São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2005

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LIVROS

ENSAIO


Obra do jornalista e crítico da Folha apresenta um panorama da produção cinematográfica brasileira dos últimos 15 anos

Butcher analisa o cinema em busca de um país

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Em pouco mais de cem páginas, um panorama crítico da produção cinematográfica brasileira dos últimos 15 anos, analisando não apenas os filmes mas as condições em que foram feitos e sua interação com a sociedade.
Foi essa a proeza realizada pelo jornalista Pedro Butcher, crítico da Folha, no livro "Cinema Brasileiro Hoje", da coleção Folha Explica. Aliando as qualidades do crítico, do repórter e do pesquisador, Butcher organizou seu vasto e variado assunto em blocos temáticos. Seu livro começa com uma história sucinta da chamada "retomada" do cinema brasileiro depois do período de terra arrasada do governo Collor (início dos anos 90).
Depois de descrever os fundamentos e o mecanismo das leis de incentivo que, com todas as suas lacunas, distorções e contradições, propiciaram o renascimento da produção, o autor chega aos filmes propriamente ditos, procurando detectar tendências estéticas e temáticas predominantes em cada momento.
Assim, "Carlota Joaquina" (de Carla Camurati) e "Terra Estrangeira" (de Walter Salles e Daniela Thomas) são vistos como produtos representativos, cada um à sua maneira, do estágio de fundo do poço da auto-estima dos brasileiros no ano em que foram realizados, 1995.
Uma característica de vários filmes desse período e dos anos seguintes, conforme nota Butcher, foi a presença de personagens estrangeiros ou de brasileiros que buscam sair do país, numa dupla refração do desconforto com a condição nacional.
"Central do Brasil" (de Walter Salles, 1998) seria o marco de uma nova disposição, a de buscar novos parâmetros para entender o Brasil. Acusado por alguns de exercer uma "cosmética da fome" (em contraste com a "estética da fome" proposta por Glauber Rocha), "Central" conquistou sucesso de público e prestígio internacional, recuperando para o cinema brasileiro sua capacidade de dialogar com o país.
A necessidade de discutir os graves problemas sociais, em especial o da violência urbana, ajuda a explicar o enorme impacto de títulos como "Cidade de Deus" (Fernando Meirelles, 2002) e "Carandiru" (Hector Babenco, 2003), ambos inspirados em histórias reais e ambos acusados por uma parte da crítica de "falsear a realidade".
A emergência de uma nova geração de realizadores (Jorge Furtado, Beto Brant, Tata Amaral etc.), o surto de documentários e os impasses político-estéticos gerados pela crescente participação da televisão (leia-se Rede Globo) no mercado de cinema, tudo isso é abordado de modo crítico e equilibrado pelo autor.
Sem preconceitos de nenhuma ordem, sem receitas de como deve ser o cinema nacional, Butcher compôs um manual introdutório de valor inestimável, que vem completar (e dialogar com) outros bons livros recentes sobre o tema, como "Cinema de Novo", de Luiz Zanin Oricchio (Estação Liberdade), e "O Cinema da Retomada", de Lúcia Nagib (ed. 34).


Cinema Brasileiro Hoje
    
Autor: Pedro Butcher
Editora: Publifolha - Coleção Folha Explica
Quanto: R$ 16,90 (120 págs.)


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