São Paulo, sexta-feira, 08 de outubro de 2010

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Em Frankfurt, representação peruana é pequena entre latinos

Para editores do país presentes na feira de livros, prêmio pode atrair a atenção do governo e de leitores

Para o escritor Raúl Cragg, título ajudará a separar figura política de avaliação estética da obra do autor

MARCOS FLAMÍNIO PERES
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

O país natal do novo Nobel de Literatura, o peruano Mario Vargas Llosa, não dispõe de representação oficial na maior e mais importante feira de livros que existe.
Os três estandes acanhados -e bancados inteiramente por pequenas editoras independentes-, contrastam com as chamativas representações oficiais dos vizinhos latino-americanos, como Argentina -convidada de honra do evento-, México, Colômbia e mesmo Brasil.
Luis Zúniga Morales, dono da Borrador Editores, disse à Folha ter pago sozinho os custos para montar seu estande em Frankfurt.
"Gastei cerca de US$ 3.000 [aproximadamente R$ 5.000], entre passagens aéreas, hospedagem e alimentação", afirma.
Para ele, não há interesse na Câmara Peruana do Livro em promover a literatura. "Minha esperança é de que, com o Nobel, o governo veja o quanto ela é importante para um país."
Já Pierre Emile Vandoorne, 32, dono da Editorial Matalamanga e presidente da Aliança Peruana de Editores Independentes, diz que Lima sempre privilegiou o patrimônio material.
"Por conta da grande riqueza arqueológica do país, o patrimônio imaterial [como a literatura] acabou sendo preterido", afirma.
Ambos esperam que o Nobel a Vargas Llosa mude o estado de indigência da literatura peruana.
Já o escritor Raúl Cragg -que teve sua obra "Voela, Lulu" (voa, Lulu) publicada pelo mesmo grupo que detém os direitos da obra do novo Nobel, o espanhol Santillana- não pensa dessa maneira.
Para ele, a literatura de seu país não é reconhecida como de grande tradição. "Há uma parte enorme da população que simplesmente não lê", diz Cragg, 49.
Mas ressalta que existe uma presença forte de contadores de história. "A oralidade tem grande importância para os peruanos, seja por meio de leituras ao vivo, seja por programas de rádio."
E complementa: "Acho que o Nobel não irá mudar esse estado de coisas".

O HOMEM E A OBRA
Morales e Vandoorne preveem que o prêmio será importante para os peruanos começarem a separar o Vargas Llosa escritor do político.
"É hora de deixar de ver Vargas Llosa como personagem político e cultural e começar a vê-lo como escritor, analisá-lo em nível estético", diz Morales.
Cragg também se diz admirador da obra. "Mas não sou partidário de suas opiniões. É uma pessoa para quem o fim justifica os meios, o que é muito difícil de aceitar."
Para ele, "Vargas Llosa sempre foi famoso, com ou sem o Nobel. O prêmio simplesmente ratifica isso".


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