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Música popular ganha seu "Houaiss"
Maior obra de referência do assunto, dicionário tem 5.000 verbetes, mas Ricardo Cravo Albin, seu criador, lamenta cortes
"É uma dilaceração", diz o pesquisador, que pretende atualizar livro a cada quatro anos e mantém informações completas na internet
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Com seus 5.322 verbetes, o
"Dicionário Houaiss Ilustrado
da Música Popular Brasileira" é
o maior livro do gênero já produzido no país. Até hoje, a empreitada mais ambiciosa tinha
sido a "Enciclopédia da Música
Brasileira", lançada em 1977
por Marcos Antônio Marcondes, atualizada em 2000, mas
não tão extensa.
Ainda assim, o calhamaço
lançado nesta semana tem um
gosto levemente amargo para
o seu criador, Ricardo Cravo
Albin, 65.
"É uma dilaceração. A não ser
quando ficou pronto esse livro
tão bonito, foi mais sofrimento
do que prazer, porque significou decepar informações que
foram colecionadas ao longo da
vida", diz o pesquisador.
O lamento se explica na internet. O site Dicionário Cravo
Albin (www.dicionariompb.com.br), no ar desde 2001, tem
mais de 7.000 verbetes e espaço ilimitado de texto.
Pelos cálculos de Ricardo
Cravo Albin, o material virtual
equivale a 32 dicionários impressos com o tamanho deste
que está sendo lançado -1.176
páginas.
"O livro é a essência, a súmula. Para ampliar, a pessoa vai no
on-line. Eles são complementares", diz.
Foi em 1999 que o Instituto
Cultural Cravo Albin começou
a produzir verbetes. Há cinco
anos, com ajuda de uma fundação do Estado do Rio de apoio à
pesquisa, a página é atualizada
diariamente na internet -no
momento, por quatro pessoas.
Para a versão impressa, Cravo Albin se aliou ao Instituto
Antônio Houaiss, que montou
uma equipe de 11 lexicógrafos
responsáveis por padronizar os
verbetes e reduzi-los.
"Felizmente, sem a minha
participação, porque nessa dor
eu não fui tão longe", conta o
pesquisador.
Sem crítica
O que coube a ele, anos atrás,
foi a concepção dos verbetes:
com a maior quantidade possível de informações -em parte
extraídas de seu próprio acervo- e sem juízos de valor.
"Nem poderia ser outra coisa. Dicionário não pode ser crítico, não há sentido", afirma.
"Não é um trabalho de análise,
mas um banco de dados", complementa Heloísa Tapajós, que
assumiu neste ano a coordenação dos pesquisadores no lugar
de Júlio Diniz.
Mulher do compositor Paulinho Tapajós e irmã dos músicos Dadi e Mú Carvalho, Heloísa teve como uma de suas funções mapear um número grande de instrumentistas, especialmente do Rio de Janeiro e
de São Paulo. Como muitas vezes eles não têm composições
nem trabalhos solo, costumam
ficar à margem das obras de
referência.
"Eles são os patinhos feios da
música. Nós os priorizamos",
diz Cravo Albin.
Outra particularidade do dicionário é sua iconografia. Em
vez de fotos, mais de 500 ilustrações, principalmente caricaturas. Cássio Loredano reuniu
trabalhos seus, de Nássara, J.
Carlos, Luís Trimano, Jaguar,
Lan, Chico Caruso e outros
grandes desenhistas.
"Esse é o toque de sedução
do livro e a sua absoluta originalidade mundial", aposta Cravo Albin.
Não houve tempo para o dicionário conter informações de
2006. O objetivo é atualizá-lo
de quatro em quatro anos. "Na
música popular, as pessoas nascem, crescem e morrem com
muita velocidade. O livro não é
uma obra jamais fechada, muito menos completa. Vão me
perdoar, mas vai haver muitos
erros, como tem que haver numa matéria com esse dinamismo", diz o pesquisador.
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