|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Canadá facilita parcerias para animação brasileira
Cinco séries serão exibidas em televisões estrangeiras entre 2009 e 2010
Quando assina contrato com outro país, canadenses podem completar até
20% do orçamento
com recursos públicos
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A OTTAWA (CANADÁ)
O produtor André Breitman
estava com os contratos da série "Amigãozão" à beira da assinatura. Havia o dinheiro brasileiro, o dinheiro canadense e
uma das mais respeitadas
emissoras infantis do mundo, a
Treehouse TV, disposta a exibir
o desenho. Não havia, porém,
banco que aceitasse o negócio.
"O produtor canadense teve
de ir a sete bancos simplesmente porque o negócio era com o
Brasil. Ainda há alguma desconfiança", diz Breitman.
Sua empresa, a 2DLab, foi
uma das 20 produtoras brasileiras a aterrissar sob os -2º do
outono de Ottawa (Canadá),
em outubro, para participar de
um encontro de animação.
Entre um cookie e outro, tentaram firmar negócios ou, ao
menos, trocar cartões e promessas. O relato de Breitman
mostra as duas faces dessa
ofensiva. Se, de um lado, "Amigãozão" conseguiu sair do papel, de outro, indica as pedras
existentes nesse caminho feito
de bichos e coisas que falam.
"A série é um negócio de US$
6 bilhões e o Brasil é novo nesse
cenário. As possibilidades são
muitas, mas as exigências também", pondera.
Quero ser grande
A excursão brasileira ao Canadá indica, primeiro, que existem mais semelhanças entre o
frio e o quente do que imaginam nossas televisões.
Conhecido polo de animações para a TV, o país acaba de
firmar novo acordo de coprodução com o Brasil e, pouco a
pouco, vai colocando sua bandeira em criações assinadas por
brasileiros. A primeira foi "Escola pra Cachorro", que estreou
em outubro na Nickelodeon.
Parte do interesse canadense
decorre dos benefícios disponibilizados para as coproduções.
Quando assina um contrato
com outro país, o produtor canadense pode completar até
20% do orçamento com recursos públicos. "Nossa postura
sempre foi buscar recursos no
exterior. Agora descobrimos
que precisamos oferecer alguma coisa", diz Marco Altberg,
da Associação Brasileira de
Produtores Independentes de
Televisão (ABPI). Mas os canadenses ainda tateiam. "Percebemos um movimento interessante, mas ainda estamos descobrindo as reais possibilidades de negócio", diz Kevin Gillis, da produtora Skywriter.
Um dos receios do grupo que
foi ao Canadá é o de ser confundido com chineses, coreanos ou
indianos que, por oferecer mão
de obra barata, são contratados
pelos estúdios para executar
umas poucas cenas.
"Nosso objetivo é mostrar
que não somos simples prestadores de serviço, mas criadores
de produtos originais", diz Eliana Russi, gerente executiva do
Brazilian TV Producers
(BTVP), que organiza as viagens e alinhava os acordos. "É
clara a existência desse espaço
para coproduções, até porque
basta trocar a voz e a animação
viaja para vários países."
Menos simples que trocar
voz é criar desenhos que, de fato, interessem às TVs internacionais. Mas, como mostra o
quadro ao lado, já são pelo menos cinco as séries brasileiras
que, entre este ano e o ano que
vem, terão espaço nas telas brasileiras e estrangeiras.
Parte desse processo se deve,
também, à abertura de uma linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento
(BNDES), utilizada por parte
dos produtores. Ao mesmo
tempo, o secretário do Audiovisual, Silvio Da-Rin, repetiu, durante a viagem, que o apoio à
animação até sobreviveu, basicamente, da publicidade e tornou-se política de governo.
Mas é Sergio Martinelli, produtor das séries "Anabel" e
"Pinguinics", quem resume essa história: "A animação brasileira vai ser um fato concreto
aqui quando a criança disser:
"Mãe, compra o DVD do Peixonauta?'". O teste está lançado.
ANA PAULA SOUSA viajou ao Canadá a convite
do Brazilian TV Producers (BTVP) e do Consulado Geral do Canadá em São Paulo
Texto Anterior: "O dublê é meu verdadeiro irmão", diz ator Próximo Texto: Empresa pioneira testa limites do 3D e experimenta nova linguagem Índice
|