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FESTIVAL DE VENEZA
Filme de Makhmalbaf é reeducação dos sentidos
AMIR LABAKI
enviado especial a Veneza
Prossegue ladeira abaixo a disputa pelo Leão de Ouro da 55ª
Mostra Internacional de Arte Cinematográfica de Veneza.
A ida cotidiana ao Palalido, a sala
das sessões oficiais para a imprensa, é a confirmação diária do triunfo da esperança sobre a experiência. A safra 1998 definitivamente
não ajuda.
O isolado concorrente latino-
americano, "A Nuvem", do argentino Fernando Solanas ("Tangos"), tenta hoje cancelar o tédio.
Tem a brasileira Angela Correa
no elenco, ao lado de Eduardo Pavlowsky e de Christophe Malavoy.
A comédia portuguesa "Tráfico",
de João Botelho, também se apresenta à noite para a disputa. É torcer.
O iraniano Mohsen Makhmalbaf
("Salve o Cinema") foi ontem a exceção, ainda que não totalmente
convincente. "O Silêncio" tem o
mérito do inconformismo. É uma
ode à vida e um chamado à reeducação dos sentidos.
A trama, como sempre na escola
iraniana, é esquelética e secundária. Na ex-república soviética do
Tadjiquistão, um menino cego
ajuda a sustentar a mãe trabalhando na afinação de instrumentos.
Seus constantes atrasos comprometem seu emprego exatamente
quando o proprietário pede de volta a casa em que vivem.
A cegueira permite a Makhmalbaf destacar o poder da música e a
poesia das cores.
Canções populares iranianas
mesclam-se com a introdução à
"Quinta Sinfonia" de Beethoven.
"O Silêncio" é uma espécie de
"Gabbeh" para os ouvidos.
Tudo iria bem se Makhmalbaf
apostasse na síntese. Seu filme é
curiosamente esticado, apesar de
durar não mais que 76 minutos.
A batalha pela "ressensibilização" do homem exige economia
-não reiteração. "O Silêncio" peca pelo excesso -mas se destaca,
dada a mediocridade reinante.
Os demais concorrentes dos últimos dias merecem quando muito
notas telegráficas. "I Piccoli Maestri" (Os Pequenos Mestres), de Daniele Luchetti, é uma visão melodramática e superficial de um grupo de jovens resistentes italianos
durante a Segunda Guerra.
Baseado num romance autobiográfico de Luigi Meneghello, é um
misto de "Sociedade dos Poetas
Mortos" e "Paisà", ainda que resulte a anos-luz de ambos.
Já "Hilary e Jackie", de Anand
Tucker, é uma exploração barata
do drama real da grande violoncelista Jacqueline Du Pré.
Fenômeno musical dos anos 60,
casada com o pianista argentino
Daniel Barenboim, Du Pré morreu
precocemente, vítima de esclerose
múltipla. Nem Emily Watson
("Ondas do Destino") evita o ridículo em mais essa caricatura do artista genial nos palcos e monstruoso fora deles.
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