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ILUSTRADA
Ele faz o papel de Cleide no filme "Irma Vap", de Carla Camurati
Ator Marco Nanini avança sobre os carros em cena na Paulista
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Cleide se vê como uma mulher de parar o trânsito. Literalmente. Na tarde de ontem, "ela"
desconheceu o sinal verde para
os veículos na av. Paulista, o apito incessante da sirene de ambulância do hospital Sírio Libanês e meteu-se entre os carros.
Com a mão esquerda erguida,
acenava para que os motoristas
a esperassem alcançar a calçada.
Todos esperaram, para alívio da
cineasta Carla Camurati, diretora do filme "Irma Vap", no qual
Cleide é personagem encarnada
pelo ator Marco Nanini.
"A Cleide é louca. Eu não. Fiquei de olho nos motoboys",
disse Nanini, depois da cena.
Mesmo vestido com roupas femininas e equilibrando-se num
escarpim cor-de-rosa, Nanini
era reconhecido por quase todos os curiosos que paravam
para observar a movimentação.
"E aí, Lineu?", gritavam, chamando o ator pelo nome de seu
personagem no seriado global
"A Grande Família".
"Não deve ser pegadinha, porque isso o Nanini não faz", disse
o analista financeiro Johnny
Harrison, 23, à colega Adriana
Oliveira Silva, 32. Ela: "Então
deve ser "A Grande Família'".
Maior que o desafio de adivinhar de que tratava o vaivém de
"Cleide" pela Paulista, apenas o
de descobrir onde, afinal, estava
a câmera. "Vi a Carla Camurati
ali atrás e o Nanini aqui. Mas cadê a câmera?", comentava com
uma amiga a funcionária pública Sandra Mapelli, 40.
A câmera de cinema, com lente capaz de filmar à distância, estava oculta numa caminhonete
com vidros escurecidos, estacionada na calçada, a muitos metros de onde Cleide começava
sua caminhada, repetida algumas vezes, até a diretora ter a garantia de uma boa cena. Tanto
esforço custou a queda de uma
unha (postiça) de Cleide.
A pausa para o reparo foi em
frente ao prédio da Caixa Econômica Federal. Aí, foi a vez das
faxineiras Ozzeane Maria da Silva, 29, e Evaneide Alexandrina
da Silva, 35, interromperem por
uns minutos o trabalho de retirar os adesivos que formavam a
palavra "greve" na fachada do
prédio. "Vai tu [perguntar]",
disse Evaneide para Ozzeane.
Elas não haviam reconhecido o
ator e queriam saber quem era
"a mulher nariguda dando autógrafos". Ozzeane não foi.
A reportagem pergunta se a
greve acabou. "Não, mas todo
dia a gente tem que limpar." Um
colega da dupla grita: "Vocês
vão acabar na TV". Ozzeane
emenda: "Que nada! Pobre só
passa na TV em "Linha Direta'".
Em 2005, com a estréia de "Irma Vap", pedestres de ontem
na Paulista terão a chance de
uma aparição fugaz no cinema.
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