São Paulo, sexta-feira, 08 de setembro de 2006

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Cinema/crítica/"Serpentes a Bordo"

Samuel L. Jackson e cobras estrelam lixo cinematográfico

Divulgação
O ator Samuel L. Jackson em cena do hypado e pouco inventivo longa "Serpentes a Bordo"


CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

A categoria "trash" foi inventada algum dia para definir filmes que de tão ruins se tornam bons (ou são cultuados como tal). Mas a palavra, que em inglês significa lixo, aplica-se em seu pleno sentido original a "Serpentes a Bordo", de David R. Ellis.
O projeto de um filme de ação envolvendo um ataque de cobras assassinas em meio a um vôo provocou um burburinho típico da era da internet.
O mundo on-line ficou excitado com a idéia mais que absurda contida no título, espécie de cruzamento de filme-catástrofe e ameaças animais. Movida pelo hype, uma legião de versões e de adorações precoces circulou na rede antes mesmo de o filme chegar às telas.
Até diálogos inventados por internautas foram incorporados ao roteiro numa espécie de adaptação, pela indústria do cinema, do desenvolvimento de um produto com código aberto, tudo sob a égide do marketing, claro. Mas, diante do resultado na tela, a reação das bilheterias no verão americano foi só fria.
Confiante na eficácia do pavor da trama e na força dos efeitos especiais, o diretor conduz seu trabalho como um piloto automático. Passa longe de tentar emular os significados da fobia animal que Hitchcock fundou no pioneiro "Os Pássaros", não manipula os pavores da platéia como Spielberg explorou no memorável "Tubarão" nem mergulha na paródia sob a forma de ironia como Joe Dante em "Piranhas".
Todos os clichês do gênero são reciclados sem reinvenção: o casal lúbrico que oferece imagens de corpos malhados, a patricinha histérica, o bad boy atualizado na figura de um rapper fóbico, a aeromoça em seu último vôo que vira heroína e Samuel L. Jackson no papel de réplica malfeita de si mesmo.
Baseada numa única idéia (cobras soltas num avião), a produção é condenada a repetir ao longo da duração do filme o mesmo esquema dos ataques.
Diante das limitações das formas de agressão das vilãs, resta buscar variações físicas entre suas vítimas. E dá-lhe mordidas de cobras em peitos, pênis, olhos, braços, pernas...
Depois do enésimo ataque, o espectador pode até tirar um cochilo durante a sessão porque quando acordar não terá perdido nenhuma surpresa. Como um filme de terror sem sustos vale o mesmo que um filme de amor sem final feliz, resta dar ao espectador um conselho: poupe seu dinheiro.

SERPENTES A BORDO  
Direção: David R. Ellis
Produção: EUA, 2006
Com: Samuel L. Jackson, Rachel Blanchard, Julianna Margulies
Quando: em cartaz no Villa-Lobos, Iguatemi Playarte e circuito


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