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FREE JAZZ
Saxofonista se apresenta dias 16 (Rio) e 17 (SP); "'não se trata de ser melhor ou pior, mas de ser original"
Modesto, Redman rejeita "superlativos"
JUDE WEBBER
da Reuters, em Roma
Ele já foi descrito
como "o melhor saxofonista de sua geração". Mas o instrumentista californiano Joshua Redman, 30, não está interessado no
que qualifica como "superlativos
exagerados". "Essas descrições
não significam nada", disse após
um show recente em Roma. No
Brasil, ele toca no 14º Free Jazz
Festival, dias 16 (Rio) e 17 (São
Paulo) de outubro.
"Sinto-me honrado em saber
que alguma coisa na música que
faço toca as pessoas, a ponto de levá-las a me descrever com superlativos exagerados como esse.
Mas eu me vejo como um músico
jovem, nada mais. Espero, com o
tempo, conseguir desenvolver e
amadurecer meu som. Jazz quer
dizer discussão, aprendizado."
A modéstia de Redman esconde
uma virtuosidade técnica que o
impeliu diretamente para o centro das atenções, em 1991, quando
venceu um concurso de jazz e resolveu se tornar músico profissional. Mas, ao lado daqueles que
identificam ecos de John Coltrane
e Sonny Rollins em sua música, há
outros que criticam o que enxergam como tendência a tocar clássicos populares e optar pelo que é
seguro e não choca.
De fato, o álbum mais recente
de Redman, "Timeless Tales (for
Changing Times)", alimenta-se
das melodias familiares de Gershwin, Cole Porter, Bob Dylan, Stevie Wonder, Rodgers e Hammerstein e Beatles, como ponto de
partida para novas versões. Redman disse que esses standards do
jazz e clássicos da música pop lhe
dão a chance de colocar algo de
seu em canções que, para ele, possuem "beleza atemporal e infinitas possibilidades".
"Por exemplo, eu nunca poderia fazer algo tão bom em "Love
for Sale" quanto o que Miles Davis
fez. Sua versão foi a definitiva.
Não se trata de ser melhor ou pior,
mas de ser original."
Redman despreza os comentários segundo os quais toca melodias populares para agradar ao
grande público. "É mentira", disse. "Se alguém não gostar do que
faço, isso não é problema para
mim. Não sou vendedor. Não estou interessado em diluir minha
música ou adaptá-la para agradar
a um público determinado."
Apesar da reação ambígua que
teve "Timeless Tales" -os críticos elogiaram idéias e técnica,
mas acharam que as inovações
nem sempre funcionam bem- ,
Redman se disse satisfeito e afirmou que nessa gravação sua técnica atingiu seu ponto alto.
Com sua cabeça raspada e roupas fashion, Redman leva um glamour de clubber ao cenário jazz.
Ele dança, acompanhando um solo de piano, incentiva a platéia a
acompanhar um bis batendo palmas e dá socos no ar no final de
sua apresentação.
Nascido em Berkeley, Califórnia, sempre viveu cercado de música. Seu pai, o respeitado saxofonista Dewey Redman, tocou com
Ornette Coleman. Foi criado por
sua mãe, bailarina, e sua mulher
trabalha na indústria do disco.
Redman toca saxofone desde os
10 anos de idade, mas só começou
a levar o instrumento a sério
quando se mudou para Nova
York, aos 22 anos. Lá, conviveu
com músicos, tocou em bares e
participou do concurso Thelonious Monk. "Que acabei ganhando não sei como. Com isso,
meu nome ficou superconhecido
e ainda mais músicos começaram
a me telefonar. Adorei tudo."
Redman acredita que a experiência de "Timeless Tales" lhe
proporcionou uma nova visão da
própria voz, como compositor.
Suas novas composições vão integrar um CD que tem lançamento previsto para o próximo ano.
Ele se considera um homem de
sorte por ter podido tocar com
grandes músicos, como Herbie
Hancock, Chick Corea e Elvin Jones. "Mas eu adoraria tocar com
Keith Jarret", disse. Fora do jazz, a
lista inclui Stevie Wonder, Prince
-incluiu canções de ambos em
"Timeless Tales"- e artistas criativos do cenário rap, hip hop e
soul mais jovem, como Lauryn
Hill e Seal.
Tradução de Clara Allain
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