São Paulo, domingo, 08 de novembro de 2009

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Anselmo Duarte, cineasta e ator, morre aos 89

Único brasileiro a ganhar a Palma de Ouro de Cannes como diretor, sofreu ontem um AVC

Internado desde o dia 27, Duarte será enterrado hoje em sua cidade natal, Salto (SP); auge da carreira foi nos anos 1950 e 1960

Ana Ottoni - 16.out.03/Folha Imagem
Anselmo Duarte em Salto (SP), sua cidade natal

DA REPORTAGEM LOCAL

Único brasileiro a ganhar a Palma de Ouro em Cannes como diretor, o ator e cineasta Anselmo Duarte morreu na madrugada de ontem em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico. Ele tinha 89 anos.
Duarte estava internado desde o último dia 27 na UTI do centro cirúrgico neurológico do hospital. O cineasta sofria de mal de Alzheimer e morava há cinco anos com o filho Ricardo em São Paulo.
"Nesses últimos anos ele recebeu inúmeras homenagens. Recebi gente de todo o Brasil filmando documentários sobre ele", disse Ricardo à Folha.
O corpo de Duarte seria velado durante a tarde e a noite de ontem no saguão principal da Assembleia Legislativa de São Paulo. Será sepultado às 11h30 de hoje no cemitério municipal de Salto (interior de SP), cidade onde nasceu em abril de 1920.

Carreira
Após fazer algumas pontas em cinema, Duarte estreou como ator em "Querida Suzana", filme de 1946 que contava com Nicete Bruno e Tônia Carrero.
A atuação lhe rendeu um contrato com a Atlântida, para a qual protagonizou longas como "Terras do Sem-Fim" e "Não me Digas Adeus".
Concorrente da Atlântida, a produtora Vera Cruz contratou Duarte em 1952 para estrelar "Tico-Tico no Fubá".
Já um ator reconhecido, Duarte passou, em meados dos anos 1950, a dedicar-se ao sonho de dirigir um filme. Em 1956, dirigiu e produziu um pequeno documentário, "Arara Vermelha". Sua estreia em longas aconteceu no ano seguinte, com "Absolutamente Certo".
Estudou no Instituto de Altos Estudos Cinematográficos, em Paris, em 1958, e participou de produções estrangeiras, como a portuguesa "As Pupilas do Senhor Reitor" e a espanhola "Un Rayo de Luz".

Palma de Ouro
Sua consagração como diretor veio em 1962. Naquele ano, ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes pelo filme "O Pagador de Promessas". Competiu com cineastas como Antonioni e Buñuel. Até hoje, nenhum outro diretor brasileiro repetiu tal feito.
Com uma trajetória à parte do cinema novo, nos anos 1960 dirigiu o elogiado "Vereda da Salvação" (1964), e longas como "Quelé do Pajeú" (1969).
Nos anos 1970, seu trabalho tornou-se menos representativo. Em 1971, foi membro do júri do Festival de Cannes. O último trabalho como diretor foi "Os Trombadinhas", em 1979, cujo protagonista era Pelé.

Homenagens
Nas décadas de 1980, e de 1990, viu seus trabalhos sendo pesquisados e analisados por diretores mais jovens. Foi tema de dezenas de documentários - entre eles "Cinema Pagador", que ganhou o prêmio de melhor curta-metragem no Festival de Gramado em 2003.
O governo federal lançou em 1982 um selo comemorativo aos 20 anos da Palma de Ouro de "O Pagador de Promessas". Dois anos depois, Duarte apresentou programa da TV Cultura que resgatava as produções da Vera Cruz. Em 1986, atuou pela última vez, em "Brasa Adormecida", de Djalma Limongi Batista.
Depois de receber o prêmio Oscarito, em 1992, e de lançar "Adeus Cinema", sua autobiografia -com ataques ao cinema novo, em 1993-, voltou para Salto em 1995.
Em 1997, foi convidado especial e homenageado junto com os diretores premiados vivos no 50º aniversário do Festival de Cannes.
Deixou quatro filhos.


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