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Crítica/artes plásticas
Masp acerta o passo, mas recorre ao óbvio
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Reorganizar a disposição
de obras num museu é
uma das formas de permitir que o visitante tenha uma
nova leitura sobre trabalhos
muitas vezes já vistos. Uma das
estratégias que museus estrangeiros tem utilizado para possibilitar essa nova leitura é deixar
de exibir seus acervos numa ordem cronológica para dispor as
obras a partir de temas.
A Tate Modern, em Londres,
é uma das instituições que mais
tem experimentado essa nova
forma de exibição, e mesmo o
Centro Pompidou, em Paris,
realizou duas iniciativas nesse
sentido, começando com a
mostra "Bing Bang", em 2005.
Atualmente, sua coleção voltou
a ser disposta em seqüência
temporal.
Agora, é o Museu de Arte de
São Paulo, o Masp, que inicia as
comemorações de 60 anos
substituindo a ordem cronológica da disposição de obras para
agrupá-las por temas. O primeiro bloco, "A Arte do Mito", é
composto por 49 obras de períodos variados: de uma escultura grega do século 4 a.C a trabalhos contemporâneos.
Após anos de marasmo, o
Masp, com a contratação de um
curador, o professor Teixeira
Coelho, tem dado sinais de que
quer mudar, e "A Arte do Mito"
se insere nesse movimento.
Essa nova disposição, com
curadoria de Roberto Carvalho
de Magalhães, ocupa apenas
três salas do segundo andar,
mas a promessa é que, em um
ano, todo o acervo em exposição esteja organizado ainda pelos seguintes temas: paisagem,
natureza-morta e retrato.
A mostra tem bons momentos, como colocar a "Toalete de
Vênus", de Michele Rocca, do
século 18, ao lado da escultura
de Renoir "Vênus Vitoriosa" e
da pintura "Toalete", de Picasso, ambas criadas no século 20.
Mais do que abordar a representação dos mitos, distintas
formas de construir a imagem
feminina também podem ser
percebidas aí. Outro ponto alto
da mostra dispõe a pintura maneirista "Eros na Presença de
Afrodite e Ares", de Guercino,
do século 17, ao lado de uma cerâmica grega do século 3 a.C.
Reduções
Aproximações desse tipo, especialmente em suportes distintos, permitem confrontações interessantes.
Entretanto, exposições temáticas correm
sempre o risco de reduzir as
obras a um aspecto e, no caso
do Masp, recorrer ao mito como tema é um tanto óbvio.
Os melhores diálogos ocorrem com obras que não foram
criadas dentro dessa categoria.
Aliás, escolher mito, paisagem,
retrato e natureza-morta para
o novo agrupamento é bastante
simplista, afinal são gêneros
clássicos.
Quando o Pompidou rearranjou seu acervo em "Big
Bang", os temas, como melancolia, guerra, sexo e destruição,
eram mais arrojados.
Além do mais, a iniciativa de
chegar ao contemporâneo com
obras brasileiras trouxe uma
série de trabalhos exposta apenas por retratar mitos -outro
simplismo, pois são obras que
destoam do conjunto e apontam falhas no acervo de arte
atual.
Para o Masp, no entanto, "A
Arte do Mito" representa um
discreto início de mudança, que
precisa ter prosseguimento.
A ARTE DO MITO
Quando: de ter. a dom., das 11h às
18h (bilheteria fecha às 17h); qui.,
até 20h (bilheteria fecha às 19h)
Onde: Museu de Arte de São Paulo
(av. Paulista, 1.578, tel. 0/xx/11/
3251-5644)
Quanto: R$ 15
Avaliação: bom
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