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Lyon elege cidade como tema
Bienal, que é referência mundial da dança contemporânea, reúne na França 40 companhias de 17 países
Mineiros da Mimulus, Companhia de Dança Urbana do Rio e Atelier de
Coreografia do Rio são os convidados brasileiros
ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS
Dez anos depois de consagrar
uma edição inteira ao Brasil e
quatro anos após uma versão
dedicada à América Latina, a
Bienal da Dança de Lyon volta a
receber coreógrafos brasileiros, em sua 12ª edição, que tem
as cidades como tema. O festival ocorre de amanhã ao dia 30
deste mês e é referência mundial no circuito da dança contemporânea. Apresentam-se
40 companhias de 17 países.
O diretor do evento francês, o
crítico e jornalista Guy Darmet,
privilegiou um ângulo temático, colocando em evidência as
relações entre a coreografia e a
arquitetura, as danças urbanas
e as cidades como espaços de
expressão social e cultural.
"A bienal seguiu, durante
anos, uma preocupação geográfica ou geopolítica, com edições
dedicadas à América Latina, à
Africa e ao Oriente. Neste ano,
o mundo inteiro é convidado.
Não há nações, mas sim cidades", afirma Darmet.
Entre os brasileiros presentes, há a Companhia de Dança
Urbana do Rio de Janeiro, criada pela coreógrafa Sônia Destri
e formada por jovens dançarinos vindos de favelas cariocas,
que se apresenta pela primeira
vez fora do Brasil, com o espetáculo "Ziriguidum Urbano". A
peça mistura capoeira, hip hop
e dança contemporânea.
Outro espetáculo bem sintonizado com o tema desta edição
é "Extracorpo", do coreógrafo
João Saldanha, do Atelier de
Coreografia do Rio de Janeiro,
um trabalho considerado original, inspirado na obra do arquiteto Oscar Niemeyer.
Fechando a participação brasileira, a Mimulus, do coreógrafo Jomar Mesquita, uma das raras companhias profissionais
de dança de salão do mundo,
apresenta "Do Lado Esquerdo
de Quem Sobe". "É um espetáculo contemporâneo, que mostra o resultado da urbanização
na dança e música brasileiras",
explica Mesquita.
Estréias mundiais
Uma das particularidades
deste ano é o número de estréias mundiais. "A Bienal se
volta, cada vez mais, à criação
contemporânea e ao apoio às
jovens companhias", afirma
Darmet. Entre as 15 companhias que estréiam peças no
evento, o Ballet da Ópera de
Lyon apresenta dois espetáculos inéditos dos coreógrafos
Rachid Ouramdane e Tere
O'Connor. Já a Companhia La
Maison, de Paris, exibe a peça
"Péplum", do jovem coreógrafo
Nasser Martin-Gousset.
"Temos grande expectativa
para a apresentação da recém-criada "Pokemon Crew", formada por bailarinos que descobrimos dançando nas periferias
de Lyon", comenta o diretor do
festival.
Outras companhias, com espetáculos bem originais, também terão a oportunidade de se
apresentar em solo europeu,
como a argentina Edgardo
Mercado, a colombiana L'Explose ou a australiana Force
Majeure. "Elas realizam um
trabalho excepcional sobre o
corpo e a imagem", comenta o
diretor do festival.
Idealista e defensor da dança
na Europa, Guy Darmet é também apreciador da dança brasileira. No início dos anos 90,
trouxe à Europa coreógrafos
como Lia Rodrigues, Márcia
Milhazes, Rodrigo Pederneiras, do grupo Corpo, e apoiou
jovens criadores, como Paulo
Caldas e Henrique Rodovalho.
No Rio, descobriu as escolas
de samba, que inspiram a criação do já tradicional "Défilé" da
Bienal, que, neste ano, deve
reunir 300 mil pessoas e 4.500
dançarinos nas ruas de Lyon.
"Chegamos perto do ideal de
levar a dança ao coração das cidades. Os espetáculos saem das
salas de teatro e ganham as
ruas, as praças e as estações de
metrô", afirma Darmet.
Difícil não associar a obra ao
idealizador do evento. A programação da Bienal da Dança
de Lyon reflete as escolhas feitas por um homem que, muito
além dos modismos e convenções artísticas, nunca abriu
mão da ousadia.
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