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FREE JAZZ
O saxofonista faz surpresa quanto ao repertório para o show e anuncia um novo álbum para o ano que vem
Griffin traz o estilo "bebop" ao Free Jazz
CARLOS CALADO
especial para a Folha
Ele é um dos poucos remanescentes da geração de músicos que
difundiu o irreverente "bebop",
nos anos 50. O saxofonista norte-americano Johnny Griffin vai tocar
no Free Jazz Festival, nos dias 15
(no Rio) e 16 (em São Paulo).
Não se engane: os 70 anos de idade desse músico não significam
que seu jazz seja mais tradicional
do que o tocado hoje por grande
parte dos instrumentistas mais jovens. Estes transformaram o "bebop", já na década passada, na corrente principal do jazz.
"Hoje você encontra músicos jovens fantásticos, em todos os instrumentos. Pena que o número de
clubes de jazz seja bem menor do
que na época em que comecei a tocar", disse Griffin à Folha por telefone, do distrito de Cognac, no interior da França, onde vive.
Apesar de ter nascido em Chicago, o saxofonista passou metade de
sua vida na Europa. Depois de se
apresentar ali pela primeira vez, no
final de 1962, época em que muitos
jazzistas começaram a passar fome
nos EUA, Griffin decidiu mudar de
continente.
Àquela altura, já tinha um currículo invejável. Tocou na banda de
Lionel Hampton, de 1947 a 1950.
Costumava participar de "jam sessions" com Thelonious Monk, Bud
Powell e outros "beboppers", além
de ter gravado com Art Blakey e
John Coltrane.
"Na Europa, toquei com Bud Powell, Kenny Clark e outros americanos que já moravam por aqui e
gostei muito do que encontrei. Os
europeus têm um estilo de vida
mais relax e dão mais atenção às
artes do que os norte-americanos", compara.
Sempre bem-humorado em seus
comentários, o saxofonista não
dispensa uma boa dose de ironia
ao se referir à diminuição do interesse pelo estilo do jazz nos Estados Unidos.
"O mesmo acontece em relação a
outras formas de arte, como a poesia ou a pintura. Nem nas rádios há
mais espaço para o jazz, só para a
música pop. A garotada de hoje está muito ocupada assistindo futebol, basquete e todo tipo de esporte na TV."
A ironia retorna quando Griffin
comenta as opiniões de críticos
sensacionalistas que, de tempos
em tempos, decretam que a morte
do jazz está próxima.
"O jazz é uma música que nasceu
do povo, uma evolução de ritmos
que vieram da África e vai viver
por muito tempo. O mais provável
é que, quando esses críticos morrerem, o jazz ainda estará bem vivo
por aí", rebate, rindo.
Para os shows programados pelo
Free Jazz, Griffin virá acompanhado por seu quarteto, formado por
Michael Weiss (piano), John Webber (contrabaixo) e Joe Farnsworth (bateria).
Só não pergunte a ele o que pretende tocar nos concertos. Como
todo bom jazzista, Griffin prefere
decidir tudo no último momento.
"Ainda não sei direito. Só posso dizer que será um bom programa e
que a platéia vai passar bons momentos", desconversa.
Ao contrário de todos os outros
jazzistas deste festival, Griffin já teve vários de seus discos lançados
no Brasil. O mais recente é "Chicago, New York, Paris" (Verve,
1995), no qual aparece ao lado de
feras da nova geração, como o
trompetista Roy Hargrove e o baixista Christian McBride.
"Já estou trabalhando nas músicas para um novo álbum. Tenho
idéias para tocar com uma "big
band' e também com grupos menores. Mas só entro em estúdio no
ano que vem. Não tenho pressa para isso."
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