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GRAMADO
"For All" celebra o chiclete com banana
AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas
Uma esmerada
produção sobre
a presença americana no Nordeste durante a
Segunda Guerra
é o principal
lançamento nacional do 25º Festival de Gramado
- Cinema Latino e Brasileiro, que
será aberto hoje à noite. "For All,
O Trampolim da Vitória", reconstitui a revolução no cotidiano que
atingiu a então pacata cidade de
Natal (RN) a partir do estabelecimento da base militar americana
de Parnamirim -ponto estratégico para cobrir o norte da África.
"A cultura americana foi incorporada. Isso está presente nos nomes, na língua, nos costumes", explica à Folha o pai do projeto e um
de seus co-diretores, Luiz Carlos
Lacerda, 50. A expressão americana "for all" (para todos) teria batizado como "forró" uma festa popular. É dessa lenda, lembrada por
Lacerda na entrevista abaixo, concedida por escrito via e-mail, que o
filme extraiu seu título.
O filme representa um raro caso
de co-direção na produção brasileira recente. Lacerda, experiente
diretor de mais de trinta curtas e
três longas anteriores, entre os
quais "Leila Diniz" (1987), trouxe
para o projeto o premiado ator e
diretor de teatro Buza Ferraz, 47.
Além de estrear atrás das câmeras,
Buza participa do filme como ator
ao lado, entre outros, de Betty Faria, José Wilker e Paulo Gorgulho.
Orçado em R$ 6,2 milhões, o filme tem por co-produtores Hélio
Ferraz ("Jango"), a Sky Light
("Tieta do Agreste") e a Bigdeni
Filmes. A distribuição mundial é
da Columbia Pictures. Depois do
batismo de fogo em Gramado ("o
público mais exigente do Brasil",
segundo Lacerda), "For All" segue carreira nos festivais de Montreal, Havana e Washington antes
da estréia comercial no verão.
Folha - Como nasceu "For All"?
Luiz Carlos Lacerda - Em 1987 fui
ao Festival de Cinema de Natal
com meu filme "Leila Diniz". Me
deparei com a importante e visível
influência da cultura americana
em Natal. Eu tinha que escrever
um outro projeto, que estava aprovado pela Embrafilme, "Surfista
de Trem", um Romeu e Julieta suburbano. Aí veio o furacão alagoano (o ex-presidente Fernando Collor) e eu fui para Cuba, trabalhar
na Escola de Cinema. Lá comecei a
trabalhar num primeiro argumento e convidei o Buza para escrever
comigo. Na volta, em 1993, nos dedicamos ao segundo tratamento,
que depois foi desenvolvido pelo
Joaquim Assis e muito mexido por
nós. Nesse processo, convidei o
Buza para dirigir comigo.
Folha - Por que o núcleo central
tem uma família com um pai italiano, interpretado pelo José Wilker?
Lacerda - Em toda a pesquisa
aparecia um italiano envolvido
com espionagem. Achávamos que
isso serviria para criar diversos
conflitos e também homenagear
os pobres e injustiçados italianos
que dividem conosco a pizza de
suas generosas mesas.
Folha - Quais foram os marcos
culturais que ficaram da presença
dos militares americanos na base
de Parnamirim?
Lacerda - Principalmente o comportamento. O Nordeste é todo
conservador. A Bahia, tida como
libertária, é escravagista, faz folclore com a cultura dos negros e é
careta. Os artistas de lá vivem fora.
Natal, apesar de pequena, é cosmopolita e tranquila. Não quer ser
Primeiro Mundo. A cultura dos
americanos foi incorporada, houve troca. Chiclete com banana é diferente de querer fazer chiclete de
banana. Isso está presente nos nomes, na língua e nos costumes.
Folha - Por que o título "For All,
O Trampolim da Vitória"?
Lacerda - Não sou historiador
nem filósofo, mas essa lenda de
que a palavra "forró" vem dessa
história com os americanos é no
mínimo saborosa. E junta-se a outras, como os nomes -Usnave da
Silva, por exemplo. Achei que era a
cara do filme. Trampolim é como
os americanos apelidaram Natal,
pela proximidade estratégica da
África e sua importância para a vitória dos Aliados.
Folha - Qual projeto você está
desenvolvendo com Jorge Perugorría ("Morango e Chocolate")?
Lacerda - O projeto é baseado
num argumento dele, desenvolvido por mim, que intitulei "Viva
Sapato!". O roteiro está sendo escrito por Manolo Rodriguez, que
escreveu o premiado "Madagascar", de Fernando Perez. Passa-se
em Havana e no Rio nos dias
atuais. Falaremos da semelhança
dessas culturas. O socialismo tropical de lá, o capitalismo tropical
daqui. Filmo no ano que vem.
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