São Paulo, Sexta-feira, 08 de Outubro de 1999
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Chili Peppers



A banda que pôs fogo em Woodstock faz hoje show único no Brasil, com ingressos esgotados, no Credicard Hall, em SP; o baixista Flea fala à Folha

BRUNO GARCEZ
da Redação

Ele gosta de subir ao palco nu usando uma meia como tapa-sexo, mas nas horas vagas diz que prefere meditar e rezar. Em suas letras, usa termos chulos para se referir às mulheres, mas não gosta de ser chamado de machista.
Contraditório, o superbaixista Flea, 36, do Red Hot Chili Peppers, pode ser tachado de tudo, menos de alienado. Em entrevista à Folha, mostrou estar antenado com as mais recentes tendências da música eletrônica e considera os EUA omissos em relação à situação vivida no Timor Leste.
Além desses temas, Flea falou também sobre música, é claro. Em especial, sobre o show que o grupo faz hoje em São Paulo, cujo repertório é centrado no recém-lançado CD "Californication". O álbum marca o retorno do guitarrista John Frusciante, que integrou a banda entre 88 e 93.

Folha - Qual será a principal diferença entre o show da atual turnê e o que vocês fizeram em 93, no Hollywood Rock?
Flea -
Naquela época, Rick Marshall era o guitarrista. Ele é talentoso, mas tê-lo na banda era como ter uma perna artificial. Funciona, mas não é verdadeira. Mudamos muito com a volta de John Frusciante. O repertório do show terá mais músicas de "Californication" e "Blood Sugar Sex Magik" (91). Não temos tocado nada de "Mother's Milk" (89).

Folha - "Californication" mostra um retorno às raízes funkies, suingadas, dos primeiros trabalhos. Vocês buscaram essa sonoridade ou foi sem querer?
Flea -
Foi natural. Nosso disco anterior, "One Hot Minute" (95), tinha (o guitarrista) Dave Navarro, que é excelente, mas que tem uma linha mais pesada. A química com John Frusciante é inigualável. Com o retorno dele, houve uma evolução. Se você compara "Californication" com "Blood Sugar Sex Magik", por exemplo, vê elementos em comum, mas o novo CD é mais variado.

Folha - No CD "Freaky Styley" (85), vocês diziam: "Não se importe com as bandas de funk que usam sintetizadores". Hoje em dia, a grande maioria das bandas black usam eletrônica. A opinião ainda é a mesma?
Flea -
Não, naquele tempo tínhamos espírito punk, queríamos rebaixar todo mundo. Mas, mesmo então, havia grupos que usavam sintetizadores e que amávamos, como o Parliament/Funkadelic. As grandes inovações da música atual surgiram com artistas que usam eletrônica, caso de Tricky e Nine Inch Nails.

Folha - A reação do público no Woodstock 99, com cenas de depredação e violência, foi um choque para vocês?
Flea -
Foi decepcionante. Soube que mulheres foram estupradas durante o evento e fiquei enojado. Esse tipo de misoginia é repugnante. Enquanto tocávamos, vimos garotas com seus seios à mostra que eram agarradas à força. Interrompemos o show e exigimos que aquilo acabasse.

Folha - Mas muitos consideram o Chili Peppers uma banda sexista, misógina, tanto nas letras como nas atitudes.
Flea -
Podemos até causar essa impressão, mas isso é prestar atenção em aspectos superficiais de nossa música. Seria tacanho dizer que somos machistas.

Folha - Como está sua carreira como ator de cinema?
Flea -
Não tenho corrido atrás. Rodei meu último filme, "Liar's Poker", há dois anos. Antes de tudo, sou um músico. Quando acho que o projeto vale a pena, eu aceito, como o filme "Garotos de Programa", de Gus Van Sant.

Folha - Você escreveu no site da banda que não consegue entender como os EUA decidem em que conflitos irão intervir: "Kosovo, sim, mas Ruanda e Timor Leste, não". No seu entender, os EUA deveriam se envolver no Timor Leste?
Flea -
Fui contra o bombardeio à Iugoslávia, por exemplo. Mas, no caso do Timor Leste, deveriam apoiar a vontade do povo local por independência e pôr um fim ao banho de sangue.


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