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Mostra exibe destaques do cinema mudo
Melhor do que a primeira, segunda edição do evento homenageia Japão a partir de hoje na Cinemateca
DO CRÍTICO DA FOLHA
Para que não reste qualquer
dúvida, convém esclarecer que,
quando se ouvir a expressão
"cinema silencioso" nas duas
salas da Cinemateca Brasileira
ou em seus arredores, nos próximos dias, se estará falando é
do velho e bom cinema mudo.
Superado esse mal-entendido, o único a que pode induzir a
2ª Jornada do Cinema Silencioso, que começa hoje, o cinéfilo vai se deparar com um painel de filmes notável, provavelmente o mais revelador do ano.
Em relação à jornada de
2007, primeira do gênero, a
evolução é evidente. Assim como no ano passado veio uma
seleção do norte-americano
Ben Singer, destaa vez é o historiador australiano Paolo Cherchi Usai quem propõe uma seleção de filmes, aí incluídos "A
Trindade Maldita" (1925), de
Tod Browning, "A Noite da
Vingança" (1916), de Benjamin
Christensen (o mesmo de "A
Feitiçaria Através dos Tempos") e "Solidão" (1928), do
húngaro Paul Fejos.
Cherchi Usai também faria
uma conferência no evento,
amanhã, mas precisou cancelá-la "por motivos profissionais".
Centenário da imigração
Para muitos, o essencial da
seleção virá do Japão, homenageado em vista do centenário
da imigração. De lá, virá o filme
inaugural da mostra, "Policial"
(1933), em que Tomu Uchida
maneja a linguagem do policial
com desenvoltura. Seguem-se
dois Mizoguchis, "Terra Natal"
(1930) e "A Marcha de Tóquio"
(1929). Ainda entre os grandes
clássicos que nos são razoavelmente familiares, virão curtas
de Yasujiro Ozu. O mais surpreendente talvez venha de cineastas menos conhecidos, como Tomotaka Tasaka, de "A Cidade do Amor" (1928), e Minoru Murata, de "A Sereia" (1933).
Que não nos confundam as
datas: o cinema mudo seguiu
impávido no Japão até meados
dos anos 30, em boa parte devido à popularidade dos "benshi",
que narravam os filmes para a
platéia, junto com a música.
Parte importante da programação é dedicada aos 80 anos
da revista "Fan", em torno da
qual se reuniram nomes como
Octávio de Faria, Plínio Sussekind da Rocha, Josué de Castro,
animadores do Chaplin-Club
do Rio, talvez o principal foco
do pensamento cinematográfico no Brasil, naquele momento.
Clássicos nacionais
A proposta dos filmes defendidos pelo grupo do "Fan" vem
cheia de clássicos nacionais
-"Braza Dormida" (1928, na
grafia original), de Humberto
Mauro, em cópia nova, e "Limite" (1931), de Mário Peixoto- e
estrangeiros- americanos como "O Grande Desfile" (1925),
de King Vidor, e "Aurora"
(1927), de F.W. Murnau, ou alemães, como "Varieté" (1926),
de Dupont, entre outros. Que
isso não leve a pensar que a
proposta mexicana para o encontro, "O Punho de Ferro"
(1927), de Gabriel García Moreno, seja desprezível, nem as sugestões do Festival de Pordenone, como "Lucky Star"
(1929), de Frank Borzage.
Se tudo isso leva a prever
uma temporada cheia para cinéfilos e pesquisadores, resta
lembrar que algumas mesas de
debates complementam o
evento, que mais uma vez vai se
servir de acompanhamento
musical ao vivo para os filmes.
Nem sempre, diga-se, porque,
como lembra o coordenador do
evento, Paulo Roberto de Souza, alguns filmes virão com suas
bandas de som originais ("Terra Natal", "Aurora").
(INÁCIO ARAUJO)
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