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CINEMA/ESTRÉIA
"VOANDO ALTO"
A atriz Gwyneth Paltrow vive mulher que tenta carreira como comissária de bordo em comédia romântica
Apesar do título, Barreto nem chega a decolar
Divulgação
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Gwyneth Paltrow (à esq.) como a protagonista ambiciosa de "Voando Alto", comédia romântica do brasileiro Bruno Barreto que estréia hoje em São Paulo |
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se tivesse sido dirigido por Donald Petrie ("Miss Simpatia")
ou Roger Kumble ("Tudo para Ficar com Ele"), "Voando Alto" seria só ruim, como a maioria das
comédias românticas ligeiras
hollywoodianas -e nem é o caso
de desprezar totalmente o gênero,
que já nos deu ótimos filmes como "Harry e Sally", "Uma Linda
Mulher" e "Quatro Casamentos e
um Funeral".
O problema é que "Voando Alto" ("View from the Top"), que
estréia hoje em São Paulo, é dirigido pelo brasileiro Bruno Barreto.
É o mesmo Bruno Barreto, 48,
que comandou "Dona Flor e Seus
Dois Maridos" (1976), um dos
maiores sucessos de bilheteria do
cinema nacional, e "O Que É Isso,
Companheiro" (1997), sobre episódio importante da história recente nacional. É também o mesmo Bruno Barreto que é o primogênito do clã Barreto, que influencia o cinema local há décadas, formado pelo Luiz Carlos, Lucy e o
caçula Fábio.
Julgado apenas por seu resultado, "Voando Alto" decepciona.
Conta a história de Donna Jensen
(Gwyneth Paltrow), menina do
interior que se cansa de sua vida
de perdedora, com a mãe ex-dançarina de boate no quarto marido,
e tenta carreira como comissária
de bordo, depois de se inspirar
pela vida de Sally Weston (Candice Bergen), uma espécie de Lair
Ribeiro das comissárias de bordo.
No caminho, conhece e se apaixona por Ted (Mark Ruffalo), que
vai complicar tudo.
Mas falta alma. Meia hora passada, e o espectador se vê torcendo mais pelo fim do filme do que
para que a incansável corrida de
Donna rumo ao sucesso e ao
amor perfeito dê certo. O roteiro
do novato Eric Wald é tão esquemático e previsível que parece tirado de um curso de cinema em
dez lições. E Gwyneth Paltrow está burocrática, parecendo contrariada (disse a mídia que a atriz se
referia ao filme como "View from
my Ass", "vista da minha bunda",
pelo figurino exíguo).
Julgado como um filme dirigido
por um cineasta brasileiro,
"Voando Alto" é um espanto. Daria um prato cheio para psicanalistas, por sua luta em parecer
mais norte-americano que o mais
norte-americano dos norte-americanos e em não revelar NENHUM detalhe de sua origem
tropical, um vício que acomete alguns patrícios que se expatriam
nos EUA, onde Bruno Barreto vive com a mulher, a atriz Amy Irving, e os filhos há alguns anos.
Para não dizer que foi tudo em
vão, dois aspectos seguram o filme. O primeiro é a trilha sonora,
propositadamente brega no último, com "Don't Stop Believing",
do Journey, "Living on a Prayer",
do Bon Jovi, arranjos de "Time
After Time", e outras.
O outro é a participação infelizmente pequena de Mike Myers
(de "Austin Powers") como um
instrutor impossivelmente estrábico. De chorar de rir suas micagens e a fotomontagem de sua
prateleira, que traz fotos do personagem com outros vesgos famosos, como Marty Feldman, Peter Falk e Sammy Davis Jr.
Voando Alto
View from the Top
Produção: EUA, 2003
Direção: Bruno Barreto
Com: Gwyneth Paltrow, Mark Ruffalo,
Mike Myers, Christina Applegate
Quando: a partir de hoje nos cines
Interlagos, Metrô Santa Cruz, Central
Plaza e circuito
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