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São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2003

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MÚSICA

ADEUS, SWING

Divulgação
A big band em show no festival Sónar 2003, realizado em Barcelona



Matthew Herbert subverte jazz e eletrônica ao usar big band "real" em colagens sonoras


DO "INDEPENDENT"

O inglês Matthew Herbert, 29, imprimiu uma marca radical à musica eletrônica ao descartar samples de outros artistas e substituí-los por sons estomacais, estalos de dedos e ranger de dentes ao compor.
Em seu projeto atual, que resultou no disco "Goodbye Swingtime", Herbert usa seu talento para a manipulação sonora numa escala bem mais grandiosa. Sua Matthew Herbert Big Band, de 20 integrantes, inclui músicos centrais da cena jazzística do Reino Unido, tais como os saxofonistas Dave O'Higgins, Martin Williams e Nigel Hitchcock, o pianista Michael Garrick e o baixista Dave Green.
O esforço admirável desses músicos é o ponto de partida para as colagens extravagantes de Herbert, que capta o som da banda e o remodela por meio de seu computador, usando os jazzistas como uma biblioteca de samples em tempo real.
Embora haja esse tratamento sonoro, boa parte da música que resulta desse processo pode ser apresentada ao vivo pela maior parte das orquestras de jazz contemporâneas. De fato, isso já começou a acontecer com as apresentações da big band numa série de festivais de prestígio.
A estréia da banda ao vivo foi no festival de Montreux do ano passado. Depois, ela se apresentou no Japão e na Europa. Herbert também tocou em junho no festival Sónar, em Barcelona. "Foi meio como a minha formatura", ele diz. "Estive no festival em quase todos os anos desde 96, fazendo coisas em formatos diferentes, sob nomes diferentes, por razões diversas. Neste ano, fui o único artista nesse show deslumbrante para 2.000 pessoas, com lugares sentados e venda antecipada de ingressos. E foi tudo vendido tão rápido que tivemos de marcar outro show, que também lotou. Foi o momento em que senti que a minha versão da música eletrônica tinha encontrado o seu lugar, como se ela tivesse o direito de ser considerada em pé de igualdade com outros tipos de música apresentados naquele palco."
Herbert, contudo, não quer que sua música seja fácil demais. "Não quero que as pessoas entendam o que está acontecendo ao ouvir a primeira canção."
Talvez por isso as apresentações da big band venham se modificando a cada show. "A banda conhece bem mais a música e consegue tocá-la de de um jeito diferente. Mas não há muito espaço para a improvisação dentro de uma big band, pois todos têm de saber o que irá acontecer. Ao vivo, sou o único que realmente improvisa."

"Work in progress"
As composições de Herbert parecem ser sempre um "work in progress". "É legal ter a idéia de música como uma coisa mais viva. Estou envolvido com a composição de canções há bastante tempo", diz Herbert. "Particularmente com a dos anos 30 e 40, mas não sou, categoricamente, um músico de jazz. Eu ficaria com muita vergonha se tivesse de tocar em um show de jazz normal. Toquei piano e violino por 15 anos, começando aos quatro. A primeira banda em que toquei foi uma big band, então isso mostra que eu não tinha medo do gênero. Era uma banda no estilo Glenn Miller e, nessa época, eu toquei um monte de coisas clássicas e excursionei com orquestras. Mas, desde cedo, percebi as minhas limitações como músico. Estava mais interessado em composição e em computadores, e na revolução permitida pela tecnologia. Preciso tocar piano apenas uma vez para colocar a música no meu computador. Quando você escreve a música, passa por um processo muito mais pensado, que requer esmero."
Consequentemente, Herbert tende a improvisar na edição, muitas vezes inspirado pela teoria do acaso. Ele esteve imerso no método eletroacústico desde o princípio, quando ele gravava como Wishmountain.
Para escapar das armadilhas da tecnologia, Herbert lançou um manifesto similar ao do Dogma do cinema de Lars von Trier, em que não permite o uso de sinais pré-gravados. "Quando eu entro no estúdio, as máquinas estão vazias -os samples, o computador. Assim que eu começo a colocar os barulhos para dentro do computador, o processo de composição começa a se desenhar. É o momento em que eu tenho de decidir quais rumos tomar, qual será a ordem das coisas, o tom, a melodia. Esse é um processo natural de composição para quem faz música acústica. Mas, para quem trabalha com música eletrônica, essas coisas ainda são muito definidas pela tecnologia."

Tradução Guilherme Werneck


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