São Paulo, quinta, 8 de outubro de 1998

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FREE JAZZ
O saxofonista faz surpresa quanto ao repertório para o show e anuncia um novo álbum para o ano que vem
Griffin traz o estilo "bebop" ao Free Jazz

CARLOS CALADO
especial para a Folha

Ele é um dos poucos remanescentes da geração de músicos que difundiu o irreverente "bebop", nos anos 50. O saxofonista norte-americano Johnny Griffin vai tocar no Free Jazz Festival, nos dias 15 (no Rio) e 16 (em São Paulo).
Não se engane: os 70 anos de idade desse músico não significam que seu jazz seja mais tradicional do que o tocado hoje por grande parte dos instrumentistas mais jovens. Estes transformaram o "bebop", já na década passada, na corrente principal do jazz.
"Hoje você encontra músicos jovens fantásticos, em todos os instrumentos. Pena que o número de clubes de jazz seja bem menor do que na época em que comecei a tocar", disse Griffin à Folha por telefone, do distrito de Cognac, no interior da França, onde vive.
Apesar de ter nascido em Chicago, o saxofonista passou metade de sua vida na Europa. Depois de se apresentar ali pela primeira vez, no final de 1962, época em que muitos jazzistas começaram a passar fome nos EUA, Griffin decidiu mudar de continente.
Àquela altura, já tinha um currículo invejável. Tocou na banda de Lionel Hampton, de 1947 a 1950. Costumava participar de "jam sessions" com Thelonious Monk, Bud Powell e outros "beboppers", além de ter gravado com Art Blakey e John Coltrane.
"Na Europa, toquei com Bud Powell, Kenny Clark e outros americanos que já moravam por aqui e gostei muito do que encontrei. Os europeus têm um estilo de vida mais relax e dão mais atenção às artes do que os norte-americanos", compara.
Sempre bem-humorado em seus comentários, o saxofonista não dispensa uma boa dose de ironia ao se referir à diminuição do interesse pelo estilo do jazz nos Estados Unidos.
"O mesmo acontece em relação a outras formas de arte, como a poesia ou a pintura. Nem nas rádios há mais espaço para o jazz, só para a música pop. A garotada de hoje está muito ocupada assistindo futebol, basquete e todo tipo de esporte na TV."
A ironia retorna quando Griffin comenta as opiniões de críticos sensacionalistas que, de tempos em tempos, decretam que a morte do jazz está próxima.
"O jazz é uma música que nasceu do povo, uma evolução de ritmos que vieram da África e vai viver por muito tempo. O mais provável é que, quando esses críticos morrerem, o jazz ainda estará bem vivo por aí", rebate, rindo.
Para os shows programados pelo Free Jazz, Griffin virá acompanhado por seu quarteto, formado por Michael Weiss (piano), John Webber (contrabaixo) e Joe Farnsworth (bateria).
Só não pergunte a ele o que pretende tocar nos concertos. Como todo bom jazzista, Griffin prefere decidir tudo no último momento. "Ainda não sei direito. Só posso dizer que será um bom programa e que a platéia vai passar bons momentos", desconversa.
Ao contrário de todos os outros jazzistas deste festival, Griffin já teve vários de seus discos lançados no Brasil. O mais recente é "Chicago, New York, Paris" (Verve, 1995), no qual aparece ao lado de feras da nova geração, como o trompetista Roy Hargrove e o baixista Christian McBride.
"Já estou trabalhando nas músicas para um novo álbum. Tenho idéias para tocar com uma "big band' e também com grupos menores. Mas só entro em estúdio no ano que vem. Não tenho pressa para isso."



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