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Comentário
Tambor bate computador no Perc Pan
SÉRGIO MALBERGIER
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
O Perc Pan é um dos melhores festivais do país. A começar
pelo improvável foco, a percussão. Um foco bem aberto, os artistas não precisam ser percussionistas, mas ressaltar a percussão em sua obra. Ou relê-la.
Ou simplesmente fazerem
música ousada, sintética, como
os americanos do Beirut, sensação independente que fechou a
noite de sexta em Salvador com
um show tumultuado (que você
pode ver no YouTube digitando
"beirut" e "álcool") e tensão roqueira no backstage.
Perto dessa primeira noite, a
segunda acabou mais normal, o
que eu nunca pensei escrever
sobre Airto Moreira e Flora Purim. A música do exilado casal,
um power instrumental brasileiro-jazzista com vocais saudosistas de um Brasil que não
existe mais, quase folclórico,
continua de alta qualidade.
Mas o "continua" suplanta a
"alta qualidade". E a sensação
de ouvir o conhecido só foi
rompida pela filha e pelo genro
do casal: Diana Moreira Booker
e Krishna Booker.
Diana arrepiou a plateia com
uma versão quase à capella do
clássico de Nina Simone "Feeling Good". "Quase" porque
Krishna entrou fazendo poderoso beatbox, com linha de baixo impressionante. Foi o momento alto, mas a revelação da
noite tinha vindo antes: o pandeirista e percussionista baiano Emerson Taquari.
Inventivo, inteligente, Taquari é prova da riqueza musical mesmo do mais comercial
dos ritmos baianos: o axé. Já tocou com Ivete e Daniela e é
grande instrumentista. Abriu
seu show com sete percussionistas levando samba em "Pau
Brasil", groovado e sutil. Depois, em "Trio Baiano", mostrou a riqueza melódica da
combinação percussiva do axé:
repique, timbau e surdo.
Essa noite teve ainda de notável o duelo dos pandeiristas
Andrea Piccioni, italiano, e o
nosso Marcos Suzano, curador
do festival. Foi uma noite de
muito mais raiz percussiva (e
por isso melhor) que a primeira, invadida por experimentos
tecnológicos. Mesmo interessantes, os tambores da Apple
ainda não balançam teatro como surdos e timbaus.
Para o ano que vem, a 17ª edição do Perc Pan, Beth Cayres,
sua idealizadora e realizadora,
já confirma o genial Stewart
Copeland, baterista do Police,
muito influente entre seus pares brasileiros. Depois de Salvador, o festival partiu para o Rio
e chega a São Paulo desidratado, na sexta, só com Beirut. Tomara que não se excitem tanto
na capital paulista e consigam
terminar o show.
O jornalista SÉRGIO MALBERGIER viajou a Salvador a convite do festival
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