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LIVROS/LANÇAMENTOS
"ARGO E SEU DONO"
Berlendis & Vertecchia reúne em volume exemplos de todas as fases da produção do autor
Coletânea de contos apresenta Italo Svevo múltiplo
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Italo Svevo (1861-1928) é ainda
pouco conhecido do público brasileiro, mas a difusão de sua literatura por aqui ganha uma contribuição na semana que vem: "Argo e Seu Dono", coletânea de contos selecionados pela editora paulista Berlendis & Vertecchia para
sua série Letras Italianas.
A introdução foi encomendada
a Elvio Guagnini, 61. O professor
da Universidade de Trieste -cidade onde nasceu Svevo, quase
no limite da Itália com a Áustria- é uma autoridade na obra
do autor. Svevista a partir dos
anos 70, desde 97 dirige, com Giuseppe Camerino, a revista anual
"Aghios", totalmente dedicada a
estudos svevianos.
Em seu texto introdutório ao
volume, que tem sete contos e
uma novela, Guagnini cumpre a
função de apresentar Svevo.
O professor não participou da
escolha dos escritos, mas a julga
bem feita e abrangente, não só por
cobrir cronologicamente todas as
épocas da produção de narrativa
breve de Svevo. Ele acha, também,
que os vários tipos de texto ajudam a compor um panorama da
obra do narrador.
"Há contos que elegem um momento fulminante; tem os que representam a realidade em tom de
fábula; outros, como "A Tribo",
que são uma espécie de apólogo;
há os que se fundamentam sobre
a consciência, misturando presente e passado; os de tipo "reportage", como "Nós do Bonde de Servola'; e ainda os que são psicologicamente muito complexos, da última fase do Svevo narrador, como "O Meu Ócio" e "A Novela do
Bom Velho e da Bela Jovem"."
Entre as características que
Guagnini mais frisa, está o vanguardismo do autor. Em termos
temáticos, diz, "a produção de
Svevo no século 19 já era afinada
com problemas de uma extraordinária modernidade".
"Em primeiro lugar, a questão
do homem engaiolado pelos mecanismos da rotina, que tem de
dar conta do ritmo imposto pela
realidade. E a reflexão sobre a incapacidade de inserção, ou mesmo a recusa a inserir-se."
Ele cita como bom exemplo o
segundo conto do livro, "O Assassinato da Via Belpoggio", "texto
de desconcertante modernidade,
não só pelo tom da narrativa, pelo
modo como emerge a consciência
da realidade, mas também porque o assassino é um burguês que
perdeu essa sua condição e espera
recuperá-la com o crime".
Ironicamente, a outra inovação
que Svevo representa foi justamente um traço rejeitado por
muitos de seus contemporâneos.
Em busca da limpeza formal, Svevo frequentemente era acusado
de não saber escrever.
"Quem o acusava de escrever
mal tinha como escrever bem
usar uma linguagem ornada. A
escritura de Svevo é "descuidada",
mas não porque não soubesse escrever. O que hoje nos parece
muito moderno em sua escrita é
essa capacidade de adaptar-se aos
vários registros da realidade."
ARGO E SEU DONO ("Argo e il Suo
Padrone", contos). De: Italo Svevo.
Editora: Berlendis & Vertecchia (tel. 0/
xx/11/ 3085-9583,
www.berlendis.com). Tradução:
Liliana Laganá. Apresentação: Elvio
Guagnini. Ilustrações: Hebe de Carvalho.
192 págs. R$ 26.
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