São Paulo, sexta, 8 de agosto de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GRAMADO
"For All" celebra o chiclete com banana

AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas

Uma esmerada produção sobre a presença americana no Nordeste durante a Segunda Guerra é o principal lançamento nacional do 25º Festival de Gramado - Cinema Latino e Brasileiro, que será aberto hoje à noite. "For All, O Trampolim da Vitória", reconstitui a revolução no cotidiano que atingiu a então pacata cidade de Natal (RN) a partir do estabelecimento da base militar americana de Parnamirim -ponto estratégico para cobrir o norte da África.
"A cultura americana foi incorporada. Isso está presente nos nomes, na língua, nos costumes", explica à Folha o pai do projeto e um de seus co-diretores, Luiz Carlos Lacerda, 50. A expressão americana "for all" (para todos) teria batizado como "forró" uma festa popular. É dessa lenda, lembrada por Lacerda na entrevista abaixo, concedida por escrito via e-mail, que o filme extraiu seu título.
O filme representa um raro caso de co-direção na produção brasileira recente. Lacerda, experiente diretor de mais de trinta curtas e três longas anteriores, entre os quais "Leila Diniz" (1987), trouxe para o projeto o premiado ator e diretor de teatro Buza Ferraz, 47. Além de estrear atrás das câmeras, Buza participa do filme como ator ao lado, entre outros, de Betty Faria, José Wilker e Paulo Gorgulho.
Orçado em R$ 6,2 milhões, o filme tem por co-produtores Hélio Ferraz ("Jango"), a Sky Light ("Tieta do Agreste") e a Bigdeni Filmes. A distribuição mundial é da Columbia Pictures. Depois do batismo de fogo em Gramado ("o público mais exigente do Brasil", segundo Lacerda), "For All" segue carreira nos festivais de Montreal, Havana e Washington antes da estréia comercial no verão.

Folha - Como nasceu "For All"?
Luiz Carlos Lacerda - Em 1987 fui ao Festival de Cinema de Natal com meu filme "Leila Diniz". Me deparei com a importante e visível influência da cultura americana em Natal. Eu tinha que escrever um outro projeto, que estava aprovado pela Embrafilme, "Surfista de Trem", um Romeu e Julieta suburbano. Aí veio o furacão alagoano (o ex-presidente Fernando Collor) e eu fui para Cuba, trabalhar na Escola de Cinema. Lá comecei a trabalhar num primeiro argumento e convidei o Buza para escrever comigo. Na volta, em 1993, nos dedicamos ao segundo tratamento, que depois foi desenvolvido pelo Joaquim Assis e muito mexido por nós. Nesse processo, convidei o Buza para dirigir comigo.
Folha - Por que o núcleo central tem uma família com um pai italiano, interpretado pelo José Wilker?
Lacerda - Em toda a pesquisa aparecia um italiano envolvido com espionagem. Achávamos que isso serviria para criar diversos conflitos e também homenagear os pobres e injustiçados italianos que dividem conosco a pizza de suas generosas mesas.
Folha - Quais foram os marcos culturais que ficaram da presença dos militares americanos na base de Parnamirim?
Lacerda - Principalmente o comportamento. O Nordeste é todo conservador. A Bahia, tida como libertária, é escravagista, faz folclore com a cultura dos negros e é careta. Os artistas de lá vivem fora. Natal, apesar de pequena, é cosmopolita e tranquila. Não quer ser Primeiro Mundo. A cultura dos americanos foi incorporada, houve troca. Chiclete com banana é diferente de querer fazer chiclete de banana. Isso está presente nos nomes, na língua e nos costumes.
Folha - Por que o título "For All, O Trampolim da Vitória"?
Lacerda - Não sou historiador nem filósofo, mas essa lenda de que a palavra "forró" vem dessa história com os americanos é no mínimo saborosa. E junta-se a outras, como os nomes -Usnave da Silva, por exemplo. Achei que era a cara do filme. Trampolim é como os americanos apelidaram Natal, pela proximidade estratégica da África e sua importância para a vitória dos Aliados.
Folha - Qual projeto você está desenvolvendo com Jorge Perugorría ("Morango e Chocolate")?
Lacerda - O projeto é baseado num argumento dele, desenvolvido por mim, que intitulei "Viva Sapato!". O roteiro está sendo escrito por Manolo Rodriguez, que escreveu o premiado "Madagascar", de Fernando Perez. Passa-se em Havana e no Rio nos dias atuais. Falaremos da semelhança dessas culturas. O socialismo tropical de lá, o capitalismo tropical daqui. Filmo no ano que vem.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.