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"HONRA E VENDETTA"
Livro põe Brasil na trilha da Máfia
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
"Johnny Boy, o Brasil é indispensável no comércio
das drogas...", escutou o mafioso
John Gotti. É o sinal de que o Brasil seria também indispensável à
narrativa de "Honra e Vendetta",
romance cuja ação começa na Sicília em 1988.
Aeroporto de Guarulhos, Copacabana Palace, Cotia, Jardins e
Moóca servem de cenário a personagens de antecedentes duvidosos e sobrenomes italianos, que
transitam também na ponte Palermo-Nova York.
É a primeira vez que o jornalista
Sílvio Lancellotti, 57, escreve um
romance. Ex-colunista da Folha,
com passagens por cargos de direção nas revistas "Veja" e "Vogue", se notabilizou por comentar
futebol e por testar suas receitas
na TV. Para seu romance de estréia, fez ampla pesquisa, com entrevistas a mais de 30 fontes.
Nas entrelinhas do livro, está a
guerra real entre a velha tradição e
a nova, que desenhou um novo
mapa na geografia do tráfico de
drogas, negócio que a velha tradição se recusava a encarar, por
convicção moral. Que paradoxo.
De uns tempos pra cá, quase todos os mafiosos escreveram biografias. São uma gente vaidosa.
Em muitos filmes, são tratados
simpaticamente. Talvez porque
eles mesmos os tenham financiado. Ou porque suas contradições,
como honra e vingança, atraem.
Tony, filho pródigo de uma família de mafiosos tradicionais
que mora no Brasil, desembarca
em São Paulo para organizar
aquilo que traduz a essência da
organização, a "vendetta" (vingança). Sua mulher e filhos foram
mortos por um gângster secundário, Francesco Tucci.
Entram em cena uma jornalista
interesseira e de curvas acentuadas, Lídia Brandini, um delegado
brazuca, Telônio Meira (homenagem a Thelonious Monk), e muitos capangas barrigudos e engravatados, que xingam uns aos outros de "siccareddu" (jumento).
O romance é divertido. Consegue expor a organização que tanto fascina: personagens bufões
que amedrontam. As histórias sobre a Máfia são dramas shakespearianos, que envolvem famílias
em disputa, honra e traição.
Tony acaba ganhando a suspeita de ser um agente da Justiça italiana. A mocinha se apaixona pelo
mafioso que gosta de tocar Chopin no piano. E, sim, tudo se passa
na era Collor. Bom apetite.
Honra e Vendetta
Autor: Sílvio Lancellotti
Editora: L&PM
Quanto: R$ 39 (538 págs.)
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