São Paulo, terça, 8 de dezembro de 1998

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MÚSICA
Bluesman americano, 73, toca no país a partir de sexta-feira
B.B. King vem ao Brasil em shows, livro e CD

EDSON FRANCO
Editor de Veículos

Para aqueles que associam o blues com tristeza, o cantor e guitarrista norte-americano B.B. King, 73, talvez seja hoje o músico menos indicado para tocar esse estilo de música.
Só para ficar neste ano, King ganhou, da revista de jazz norte-americana "Down Beat", os prêmios de melhor músico, banda e disco de blues. O tilintar nas caixas registradoras das suas casas noturnas não pára. Sua biografia está sendo lançada no Brasil. E, por fim, "Blues on the Bayou", seu mais recente CD, é o melhor que ele gravou nesta década.
E é assim, em estado de graça, que ele começa seu tour pelo Brasil na sexta-feira, com um show em Porto Alegre. No sábado, será a vez de Bauru ouvir o bluesman. Depois disso, B.B. King chega a São Paulo para duas apresentações: a primeira no domingo, dia 13, às 22h30, no palco do Bourbon Street, casa "batizada" por King em 1993; e a segunda no dia seguinte, também às 22h30, no Via Funchal.
Tantas alegrias não tiram a sinceridade da música do guitarrista. Quando ele precisa executar um número mais tristonho no palco, busca honestidade na infância pobre no delta do rio Mississippi. Com detalhes, essas passagens estão descritas em "B.B. King - Corpo e Alma do Blues", autobiografia que o guitarrista autografa na próxima segunda, às 17h, no Ática Shopping Cultural.
De um quarto de hotel em Santiago, no Chile, King falou à Folha por telefone.

Folha - A "Down Beat" deu três prêmios para o senhor este ano, sua biografia está sendo lançada no Brasil, e "Blues on the Bayou" é o melhor disco que o senhor gravou nos últimos anos. Não é alegria demais para um bluesman?
B.B. King -
Sim estou muito feliz, apesar de ser um bluesman. Em geral, as pessoas pensam que, só pelo fato de tocar o blues, o músico deve ser triste. Isso não é verdade.
Folha - Após dois CDs com duetos, o senhor resolveu tornar as coisas simples, levar sua banda para estúdio e gravar composições suas. Como a idéia surgiu?
King -
Eu já tinha esse projeto na cabeça havia muito tempo. Mas, no começo deste ano, eu e minha banda decidimos que era chegada a hora de fazer esse disco.
Folha - Que tipo de magia há no interior da Louisiana para que o senhor tenha decidido gravar lá?
King -
Não houve magia nenhuma. Escolhi aquele lugar porque uma pessoa da área de produção da minha gravadora (MCA) disse que o estúdio seria bom para o projeto. Fui lá, vi, gostei e decidi gravar naquele estúdio.
Folha - No palco, fica claro o controle que o senhor exerce sobre sua banda. Foi muito diferente controlá-la no estúdio?
King -
Não. Eu sou o líder. E, como em toda organização, a nossa é baseada no respeito mútuo. Eu os respeito, e eles me respeitam. Isso tornou o trabalho mais fácil.

Folha - Quais foram as suas tarefas específicas como produtor em "Blues on the Bayou"?
B.B. King -
Eu sabia o que queria. Contratamos um engenheiro (Tony Daigle) para colocar na fita o que eu queria. Não foi difícil.
Folha - Na hora de conceber os arranjos, o senhor deu espaço para sugestões dos músicos da banda?
King -
Estou aberto a sugestões. Tenho sete arranjadores na minha banda e um sobrinho que compõe arranjos. Divido as tarefas. Alguns arranjos são feitos por ele. Outros são compostos por alguém da banda. E há os que eu faço.
Folha - Toda discografia básica da sua obra inclui dois ou três CDs ao vivo. É possível sonhar com um "B.B. King Live in Brazil"?
King -
Eu não sei. Talvez logo.
Folha - Uma das surpresas da sua autobiografia é o fato de o senhor ter 15 filhos. O senhor mantém contato com eles? Algum deles quer seguir a carreira do pai?
King -
Sempre que posso, claro, mantenho contato com meus filhos. Tenho uma filha que está se tornando cantora profissional.
Folha - No livro, o senhor descreve suas experiências com a pobreza, o trabalho duro no campo, o sexo precoce e as questões raciais. É preciso um currículo desses para fazer um blues honesto?
King -
Não. É possível tocar bem sem passar pelo que passei. Eu tenho dois músicos na minha banda que só estiveram no Mississippi para me acompanhar. Eles nunca tiveram de colher algodão nem sofreram discriminação. E eles tocam blues como poucos.
Folha - O seu clube em Memphis tem muitos funcionários. Suas bandas sempre foram numerosas. É bom negócio ser empregado da B.B. King S/A?
King -
Você deve perguntar para meus músicos. Nunca assinei um contrato com eles. Alguns estão comigo há 20 anos, e tudo o que trocamos foi um aperto de mãos quando os contratei. Eles podem deixar a banda quando quiserem. Mas, pelo visto, eles preferem ficar.
Folha - O senhor tem talento para negócios como para música?
King -
Não. Eu jamais seria um homem de negócios. Nesse campo, eu sei pouco mais do que dois e dois são quatro. Há muito tempo, alguém me disse que, se eu não souber fazer determinada coisa, devo procurar alguém que saiba. Acho que escolhi as pessoas certas.
Folha - O senhor gosta desse blues tingido de rock que vários músicos brancos, como Jonny Lang,vêm fazendo?
King -
Acho que eles vêm prestando um grande serviço para manter o blues vivo. Mas, além deles, gosto também da música que jovens negros estão tocando.
Folha - Ao lado de clássicos como "The Thrill Is Gone" e "Sweet Sixteen", nós vamos ouvir no Brasil as 15 músicas que o senhor gravou em "Blues on the Bayou"?
King -
Não todas. Acredito que os mais de 70 discos que gravei tenham pelo menos uma música que mereça fazer parte dos meus shows. Acho que, fazendo uma seleção delas, posso agradar um número maior de fãs.
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Shows: B.B. King
Quando: domingo, às 22h30
Onde: Bourbon Street (r. dos Chanés, 127, Moema, tel. 011/5561-1643)
Quanto: de R$ 90 a R$ 150
Quando: segunda, às 22h30
Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, tel. 011/ 3105-9760)
Quanto: de R$ 35 a R$ 80

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Livro: B.B. King - Corpo e Alma do Blues
Autores: B.B. King e David Ritz
Lançamento: Ática
Quanto: R$ 29,90 (272 págs.)
Tarde de autógrafos: segunda, às 17h, no Ática Shopping Cultural (av. Pedroso de Moraes, 858, Pinheiros, tel. 011/867-0022)



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