São Paulo, sexta-feira, 08 de outubro de 2004

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ILUSTRADA

Ele faz o papel de Cleide no filme "Irma Vap", de Carla Camurati

Ator Marco Nanini avança sobre os carros em cena na Paulista

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Cleide se vê como uma mulher de parar o trânsito. Literalmente. Na tarde de ontem, "ela" desconheceu o sinal verde para os veículos na av. Paulista, o apito incessante da sirene de ambulância do hospital Sírio Libanês e meteu-se entre os carros.
Com a mão esquerda erguida, acenava para que os motoristas a esperassem alcançar a calçada. Todos esperaram, para alívio da cineasta Carla Camurati, diretora do filme "Irma Vap", no qual Cleide é personagem encarnada pelo ator Marco Nanini.
"A Cleide é louca. Eu não. Fiquei de olho nos motoboys", disse Nanini, depois da cena. Mesmo vestido com roupas femininas e equilibrando-se num escarpim cor-de-rosa, Nanini era reconhecido por quase todos os curiosos que paravam para observar a movimentação. "E aí, Lineu?", gritavam, chamando o ator pelo nome de seu personagem no seriado global "A Grande Família".
"Não deve ser pegadinha, porque isso o Nanini não faz", disse o analista financeiro Johnny Harrison, 23, à colega Adriana Oliveira Silva, 32. Ela: "Então deve ser "A Grande Família'".
Maior que o desafio de adivinhar de que tratava o vaivém de "Cleide" pela Paulista, apenas o de descobrir onde, afinal, estava a câmera. "Vi a Carla Camurati ali atrás e o Nanini aqui. Mas cadê a câmera?", comentava com uma amiga a funcionária pública Sandra Mapelli, 40.
A câmera de cinema, com lente capaz de filmar à distância, estava oculta numa caminhonete com vidros escurecidos, estacionada na calçada, a muitos metros de onde Cleide começava sua caminhada, repetida algumas vezes, até a diretora ter a garantia de uma boa cena. Tanto esforço custou a queda de uma unha (postiça) de Cleide.
A pausa para o reparo foi em frente ao prédio da Caixa Econômica Federal. Aí, foi a vez das faxineiras Ozzeane Maria da Silva, 29, e Evaneide Alexandrina da Silva, 35, interromperem por uns minutos o trabalho de retirar os adesivos que formavam a palavra "greve" na fachada do prédio. "Vai tu [perguntar]", disse Evaneide para Ozzeane. Elas não haviam reconhecido o ator e queriam saber quem era "a mulher nariguda dando autógrafos". Ozzeane não foi.
A reportagem pergunta se a greve acabou. "Não, mas todo dia a gente tem que limpar." Um colega da dupla grita: "Vocês vão acabar na TV". Ozzeane emenda: "Que nada! Pobre só passa na TV em "Linha Direta'".
Em 2005, com a estréia de "Irma Vap", pedestres de ontem na Paulista terão a chance de uma aparição fugaz no cinema.


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