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São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2003

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CINEMA/ESTRÉIA

"VOANDO ALTO"

A atriz Gwyneth Paltrow vive mulher que tenta carreira como comissária de bordo em comédia romântica

Apesar do título, Barreto nem chega a decolar

Divulgação
Gwyneth Paltrow (à esq.) como a protagonista ambiciosa de "Voando Alto", comédia romântica do brasileiro Bruno Barreto que estréia hoje em São Paulo


SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se tivesse sido dirigido por Donald Petrie ("Miss Simpatia") ou Roger Kumble ("Tudo para Ficar com Ele"), "Voando Alto" seria só ruim, como a maioria das comédias românticas ligeiras hollywoodianas -e nem é o caso de desprezar totalmente o gênero, que já nos deu ótimos filmes como "Harry e Sally", "Uma Linda Mulher" e "Quatro Casamentos e um Funeral".
O problema é que "Voando Alto" ("View from the Top"), que estréia hoje em São Paulo, é dirigido pelo brasileiro Bruno Barreto.
É o mesmo Bruno Barreto, 48, que comandou "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976), um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional, e "O Que É Isso, Companheiro" (1997), sobre episódio importante da história recente nacional. É também o mesmo Bruno Barreto que é o primogênito do clã Barreto, que influencia o cinema local há décadas, formado pelo Luiz Carlos, Lucy e o caçula Fábio.
Julgado apenas por seu resultado, "Voando Alto" decepciona. Conta a história de Donna Jensen (Gwyneth Paltrow), menina do interior que se cansa de sua vida de perdedora, com a mãe ex-dançarina de boate no quarto marido, e tenta carreira como comissária de bordo, depois de se inspirar pela vida de Sally Weston (Candice Bergen), uma espécie de Lair Ribeiro das comissárias de bordo. No caminho, conhece e se apaixona por Ted (Mark Ruffalo), que vai complicar tudo.
Mas falta alma. Meia hora passada, e o espectador se vê torcendo mais pelo fim do filme do que para que a incansável corrida de Donna rumo ao sucesso e ao amor perfeito dê certo. O roteiro do novato Eric Wald é tão esquemático e previsível que parece tirado de um curso de cinema em dez lições. E Gwyneth Paltrow está burocrática, parecendo contrariada (disse a mídia que a atriz se referia ao filme como "View from my Ass", "vista da minha bunda", pelo figurino exíguo).
Julgado como um filme dirigido por um cineasta brasileiro, "Voando Alto" é um espanto. Daria um prato cheio para psicanalistas, por sua luta em parecer mais norte-americano que o mais norte-americano dos norte-americanos e em não revelar NENHUM detalhe de sua origem tropical, um vício que acomete alguns patrícios que se expatriam nos EUA, onde Bruno Barreto vive com a mulher, a atriz Amy Irving, e os filhos há alguns anos.
Para não dizer que foi tudo em vão, dois aspectos seguram o filme. O primeiro é a trilha sonora, propositadamente brega no último, com "Don't Stop Believing", do Journey, "Living on a Prayer", do Bon Jovi, arranjos de "Time After Time", e outras.
O outro é a participação infelizmente pequena de Mike Myers (de "Austin Powers") como um instrutor impossivelmente estrábico. De chorar de rir suas micagens e a fotomontagem de sua prateleira, que traz fotos do personagem com outros vesgos famosos, como Marty Feldman, Peter Falk e Sammy Davis Jr.


Voando Alto
View from the Top
 
Produção: EUA, 2003
Direção: Bruno Barreto
Com: Gwyneth Paltrow, Mark Ruffalo, Mike Myers, Christina Applegate
Quando: a partir de hoje nos cines Interlagos, Metrô Santa Cruz, Central Plaza e circuito



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