São Paulo, quarta-feira, 08 de setembro de 2010

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Calle 13 faz show em São Paulo e dialoga com música brasileira

Após gravar com Maria Rita, grupo porto-riquenho vem ao país e sonha tocar com Caetano

Polêmico, líder da banda recusa o rótulo de "reggaeton alternativo" ou de "hip-hop latino" para o som do Calle 13


FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

René Pérez, o "Residente" da banda porto-riquenha Calle 13, diz que a estreia do grupo no Brasil, no dia 25 em São Paulo, vai ser com "pé direito", em sintonia com o abrasileirado CD que será lançado em outubro.
"A música brasileira é uma das primeiras influências da banda. Vamos começar a entrar nesse mercado com quem a gente gosta, que faz boa música. É uma felicidade", diz Residente.
O grupo porto-riquenho acaba de gravar faixa com Maria Rita para o novo CD "Detonación C-13". Sonha ainda, afirma o vocalista, em conseguir uma participação de Caetano Veloso.
Calle 13 e Maria Rita estão entre as atrações do festival TelefónicaSonidos, que começa em 21 de setembro no Jockey Club em São Paulo.
Estarão no palco artistas da cena latino-americana e brasileira, do cubano Pablo Milanés à paulistana Maria Gadú. A banda chega com alguns anos de atraso ao país.
Formada por Residente, 32, seu irmão de criação Eduardo Cabra, o "Visitante", 31, e com participação da irmã Ileana Cabra, Calle 13 estourou em 2005, com dois hits que explicam o apelo popular do grupo e seu lugar garantido no "red set", o Jet set de esquerda.
Naquele ano, quando já havia assinado um contrato com a Sony e gravava o primeiro CD, o Calle 13 lançou, pela internet, "Querido FBI", um rap de protesto pela morte de um ativista porto-riquenho durante uma operação policial no protetorado americano no Caribe. "Porto Rico livre", pede a canção.
O CD de estreia trouxe ainda "Atrevete-te", um reggaeton rasgado por um solo de clarinete e uma letra abusada: "O que me importa se você gosta de Coldplay?"
"Atrevete-te" é um hit até hoje nas discotecas, de Miami a Mar Del Plata, para dizer que é possível rir e rebolar até o chão ao mesmo tempo.
A mescla valeu ao grupo os rótulos de "reggaeton alternativo", "hip-hop latino". Residente rejeita os dois. "Seria injusto com meu irmão, que faz a pesquisa musical. E comigo, pelas letras e pelo conceito", explica.
"Tampouco me interessa fazer hip-hop. É muito real para minha realidade. Não é um clichê de rapper que está falando da favela. Tampouco é social. Há música para dançar e esquecer que se tem de pagar o aluguel. Falo da urbe, de tudo à minha volta."
À sua volta, neste momento, há sua namorada brasileira, que também ajuda a abrasileirar o novo disco. "Ela se chama Renata. É de Nova Bassano, no Rio Grande do Sul", diz Residente.

FREIRAS E CHÁVEZ
O single já lançado do novo disco, "Calma Pueblo", traz freiras que terminam nuas que valeram censura do clipe no YouTube. "Colocamos no nosso site e as pessoas estão vendo."
Mas a controvérsia está longe de ser a última do grupo. Em março, eles se apresentaram em Cuba, para protesto da comunidade de Miami. "Se toco nos EUA, o único país que já lançou uma bomba atômica, posso tocar em qualquer lugar", disse.
Em julho, foi a vez de Caracas, num show pago por uma prefeitura chavista. Chávez disse na TV que queria cantar Residente, mas o vocalista reclama do uso político de sua música. "Não cabe a mim dizer isso ou aquilo se não moro no país."
"Eu vi um anúncio que dizia: "O povo manda, o governo obedece" - uma frase de uma música que tirei de um cartaz de Chiapas, no México. Essa frase aparecia ao lado de uma foto minha. Parecia uma foto do partido [de Chávez]. Não gosto disso."


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