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CINEMA
Rio está mais rico e menos alegre
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A MANAUS
Depois de vencer um Oscar com
um título sobre o Holocausto ("O
Pianista"), o diretor franco-polonês de origem judaica Roman Polanski "queria fazer um filme para
jovens que fosse também um entretenimento para os seus pais".
Encontrou em "Oliver Twist", de
Charles Dickens, a história ideal.
"Minha mulher sempre me perguntava por que eu não fazia um
filme para os nossos filhos [duas
crianças, de 7 e 13 anos] que ela
também pudesse sentar e assistir", diz o diretor, que está no Brasil para acompanhar a exibição de
"Oliver Twist", amanhã, no 2º
Amazonas Film Festival. O filme
estréia no circuito comercial brasileiro no próximo dia 18.
É a segunda vez que o diretor visita a Amazônia. Do Rio, onde já
esteve com freqüência desde 1965,
diz ter a impressão de que a cidade se torna "mais rica e menos
alegre".
Polanski, 72, afirma que procurou fugir, no filme, daquilo que o
desagrada em muitas adaptações
do livro: "Esse tipo de final cor-de-rosa". O diretor afirma que a
cena final do reencontro do garoto Oliver com Fagin, que num
momento da história foi seu algoz, "era importante pelo elemento do perdão, que faz o menino pensar". A seguir, trechos de
sua entrevista para um grupo de
jornalistas.
Pergunta - Como o sr. pode acrescentar uma nova dimensão a uma
história já contada tantas vezes?
Roman Polanski - Simplesmente
contando-a bem. Existem boas
piadas que algumas pessoas matam [ao contá-las]. E existem piadas medíocres que alguém, por
contá-la bem, faz você rir. Achei
que estava na hora de fazer uma
nova versão [de "Oliver Twist"].
Mas não queria me afastar do livro original, porque acho que ele
tem um escritor fabuloso [Charles
Dickens] e uma história universal.
É a história turbulenta de uma
criança órfã. Em seu país vocês
também têm esse problema. Enfim, é a arte de contar a história
sem nenhum "twist" adicional.
Pergunta - Como o sr. define o
personagem Oliver Twist?
Polanski - Um menino que, no
começo da história, não tem futuro e que se vira para encontrar um
futuro no final. Não acho que você possa defini-lo de nenhuma
outra maneira. Ele é como qualquer outro garoto.
Pergunta - É uma história triste?
Polanski - Eu queria que as
crianças também experimentassem o que significa a emoção no
cinema, não apenas o impacto
instantâneo de um choque. Isso é
fácil de fazer. Mas, para fazer um
filme assim [como "Oliver
Twist"], você tem de lutar. Às vezes penso que sou meio Dom Quixote. Quando vejo filmes que não
oferecem nada aos jovens... Existe
esse formato específico de cinema
que arruina o gosto deles. É como
McDonald's ou Pizza Hut -muitas crianças hoje não podem provar nada sem ketchup. Eu queria
fazer um filme sem ketchup.
Pergunta - O fato de o sr. ter tido
uma infância difícil muda sua percepção a respeito deste filme?
Polanski - Obviamente. Há muitas coisas do livro que experimentei quando criança. Fui órfão [a
mãe dele foi assassinada pelo regime nazista], fui separado de meus
pais [o pai do diretor foi preso
num campo de concentração],
poderia ter caminhado quilômetros sem meias e sofrido por pessoas que me hostilizaram. Foi fácil
saber como dirigir meu ator.
Pergunta - Então o sr. se identifica com Oliver Twist. E existem certas semelhanças entre "O Pianista"
e "Oliver Twist".
Polanski - Existem semelhanças,
mas não foi esta a razão para eu
ter feito este filme. Depois de "O
Pianista", o roteirista Ronald Harwood e eu queríamos fazer outra
coisa juntos, porque adoramos
trabalhar juntos. Começamos a
procurar um assunto. Pensei o
que poderia fazer após "O Pianista". Várias coisas me pareceram
inapropriadas. "Oliver Twist" pareceu a coisa certa a fazer.
Pergunta - Este parece ser o seu
filme mais terno. Todos os anteriores envolvem política, sexo e violência. Polanski está ficando leve?
Polanski - Não sei. Ainda me sinto capaz de fazer filmes pesados.
Pergunta - À medida que fica
mais velho, torna-se mais fácil ou
difícil escolher o próximo projeto?
Polanski - Mais difícil. Eu me
lembro de uma fez em que conversei com [Stanley] Kubrick
[1928-1999] por telefone. Eu estava filmando "O Quê?" (1972) e às
vezes conversávamos longamente
por telefone. Ele estava procurando um projeto e disse: "Você não
acha terríveis esses intervalos entre filmes, quando você procura
algo novo para fazer e é tão difícil
encontrar. É o período mais frustrante". Eu disse: "sim, sim". Mas
não tinha idéia do que ele estava
falando. Para mim era tão fácil.
Agora sei do que estava falando.
Pergunta - Por quê?
Polanski - Porque você fica cada
vez mais crítico com o seu próprio
trabalho, com o das outras pessoas e com os projetos que você
recebe.
A jornalista Silvana Arantes viajou a
convite da organização do 2º Amazonas
Film Festival
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