São Paulo, quarta-feira, 08 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Com Tom Jobim, Johnny Alf e João Donato como protagonistas, "7 x Bossa Nova" vai ao ar entre abril e novembro de 2005

Série garimpa memórias da Bossa Nova

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Tom Jobim disse certa vez que fez "Desafinado" pensando em "Rapaz de Bem", de Johnny Alf. Também disse que João Donato era muito melhor pianista do que ele. Essas afirmações constarão da série "7 x Bossa Nova", que terá Alf e Donato como dois de seus protagonistas e Tom Jobim pairando sobre todos os episódios.
Por obra do acaso, quase toda a série está sendo gravada no Rio nesta semana, quando se completam dez anos sem Tom.
Hoje, data do aniversário de morte do maestro, seu "ídolo" Donato estará no estúdio sendo dirigido por Belisário Franca, da produtora Giros, e Rogério Brandão, da DirecTV.
Os episódios deverão ir ao ar no canal 605 da DirecTV entre abril e novembro de 2005, um por mês, sucedendo na grade os três programas dedicados ao jobiniano Chico Buarque que serão exibidos entre janeiro e março.
"7 x Bossa Nova" tem roteiro de Bebeto Abranches, condução de Nelson Motta e consultoria de Ruy Castro, autor de "Chega de Saudade", a biografia do gênero.
O grande atrativo da série parece ser a disposição em ir muito além da superfície em que costumam ficar as revisões da Bossa Nova. A produção já colheu mais de 20 depoimentos e garimpou frases relativamente pouco conhecidas como as citadas de Tom Jobim sobre Alf e Donato.
Também tirou do baú imagens raras como a de Tom, emocionado, falando em 1969 do falecido parceiro Newton Mendonça ("Desafinado", "Samba de uma Nota Só") e as da Ipanema do início dos anos 60, quando era o quartel-general da Bossa Nova, feitas pelo cineasta Carlos Hugo Christensen.
Há, ainda, depoimentos em que se procura explicar as inovações harmônicas da Bossa Nova, muito exaltadas pelos músicos mas pouco traduzidas para o grande público. Jaques Morelenbaum é um que cumpre na série esse papel didático.
"Não queríamos só fazer um show e registrar. A série é um documento que vai ficar para as futuras gerações. Guardadas as diferenças, é como "Jazz", do Ken Burns", diz Rogério Brandão, citando a famosa série americana.
Mas, na visão dos diretores, a principal mudança em relação a programas similares está no olhar dirigido "da periferia para o centro", como classifica Franca.
"Quando se fala em Bossa Nova, normalmente o foco fica sobre a santíssima trindade: Tom, Vinicius [de Moraes] e João Gilberto. Nós invertemos a pirâmide e estamos partindo dos outros para chegar até eles, procurando sistematizar o movimento", explica Franca, diretor de trabalhos premiados como "Música do Brasil", "Além Mar", "African Pop" e "Danças Brasileiras".
Com exceção do programa final, um painel sobre os desdobramentos da Bossa Nova, todos os episódios têm um artista como fio condutor, cada um representando um viés temático: Johnny Alf, Marcos Valle, João Donato (com participação de Joyce), Roberto Menescal (com Wanda Sá), Celso Fonseca e Carlos Lyra.
O contexto do país no final dos anos 50, indispensável para se entender a felicidade embutida nas melodias de Tom, Menescal e outros, também está na série. "Eram os anos JK, o Brasil querendo ser moderno e influenciar o mundo", diz Franca.
"7 x Bossa Nova" terá legendas em inglês e espanhol. O objetivo é chegar ao mercado internacional já em 2005. "Não faço por menos: sonho com o Emmy", diz Brandão, referindo-se ao Oscar da TV.


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Apresentações em SP marcam 10 anos de morte
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.