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Anselmo Duarte, cineasta e ator, morre aos 89
Único brasileiro a ganhar a Palma de Ouro de Cannes como diretor, sofreu ontem um AVC
Internado desde o dia 27, Duarte será enterrado hoje em sua cidade natal, Salto (SP); auge da carreira foi nos anos 1950 e 1960
Ana Ottoni - 16.out.03/Folha Imagem
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Anselmo Duarte em Salto (SP), sua cidade natal
DA REPORTAGEM LOCAL
Único brasileiro a ganhar a
Palma de Ouro em Cannes como diretor, o ator e cineasta
Anselmo Duarte morreu na
madrugada de ontem em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico. Ele tinha 89 anos.
Duarte estava internado desde o último dia 27 na UTI do
centro cirúrgico neurológico
do hospital. O cineasta sofria de
mal de Alzheimer e morava há
cinco anos com o filho Ricardo
em São Paulo.
"Nesses últimos anos ele recebeu inúmeras homenagens.
Recebi gente de todo o Brasil
filmando documentários sobre
ele", disse Ricardo à Folha.
O corpo de Duarte seria velado durante a tarde e a noite de
ontem no saguão principal da
Assembleia Legislativa de São
Paulo. Será sepultado às 11h30
de hoje no cemitério municipal
de Salto (interior de SP), cidade
onde nasceu em abril de 1920.
Carreira
Após fazer algumas pontas
em cinema, Duarte estreou como ator em "Querida Suzana",
filme de 1946 que contava com
Nicete Bruno e Tônia Carrero.
A atuação lhe rendeu um
contrato com a Atlântida, para
a qual protagonizou longas como "Terras do Sem-Fim" e
"Não me Digas Adeus".
Concorrente da Atlântida, a
produtora Vera Cruz contratou
Duarte em 1952 para estrelar
"Tico-Tico no Fubá".
Já um ator reconhecido,
Duarte passou, em meados dos
anos 1950, a dedicar-se ao sonho de dirigir um filme. Em
1956, dirigiu e produziu um pequeno documentário, "Arara
Vermelha". Sua estreia em longas aconteceu no ano seguinte,
com "Absolutamente Certo".
Estudou no Instituto de Altos Estudos Cinematográficos,
em Paris, em 1958, e participou
de produções estrangeiras, como a portuguesa "As Pupilas do
Senhor Reitor" e a espanhola
"Un Rayo de Luz".
Palma de Ouro
Sua consagração como diretor veio em 1962. Naquele ano,
ganhou a Palma de Ouro do
Festival de Cannes pelo filme
"O Pagador de Promessas".
Competiu com cineastas como
Antonioni e Buñuel. Até hoje,
nenhum outro diretor brasileiro repetiu tal feito.
Com uma trajetória à parte
do cinema novo, nos anos 1960
dirigiu o elogiado "Vereda da
Salvação" (1964), e longas como "Quelé do Pajeú" (1969).
Nos anos 1970, seu trabalho
tornou-se menos representativo. Em 1971, foi membro do júri
do Festival de Cannes. O último trabalho como diretor foi
"Os Trombadinhas", em 1979,
cujo protagonista era Pelé.
Homenagens
Nas décadas de 1980, e de
1990, viu seus trabalhos sendo
pesquisados e analisados por
diretores mais jovens. Foi tema
de dezenas de documentários
- entre eles "Cinema Pagador", que ganhou o prêmio de
melhor curta-metragem no
Festival de Gramado em 2003.
O governo federal lançou em
1982 um selo comemorativo
aos 20 anos da Palma de Ouro
de "O Pagador de Promessas".
Dois anos depois, Duarte apresentou programa da TV Cultura que resgatava as produções
da Vera Cruz. Em 1986, atuou
pela última vez, em "Brasa
Adormecida", de Djalma Limongi Batista.
Depois de receber o prêmio
Oscarito, em 1992, e de lançar
"Adeus Cinema", sua autobiografia -com ataques ao cinema
novo, em 1993-, voltou para
Salto em 1995.
Em 1997, foi convidado especial e homenageado junto com
os diretores premiados vivos
no 50º aniversário do Festival
de Cannes.
Deixou quatro filhos.
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