São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2008

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Grupo 2000 e Oito relê a pintura nos dias atuais

Jovens artistas de SP expõem em coletiva que vai do convencional ao estranho

Obras tentam reafirmar o estilo de pintura no século 21, que é, em grande parte, baseado na tecnologia e na velocidade dessa época


SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Pela liberdade de poder "chutar cachorro morto", toda geração de artistas volta à pintura quando o suporte tem sua morte declarada -algo que costuma acontecer em ciclos na história da arte. Os nomes reunidos no chamado grupo 2000 e Oito, todos jovens pintores paulistas com obras expostas em coletiva em cartaz no Sesc Pinheiros, tentam reafirmar a pintura no século 21, em grande parte à luz da tecnologia e da velocidade. Não parece muito original, mas serve como possível introdução à mostra a obra de Marcos Brias, 27, que faz, numa tela, uma espécie de inventário das técnicas contemporâneas de pintura. "A pintura está em crise hoje, mas é uma crise gostosa", diz Brias. "Talvez seja mais legal trabalhar nesse momento porque tem a liberdade de chutar cachorro morto." E isso dá margem para algo mais ousado. Regina Parra, 27, mostra sete telas feitas a partir de imagens capturadas por circuitos internos de televisão. "Me interessava pegar algo superefêmero, descartável e trazer para a pintura a óleo, que tem todo esse peso", diz Parra. Entre as imagens que ganham corpo no óleo sobre tela, está a visão furtiva do avião da TAM pousando em Congonhas momentos antes do acidente que matou 199 pessoas. Também há cenas do caso Isabella Nardoni e duas imagens em que a própria artista aparece flagrada pelas câmeras do prédio onde mora. "Todo mundo vira suspeito, vira culpado." E vira também forma ímpar, estranha. Rodrigo Bivar, 26, parte de fotografias para realizar a série "Moinho", duas meninas lado a lado. Vistas de baixo para cima em manchas de tinta maciça, elas escondem o rosto no alto do quadro e exibem os joelhos no meio da tela. "É uma perna, mas é ao mesmo tempo tronco, um negócio roliço, grande", descreve Bivar, que abre outra mostra amanhã, no Centro Cultural São Paulo. "É o corpo como campo de ação." Outro campo é o dos bichos mortos sobre estampas xadrez. Numa ironia pop com a tradição barroca e decorativa, Ana Elisa Egreja, 24, pinta um pavão branco pendurado pelas patas sobre um padrão geométrico alaranjado. "Eu gosto de Ingres, Delacroix, Matisse", diz Egreja. "Mas também tenho uma coleção de tecidos de onde eu tiro estampas." Rodolpho Parigi, 31, esquece a tradição, embora se encaixe no lema volta à pintura dos anos 80, e diz inventar um novo tipo de figuração. Suas telas são grandes manchas coloridas, de tons artificiais e textura viscosa-brilhante. "Quando eu olho uma cor na tela do computador, vou buscar uma tinta que tenha essa luz", diz Parigi. "É a vontade de fazer algo totalmente manual num mundo totalmente tecnológico."

2000 E OITO
Quando: de ter. a sex., das 11h às 21h30; sáb. e dom., das 10h às 18h30; até 5/10
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, tel. 3095-9400; livre)
Quanto: entrada franca



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