São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2008

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Mostra exibe destaques do cinema mudo

Melhor do que a primeira, segunda edição do evento homenageia Japão a partir de hoje na Cinemateca

DO CRÍTICO DA FOLHA

Para que não reste qualquer dúvida, convém esclarecer que, quando se ouvir a expressão "cinema silencioso" nas duas salas da Cinemateca Brasileira ou em seus arredores, nos próximos dias, se estará falando é do velho e bom cinema mudo.
Superado esse mal-entendido, o único a que pode induzir a 2ª Jornada do Cinema Silencioso, que começa hoje, o cinéfilo vai se deparar com um painel de filmes notável, provavelmente o mais revelador do ano.
Em relação à jornada de 2007, primeira do gênero, a evolução é evidente. Assim como no ano passado veio uma seleção do norte-americano Ben Singer, destaa vez é o historiador australiano Paolo Cherchi Usai quem propõe uma seleção de filmes, aí incluídos "A Trindade Maldita" (1925), de Tod Browning, "A Noite da Vingança" (1916), de Benjamin Christensen (o mesmo de "A Feitiçaria Através dos Tempos") e "Solidão" (1928), do húngaro Paul Fejos.
Cherchi Usai também faria uma conferência no evento, amanhã, mas precisou cancelá-la "por motivos profissionais".

Centenário da imigração
Para muitos, o essencial da seleção virá do Japão, homenageado em vista do centenário da imigração. De lá, virá o filme inaugural da mostra, "Policial" (1933), em que Tomu Uchida maneja a linguagem do policial com desenvoltura. Seguem-se dois Mizoguchis, "Terra Natal" (1930) e "A Marcha de Tóquio" (1929). Ainda entre os grandes clássicos que nos são razoavelmente familiares, virão curtas de Yasujiro Ozu. O mais surpreendente talvez venha de cineastas menos conhecidos, como Tomotaka Tasaka, de "A Cidade do Amor" (1928), e Minoru Murata, de "A Sereia" (1933).
Que não nos confundam as datas: o cinema mudo seguiu impávido no Japão até meados dos anos 30, em boa parte devido à popularidade dos "benshi", que narravam os filmes para a platéia, junto com a música.
Parte importante da programação é dedicada aos 80 anos da revista "Fan", em torno da qual se reuniram nomes como Octávio de Faria, Plínio Sussekind da Rocha, Josué de Castro, animadores do Chaplin-Club do Rio, talvez o principal foco do pensamento cinematográfico no Brasil, naquele momento.

Clássicos nacionais
A proposta dos filmes defendidos pelo grupo do "Fan" vem cheia de clássicos nacionais -"Braza Dormida" (1928, na grafia original), de Humberto Mauro, em cópia nova, e "Limite" (1931), de Mário Peixoto- e estrangeiros- americanos como "O Grande Desfile" (1925), de King Vidor, e "Aurora" (1927), de F.W. Murnau, ou alemães, como "Varieté" (1926), de Dupont, entre outros. Que isso não leve a pensar que a proposta mexicana para o encontro, "O Punho de Ferro" (1927), de Gabriel García Moreno, seja desprezível, nem as sugestões do Festival de Pordenone, como "Lucky Star" (1929), de Frank Borzage.
Se tudo isso leva a prever uma temporada cheia para cinéfilos e pesquisadores, resta lembrar que algumas mesas de debates complementam o evento, que mais uma vez vai se servir de acompanhamento musical ao vivo para os filmes. Nem sempre, diga-se, porque, como lembra o coordenador do evento, Paulo Roberto de Souza, alguns filmes virão com suas bandas de som originais ("Terra Natal", "Aurora").
(INÁCIO ARAUJO)



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