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"CHAMAS DA VINGANÇA"
Elenco ilustre reafirma falta de talento de Tony Scott
CRÍTICO DA FOLHA
Logo no começo de "Chamas
da Vingança", ficamos sabendo que na América Latina acontece um número absurdo de seqüestros. OK, mas qual a razão
dessa informação? Na trama, é
porque é lá que Creasy (Denzel
Washington) exercerá a função
de guarda-costas de Pupita, a graciosa filha de um ricaço.
Mas conspurcar um pouco a
América Latina -lembrando
que entre nós autoridades em geral e policiais em particular são
corruptos e que, pior do que tudo,
todos são fumantes inveterados- é um hábito do cinema
americano: mesmo que o México,
país onde se passa a história, não
esteja precisando de nenhum tipo
de intervenção, considerar outros
povos um tanto inferiores sempre
ajuda a justificar futuras invasões.
O certo é que Tony Scott não faz
o menor esforço para poupar o
país vizinho. É verdade que não
fez de Creasy um santo. Esse ex-militar, alcoólatra, vive com a
consciência pesadíssima por conta do que fez no passado em várias
partes do mundo, derrubando
governos e coisas assim.
Daí que, quando Pupita é seqüestrada e morta, se vingar torna-se para ele uma razão de viver.
Não é muito original, como se vê,
e o roteiro traz ecos um tanto exagerados (ou seja, incômodos) de
filmes passados, começando por
"Um Corpo que Cai", do qual
rouba vergonhosamente a estrutura narrativa.
Também o diretor não faz nada
para melhorar as coisas. Ele tem
certa habilidade em levar os tempos fortes -e o demonstra sobretudo no início-, mas se enterra
nos tempos fracos da ação: mostrar o durão Creasy comovido,
com urso de pelúcia nas mãos,
francamente...
Para compensar a completa inanição da história, Scott lança mão
de um arsenal de efeitos, de montagem a intervenções na fotografia, que acabam configurando um
bricabraque tão trepidante quanto inútil.
Filme de maus propósitos, de
saída, de realização mais que duvidosa, de exaltação da violência
mais baixa (tortura seguida de assassinato, entre outras), "Chamas
da Vingança" apóia-se, quase exclusivamente, em seu elenco ilustre, que conta com uma pequena
participação do brasileiro Gero
Camilo (o irmão de "A Voz").
Não basta para resolver o problema de um filme sem caráter ou talento.
(INÁCIO ARAUJO)
Chamas da Vingança
Man on Fire
Direção: Tony Scott
Produção: EUA/México, 2004
Com: Denzel Washington, Dakota Fanning, Gero Camilo
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol, Paulista e circuito
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