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"Poesia transforma dor em alegria estética", diz Gullar
ROBERTO KAZ
ENVIADO ESPECIAL A PARATY
Se a Flip fosse a Copa e os
autores, jogadores, o poeta
Ferreira Gullar, 79, teria
quem o representasse: Ronaldo Luiz Nazário de Lima.
Ronaldo é o jogador com
maior número de gols em Copas. Gullar é o autor com o
maior número de participações em Flips.
Há, no entanto, uma diferença crucial entre os dois.
Enquanto Ronaldo quer o
mundo, Gullar se contenta (e
muito) com a companhia de
seu gato, o vira-lata Gatinho.
Em sua terceira participação na Flip, o colunista da
Folha falou, ontem, de seu
gato, seus ossos (sim, os ossos também merecem poemas) e, claro, sua poesia.
Leu trechos de sua obra
mais famosa, o "Poema Sujo" (1976), produzido durante a ditadura, além de presentear a plateia com trechos
de poemas ainda não publicados. Ao final, foi aplaudido de pé pelo público que lotou a Tenda dos Autores.
Gullar contou histórias da
época em que fazia poemas
neoconcretos, em que as palavras não seguiam qualquer
tipo de regra sintática: "Quis
que a escrita nascesse com o
poema. Ninguém entendeu,
claro, porque a linguagem é
algo social".
Sobre a máxima de que
"fazer poema é um parto"
(também adotada por cineastas, atores, pintores e toda sorte de profissional das
humanas), disse: "Vocês estão cansados de ouvir poeta
dizendo que escrever é sofrimento. Mentira. É bom. O
poema até pode tratar de algo doído, mas ele transforma
dor em alegria estética".
Sobre qualquer forma de
engajamento literário, ensinou: "Não adianta fazer poesia ruim, engajada, para não
mudar nada. Se é para não
mudar nada, é preferível fazer boa poesia".
Como exemplo, contou a
história de quando foi procurado, na época em que trabalhava no "Jornal do Brasil",
para publicar um manifesto
sobre a "Poesia de Base".
"Falei que manifesto não
publicava, publicava poema.
Manifesto é coisa de político.
Promete e não faz. Resultado: nunca produziram um
único poema de base."
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