São Paulo, Quarta-feira, 08 de Setembro de 1999
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FREE JAZZ
Saxofonista se apresenta dias 16 (Rio) e 17 (SP); "'não se trata de ser melhor ou pior, mas de ser original"
Modesto, Redman rejeita "superlativos"

JUDE WEBBER
da Reuters, em Roma


Ele já foi descrito como "o melhor saxofonista de sua geração". Mas o instrumentista californiano Joshua Redman, 30, não está interessado no que qualifica como "superlativos exagerados". "Essas descrições não significam nada", disse após um show recente em Roma. No Brasil, ele toca no 14º Free Jazz Festival, dias 16 (Rio) e 17 (São Paulo) de outubro.
"Sinto-me honrado em saber que alguma coisa na música que faço toca as pessoas, a ponto de levá-las a me descrever com superlativos exagerados como esse. Mas eu me vejo como um músico jovem, nada mais. Espero, com o tempo, conseguir desenvolver e amadurecer meu som. Jazz quer dizer discussão, aprendizado."
A modéstia de Redman esconde uma virtuosidade técnica que o impeliu diretamente para o centro das atenções, em 1991, quando venceu um concurso de jazz e resolveu se tornar músico profissional. Mas, ao lado daqueles que identificam ecos de John Coltrane e Sonny Rollins em sua música, há outros que criticam o que enxergam como tendência a tocar clássicos populares e optar pelo que é seguro e não choca.
De fato, o álbum mais recente de Redman, "Timeless Tales (for Changing Times)", alimenta-se das melodias familiares de Gershwin, Cole Porter, Bob Dylan, Stevie Wonder, Rodgers e Hammerstein e Beatles, como ponto de partida para novas versões. Redman disse que esses standards do jazz e clássicos da música pop lhe dão a chance de colocar algo de seu em canções que, para ele, possuem "beleza atemporal e infinitas possibilidades".
"Por exemplo, eu nunca poderia fazer algo tão bom em "Love for Sale" quanto o que Miles Davis fez. Sua versão foi a definitiva. Não se trata de ser melhor ou pior, mas de ser original."
Redman despreza os comentários segundo os quais toca melodias populares para agradar ao grande público. "É mentira", disse. "Se alguém não gostar do que faço, isso não é problema para mim. Não sou vendedor. Não estou interessado em diluir minha música ou adaptá-la para agradar a um público determinado."
Apesar da reação ambígua que teve "Timeless Tales" -os críticos elogiaram idéias e técnica, mas acharam que as inovações nem sempre funcionam bem- , Redman se disse satisfeito e afirmou que nessa gravação sua técnica atingiu seu ponto alto.
Com sua cabeça raspada e roupas fashion, Redman leva um glamour de clubber ao cenário jazz. Ele dança, acompanhando um solo de piano, incentiva a platéia a acompanhar um bis batendo palmas e dá socos no ar no final de sua apresentação.
Nascido em Berkeley, Califórnia, sempre viveu cercado de música. Seu pai, o respeitado saxofonista Dewey Redman, tocou com Ornette Coleman. Foi criado por sua mãe, bailarina, e sua mulher trabalha na indústria do disco.
Redman toca saxofone desde os 10 anos de idade, mas só começou a levar o instrumento a sério quando se mudou para Nova York, aos 22 anos. Lá, conviveu com músicos, tocou em bares e participou do concurso Thelonious Monk. "Que acabei ganhando não sei como. Com isso, meu nome ficou superconhecido e ainda mais músicos começaram a me telefonar. Adorei tudo."
Redman acredita que a experiência de "Timeless Tales" lhe proporcionou uma nova visão da própria voz, como compositor.
Suas novas composições vão integrar um CD que tem lançamento previsto para o próximo ano.
Ele se considera um homem de sorte por ter podido tocar com grandes músicos, como Herbie Hancock, Chick Corea e Elvin Jones. "Mas eu adoraria tocar com Keith Jarret", disse. Fora do jazz, a lista inclui Stevie Wonder, Prince -incluiu canções de ambos em "Timeless Tales"- e artistas criativos do cenário rap, hip hop e soul mais jovem, como Lauryn Hill e Seal.


Tradução de Clara Allain



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