São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2011

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Filmes retratam tempos de crise em Veneza

Problemas políticos, sociais e ecológicos são os principais temas dos roteiros do festival

GABRIELA LONGMAN
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA

O noticiário conturbado da era contemporânea não passa incólume pelos cineastas.
No oitavo dia de festival, paira no ar quente veneziano uma proliferação de roteiros em torno de grandes acontecimentos de uma sociedade em tempos de crise.
Dois filmes italianos abordam a situação dos imigrantes clandestinos e sua relação com o governo.
"Terraferma", de Emanuele Crialese, acompanha a amizade de uma viúva italiana e uma clandestina que desembarca na ilha de Lampedusa. Já "Il Villagio di Cartone", exibido fora de competição, retrata um padre que esconde os recém-chegados da África na igreja.
O terremoto no Japão se tornou o pano de fundo para "Himizu"; o partido democrata, o foco de "Tudo pelo Poder" (George Clooney), e as condições de trabalho em minas de carvão chinesas permeiam "People Mountain People Sea", de Cai Shangjun.
O mundo acelera seu ritmo, a natureza parece desgovernada e o cinema tenta fazer algo a respeito.
Nesse sentido, Abel Ferrara apresentou seu apocalíptico "4:44 Last Day on Earth".
O filme narra as 24 últimas horas de um casal (Willem Dafoe e Shanyn Leigh) a partir da notícia de que o mundo vai acabar devido à destruição da camada de ozônio.
Embora parta de uma premissa ficcional, o filme é uma espécie de manifesto contra os rumos contemporâneos em relação ao planeta.
"Por que ninguém fez nada?", perguntam-se os protagonistas ao longo do filme, enquanto usam sucessivamente o Skype para suas últimas despedidas.
"Estamos tão preocupados com a nossa sobrevivência e com o nosso dia a dia. Quem tem tempo de se preocupar com a camada de ozônio?", perguntou Ferrara ontem, durante entrevista à Folha.
O cineasta disse que não se pode culpar a China ou a Índia de quererem viver seus "anos 50", referindo-se ao largo acesso a bens de consumo.
"Vendemos um sonho ligado ao consumo material. O fim do mundo vai chegar mais cedo ou mais tarde."
A esse grupo dos "engajados" nas questões centrais da atualidade opõe-se outro, que volta ao teatro e à literatura de clássicos, com atenção especial ao século 19.
Revisões sobre Oscar Wilde (com "Wilde Salome", de Al Pacino), Freud ("A Dangerous Method", de Cronenberg), Emily Brontë ("Morro dos Ventos Uivantes", de Andrea Arnold) ou Goethe (Sokurov apresenta "Fausto") estão em alta no festival.
Talvez exista um desejo secreto de buscar no século 19 as origens do caos desgovernado da atualidade.
Os dois tempos encontram-se agora em Veneza. É preciso esperar o sábado para ver qual deles sairá premiado.


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