|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Chili Peppers
A banda que pôs fogo em Woodstock faz hoje show único no Brasil, com ingressos esgotados, no Credicard Hall, em SP; o baixista Flea fala à Folha
|
BRUNO GARCEZ
da Redação
Ele gosta de subir ao palco nu
usando uma meia como tapa-sexo, mas nas horas vagas diz que
prefere meditar e rezar. Em suas
letras, usa termos chulos para se
referir às mulheres, mas não gosta
de ser chamado de machista.
Contraditório, o superbaixista
Flea, 36, do Red Hot Chili Peppers, pode ser tachado de tudo,
menos de alienado. Em entrevista
à Folha, mostrou estar antenado
com as mais recentes tendências
da música eletrônica e considera
os EUA omissos em relação à situação vivida no Timor Leste.
Além desses temas, Flea falou
também sobre música, é claro.
Em especial, sobre o show que o
grupo faz hoje em São Paulo, cujo
repertório é centrado no recém-lançado CD "Californication". O
álbum marca o retorno do guitarrista John Frusciante, que integrou a banda entre 88 e 93.
Folha - Qual será a principal
diferença entre o show da atual
turnê e o que vocês fizeram em
93, no Hollywood Rock?
Flea - Naquela época, Rick
Marshall era o guitarrista. Ele é talentoso, mas tê-lo na banda era
como ter uma perna artificial.
Funciona, mas não é verdadeira.
Mudamos muito com a volta de
John Frusciante. O repertório do
show terá mais músicas de "Californication" e "Blood Sugar Sex
Magik" (91). Não temos tocado
nada de "Mother's Milk" (89).
Folha - "Californication" mostra um retorno às raízes funkies,
suingadas, dos primeiros trabalhos. Vocês buscaram essa sonoridade ou foi sem querer?
Flea - Foi natural. Nosso disco
anterior, "One Hot Minute" (95),
tinha (o guitarrista) Dave Navarro, que é excelente, mas que tem
uma linha mais pesada. A química com John Frusciante é inigualável. Com o retorno dele, houve
uma evolução. Se você compara
"Californication" com "Blood Sugar Sex Magik", por exemplo, vê
elementos em comum, mas o novo CD é mais variado.
Folha - No CD "Freaky Styley"
(85), vocês diziam: "Não se importe com as bandas de funk
que usam sintetizadores". Hoje
em dia, a grande maioria das
bandas black usam eletrônica. A
opinião ainda é a mesma?
Flea - Não, naquele tempo tínhamos espírito punk, queríamos rebaixar todo mundo. Mas,
mesmo então, havia grupos que
usavam sintetizadores e que amávamos, como o Parliament/Funkadelic. As grandes inovações da
música atual surgiram com artistas que usam eletrônica, caso de
Tricky e Nine Inch Nails.
Folha - A reação do público no
Woodstock 99, com cenas de
depredação e violência, foi um
choque para vocês?
Flea - Foi decepcionante. Soube
que mulheres foram estupradas
durante o evento e fiquei enojado.
Esse tipo de misoginia é repugnante. Enquanto tocávamos, vimos garotas com seus seios à
mostra que eram agarradas à força. Interrompemos o show e exigimos que aquilo acabasse.
Folha - Mas muitos consideram o Chili Peppers uma banda
sexista, misógina, tanto nas letras como nas atitudes.
Flea - Podemos até causar essa
impressão, mas isso é prestar
atenção em aspectos superficiais
de nossa música. Seria tacanho
dizer que somos machistas.
Folha - Como está sua carreira
como ator de cinema?
Flea - Não tenho corrido atrás.
Rodei meu último filme, "Liar's
Poker", há dois anos. Antes de tudo, sou um músico. Quando acho
que o projeto vale a pena, eu aceito, como o filme "Garotos de Programa", de Gus Van Sant.
Folha - Você escreveu no site
da banda que não consegue entender como os EUA decidem
em que conflitos irão intervir:
"Kosovo, sim, mas Ruanda e Timor Leste, não". No seu entender, os EUA deveriam se envolver no Timor Leste?
Flea - Fui contra o bombardeio
à Iugoslávia, por exemplo. Mas,
no caso do Timor Leste, deveriam
apoiar a vontade do povo local
por independência e pôr um fim
ao banho de sangue.
Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Joyce Pascowitch Índice
|