INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Em "Adaptação" (HBO Plus, 22h), existe um roteirista talentoso e neurótico e um irmão gêmeo que é seu oposto exato.
O roteirista Charlie precisa escrever um texto, mas não consegue. No mais, se apaixona pela autora do livro que deve adaptar, mas não tem coragem de encontrá-la. Já o irmão Donald vai metendo os peitos, metendo-se a roteirista e dispondo-se mesmo a substituir Charlie num encontro.
O roteiro de Charlie Kaufman dirigido por Spike Jonze se vende como autobiográfico. Pode ser, mas há também pilhas de velhos filmes ali. Não é isso que faz desconfiar de "Adaptação", e, sim, esse fato, comum aos filmes de Jonze, de que as coisas começam bem e aos poucos perdem o interesse. Como se faltasse pulsão cinematográfica. O oposto de Tarantino.

ESPECIAL

Programa destaca sucesso do Trio Irakitan

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REDAÇÃO

Um trio de cantores nordestinos que, na década de 50, vai para o exterior antes de tentar o sucesso no "sul maravilha", já seria uma história curiosa. Acrescentando a isso uma carreira cinematográfica bem-sucedida, chega-se ao roteiro do Trio Irakitan, músicos de grande sucesso da época de ouro do rádio que são destacados nos "Retratos Brasileiros" do Canal Brasil, hoje às 19h.
Paulo Gilvan Bezerril, Edson França e João Costa Neto eram estudantes no Rio Grande do Norte, onde formaram a Sociedade Artística Estudantil e começaram a cantar. Em vez de descerem para o Rio de Janeiro, ápice das possibilidades de sucesso no Brasil da época, seguiram para o norte do país e daí para o exterior.
Parariam no México, onde estréiam no cinema e se consagram cantando versões de músicas brasileiras em espanhol. É só a partir desse sucesso no exterior que o trio volta ao Brasil e vai para a Rádio Nacional, no Rio, cantando e fazendo sucesso com um repertório de boleros em português, influência da experiência mexicana.
Essa é a história que o programa conta, amparado no depoimento de Gilvan e em pequenas intervenções da produtora musical Íris Gamenha e do jornalista e escritor Ricardo Cravo Albin, que contextualiza o sucesso do trio em meio à efervescente década de 50.
O especial mostra também imagens de diversos filmes dos quais o trio participou. Estreando em 1957, com "Absolutamente Certo", dirigido e interpretado por Anselmo Duarte, no qual cantavam em cinco idiomas, participariam de diversas produções até "Três Colegas de Batina" (61).
Ironicamente, interpretariam no cinema -em "Rio Fantasia" (57), no qual cantam seu maior sucesso, "Andorinha Preta", e em "Virou Bagunça" (60), inspirado no "Help" dos Beatles- o papel que não fizeram na vida real: o de nordestinos que partem em busca do sucesso no sul.