincide com a de Sábato Magaldi, que também reforça o "dandismo sério" do autor. "Ele foi uma espécie de Oscar Wilde brasileiro. Como ele, nutria o gosto do paradoxo e pelas frases de efeito brilhantes, em um trabalho conjugado com uma idéia de profunda seriedade e valorizando o que havia de mais autêntico nos personagens", diz à Folha.
Wilde era de fato o predileto do escritor, como atesta o biógrafo João Carlos Rodrigues. "O seu teatro vem em grande parte de Oscar Wilde. Inspirado no autor, de quem traduziu diversos textos, João do Rio foi o primeiro a fazer a chamada comédia sofisticada no país", opina o pesquisador, que reforça a admiração do dândi pelo homossexualismo assumido do autor irlandês.
Da produção contística, Rodrigues salienta a morbidez. "Eles mexem com minorias sexuais, estados exacerbados de pessoas que podem estar drogadas, perturbadas por um cheiro, obcecadas com algo", afirma o autor do prefácio de "Dentro da Noite", relançado pela editora Antiqua.
Esse livro faz o elo entre os outros projetos envolvendo João do Rio. É dele que foram tirados os dois contos usados para montagem de espetáculo teatral de Marcus Alvisi (leia ao lado). O mesmo livro é um dos títulos incluídos na "estante eletrônica" que a Biblioteca Nacional pôs recentemente na internet (www.bn.br), para downloads gratuitos. (CEM)


DENTRO DA NOITE. Autor: João do Rio. Editora: Antiqua (tel. 0/xx/11/6244-7806). R$ 25 (200 págs.)

JOÃO DO RIO - DRAMATURGOS DO BRASIL. Organização: João Roberto Faria (coleção) e Orna Messer Levin (volume João do Rio). Editora: Martins Fontes (tel. 0/xx/11/3241-3677). Quanto: preço não definido




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