São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2007

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Crítica/artes plásticas

Masp acerta o passo, mas recorre ao óbvio

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Reorganizar a disposição de obras num museu é uma das formas de permitir que o visitante tenha uma nova leitura sobre trabalhos muitas vezes já vistos. Uma das estratégias que museus estrangeiros tem utilizado para possibilitar essa nova leitura é deixar de exibir seus acervos numa ordem cronológica para dispor as obras a partir de temas.
A Tate Modern, em Londres, é uma das instituições que mais tem experimentado essa nova forma de exibição, e mesmo o Centro Pompidou, em Paris, realizou duas iniciativas nesse sentido, começando com a mostra "Bing Bang", em 2005.
Atualmente, sua coleção voltou a ser disposta em seqüência temporal.
Agora, é o Museu de Arte de São Paulo, o Masp, que inicia as comemorações de 60 anos substituindo a ordem cronológica da disposição de obras para agrupá-las por temas. O primeiro bloco, "A Arte do Mito", é composto por 49 obras de períodos variados: de uma escultura grega do século 4 a.C a trabalhos contemporâneos.
Após anos de marasmo, o Masp, com a contratação de um curador, o professor Teixeira Coelho, tem dado sinais de que quer mudar, e "A Arte do Mito" se insere nesse movimento.
Essa nova disposição, com curadoria de Roberto Carvalho de Magalhães, ocupa apenas três salas do segundo andar, mas a promessa é que, em um ano, todo o acervo em exposição esteja organizado ainda pelos seguintes temas: paisagem, natureza-morta e retrato.
A mostra tem bons momentos, como colocar a "Toalete de Vênus", de Michele Rocca, do século 18, ao lado da escultura de Renoir "Vênus Vitoriosa" e da pintura "Toalete", de Picasso, ambas criadas no século 20.
Mais do que abordar a representação dos mitos, distintas formas de construir a imagem feminina também podem ser percebidas aí. Outro ponto alto da mostra dispõe a pintura maneirista "Eros na Presença de Afrodite e Ares", de Guercino, do século 17, ao lado de uma cerâmica grega do século 3 a.C.
Reduções
Aproximações desse tipo, especialmente em suportes distintos, permitem confrontações interessantes.
Entretanto, exposições temáticas correm sempre o risco de reduzir as obras a um aspecto e, no caso do Masp, recorrer ao mito como tema é um tanto óbvio.
Os melhores diálogos ocorrem com obras que não foram criadas dentro dessa categoria.
Aliás, escolher mito, paisagem, retrato e natureza-morta para o novo agrupamento é bastante simplista, afinal são gêneros clássicos.
Quando o Pompidou rearranjou seu acervo em "Big Bang", os temas, como melancolia, guerra, sexo e destruição, eram mais arrojados.
Além do mais, a iniciativa de chegar ao contemporâneo com obras brasileiras trouxe uma série de trabalhos exposta apenas por retratar mitos -outro simplismo, pois são obras que destoam do conjunto e apontam falhas no acervo de arte atual.
Para o Masp, no entanto, "A Arte do Mito" representa um discreto início de mudança, que precisa ter prosseguimento.


A ARTE DO MITO
Quando:
de ter. a dom., das 11h às 18h (bilheteria fecha às 17h); qui., até 20h (bilheteria fecha às 19h)
Onde: Museu de Arte de São Paulo (av. Paulista, 1.578, tel. 0/xx/11/ 3251-5644)
Quanto: R$ 15
Avaliação: bom


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