São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Livro varre história do pop-rock brasileiro dos anos 80

Geração Coca-Cola


RPM é tomado como grupo-símbolo na narrativa do jornalista Ricardo Alexandre


DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 20 anos de idade da primeira geração pop-rock nacional, encolhem-se Legião Urbana, Paralamas do Sucesso e Titãs, cresce o RPM. O livro "Dias de Luta - O Rock e o Brasil dos Anos 80", do jornalista paulista Ricardo Alexandre, 28, refaz varredura sobre uma história já várias vezes contada, mas sob um novo foco.
É que o autor acompanhou a ascensão da geração 80 do pop brasileiro na condição de espectador, e foi aquela perspectiva que tentou reproduzir em sua reconstituição histórica (e cronológica).
Deixou de lado, assim, a primazia de ícones que se tornaram permanentes (como Legião, Paralamas e Titãs). Mas relativizou, também, o viés de "prediletos da crítica" como o Ira!, embora seja do grupo paulistano o rock que deu título ao livro.
Surge daí uma narrativa baseada em grande volume de depoimentos e toda descentralizada, que procura abranger ascensão, clímax e queda do pop-rock dos 80 sob suas várias facetas e encontra sua figura de síntese no tecnopop de massas do RPM.
"Acredito que o RPM represente o auge daquela geração, até por encarnar em si o espírito "viva jovem, morra rápido". Eles tiveram a história mais legal, o livro fica mais saboroso quando eles entram. São também o marco de decadência, encarnaram completamente a coisa do mito do rock'n'roll", descreve Alexandre.
Se nos marcos de clímax e queda está a megalomania pop do RPM, o autor localiza o ponto de virada inicial não nos habituais Blitz, Lulu Santos ou Barão Vermelho. "Acho que a virada se deu com a Gang 90 de Júlio Barroso, sem dúvida. É o cara mais importante da primeira fase, embora sob a perspectiva do livro ele talvez não tenha essa grandeza toda. O problema é que não houve um artista que conseguisse cruzar todo o espectro dos anos 80, um João Gilberto do rock."
A discrepância entre o valor atribuído à Gang 90 e sua presença no livro também é explicada por Alexandre pelo recorte que ele pretendeu dar à biografia:
"Eu queria contribuir para acabar com esse negócio de que jornalista só escreve sobre o que gosta. Para mim era mais interessante reconstituir o ambiente todo do que ancorar o livro na genialidade de cada personagem. Queria que o leitor prestasse mais atenção em dados concretos que em possíveis críticas ou análises pessoais".
Daí a reverência dedicada a nomes como Ritchie, Eduardo Dusek, Leo Jaime, Neusinha Brizola e outros tantos. O que o autor defende, em última instância, é que os anos 80 edificaram as condições para que um verdadeiro mercado (ou "cenário", prefere ele) surgisse no Brasil em torno da cultura jovem.
"Pessoalmente acho que os anos 90 foram muito melhores que os 80. Entretanto nos 90 aquele ambiente deixou de existir, a ponto de Capital Inicial e Legião Urbana continuarem tocando continuamente no rádio", diz.
Mas, afinal, o autor gostava daquela geração ou não, como procura despistar no prefácio, afirmando não ter "nenhuma simpatia especial pela música brasileira da década de 80"? "Se eu nasci ouvindo Beatles não consigo saber se eles são bons ou não. É como meu braço, não sei se ele é bonito ou feio. Ele é meu", entrega.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Crítica: Cuidado interpretativo é trunfo de "Dias de Luta"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.