São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2001

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"HONRA E VENDETTA"

Livro põe Brasil na trilha da Máfia

MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA

"Johnny Boy, o Brasil é indispensável no comércio das drogas...", escutou o mafioso John Gotti. É o sinal de que o Brasil seria também indispensável à narrativa de "Honra e Vendetta", romance cuja ação começa na Sicília em 1988.
Aeroporto de Guarulhos, Copacabana Palace, Cotia, Jardins e Moóca servem de cenário a personagens de antecedentes duvidosos e sobrenomes italianos, que transitam também na ponte Palermo-Nova York.
É a primeira vez que o jornalista Sílvio Lancellotti, 57, escreve um romance. Ex-colunista da Folha, com passagens por cargos de direção nas revistas "Veja" e "Vogue", se notabilizou por comentar futebol e por testar suas receitas na TV. Para seu romance de estréia, fez ampla pesquisa, com entrevistas a mais de 30 fontes.
Nas entrelinhas do livro, está a guerra real entre a velha tradição e a nova, que desenhou um novo mapa na geografia do tráfico de drogas, negócio que a velha tradição se recusava a encarar, por convicção moral. Que paradoxo.
De uns tempos pra cá, quase todos os mafiosos escreveram biografias. São uma gente vaidosa. Em muitos filmes, são tratados simpaticamente. Talvez porque eles mesmos os tenham financiado. Ou porque suas contradições, como honra e vingança, atraem.
Tony, filho pródigo de uma família de mafiosos tradicionais que mora no Brasil, desembarca em São Paulo para organizar aquilo que traduz a essência da organização, a "vendetta" (vingança). Sua mulher e filhos foram mortos por um gângster secundário, Francesco Tucci.
Entram em cena uma jornalista interesseira e de curvas acentuadas, Lídia Brandini, um delegado brazuca, Telônio Meira (homenagem a Thelonious Monk), e muitos capangas barrigudos e engravatados, que xingam uns aos outros de "siccareddu" (jumento).
O romance é divertido. Consegue expor a organização que tanto fascina: personagens bufões que amedrontam. As histórias sobre a Máfia são dramas shakespearianos, que envolvem famílias em disputa, honra e traição.
Tony acaba ganhando a suspeita de ser um agente da Justiça italiana. A mocinha se apaixona pelo mafioso que gosta de tocar Chopin no piano. E, sim, tudo se passa na era Collor. Bom apetite.


Honra e Vendetta
    
Autor: Sílvio Lancellotti
Editora: L&PM
Quanto: R$ 39 (538 págs.)



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