São Paulo, Quarta-feira, 08 de Setembro de 1999
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OFICINA DE RAP
Rapper coordena workshop com presos
X, do Câmbio Negro, "vai para a cadeia"

RODRIGO DIONISIO
da Redação


Desde a terça-feira da semana passada, o vocalista do grupo de rap Câmbio Negro, X, está desenvolvendo um workshop de criação musical com 15 detentos do Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal.
O trabalho faz parte do projeto "Fala Interno", realização conjunta da direção do presídio e da UnB (Universidade de Brasília). Além da oficina comandada por X, estão sendo realizadas outras de dramaturgia, poesia, samba, narrativa e vídeo, todas com a participação de 15 detentos cada.
Esse workshops irão durar 21 dias, com a possibilidade de serem feitos com outros detentos após uma avaliação de resultados. A seguir, leia trechos da entrevista que X deu à Folha sobre o trabalho no Papuda.

A PRIMEIRA SEMANA - "Eu não imaginei que fosse encontrar um grupo tão avançado. Os caras que se inscreveram na minha oficina fazem parte de três grupo de rap do Papuda e já têm até letras escritas. O único que não tinha muita noção do ritmo é um detento que era bombeiro e que fica numa ala separada, para ex-militares. Mas mesmo ele já escreveu sua primeira letra.
"Meu trabalho acaba sendo dar alguns toques, corrigir erros de português e, agora, estou querendo viabilizar a gravação de um CD com os caras. A idéia é mostrar para eles todo o processo de criação, o lado de mercado da música e deixar claro que essa é uma alternativa viável de ganhar dinheiro aqui fora."

ATITUDE - "O discurso do rapper é lindo, é bacana, é legal, mas a gente precisa de atitude. Não adianta só ficar reclamando do sistema, tem de fazer alguma coisa para mudar a situação.
Os caras aqui me dizem que, quando saírem da detenção, vão acabar roubando e matando de novo porque, já que quem está lá fora não tem emprego, eles que são ex-presidiários não vão conseguir trabalho em lugar nenhum. Eu tento dar uma outra expectativa para eles.
"Além disso, aqui mesmo na cadeia, enquanto o cara está ouvindo as fitas que eu passo, está escrevendo uma letra, não está pensando em acertar o detento que olhou torto para ele ou planejando uma fuga. Esse trabalho melhora a vida na própria penitenciária ao acabar com o ócio."


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