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MÚSICA
Bluesman americano, 73, toca no país a partir de sexta-feira
B.B. King vem ao Brasil em shows, livro e CD
EDSON FRANCO
Editor de Veículos
Para aqueles que associam o
blues com tristeza, o cantor e guitarrista norte-americano B.B.
King, 73, talvez seja hoje o músico
menos indicado para tocar esse estilo de música.
Só para ficar neste ano, King ganhou, da revista de jazz norte-americana "Down Beat", os prêmios de melhor músico, banda e
disco de blues. O tilintar nas caixas
registradoras das suas casas noturnas não pára. Sua biografia está
sendo lançada no Brasil. E, por fim,
"Blues on the Bayou", seu mais recente CD, é o melhor que ele gravou nesta década.
E é assim, em estado de graça,
que ele começa seu tour pelo Brasil
na sexta-feira, com um show em
Porto Alegre. No sábado, será a vez
de Bauru ouvir o bluesman. Depois disso, B.B. King chega a São
Paulo para duas apresentações: a
primeira no domingo, dia 13, às
22h30, no palco do Bourbon Street,
casa "batizada" por King em 1993;
e a segunda no dia seguinte, também às 22h30, no Via Funchal.
Tantas alegrias não tiram a sinceridade da música do guitarrista.
Quando ele precisa executar um
número mais tristonho no palco,
busca honestidade na infância pobre no delta do rio Mississippi.
Com detalhes, essas passagens estão descritas em "B.B. King - Corpo e Alma do Blues", autobiografia
que o guitarrista autografa na próxima segunda, às 17h, no Ática
Shopping Cultural.
De um quarto de hotel em Santiago, no Chile, King falou à Folha
por telefone.
Folha - A "Down Beat" deu três
prêmios para o senhor este ano,
sua biografia está sendo lançada
no Brasil, e "Blues on the Bayou" é
o melhor disco que o senhor gravou nos últimos anos. Não é alegria demais para um bluesman?
B.B. King - Sim estou muito feliz,
apesar de ser um bluesman. Em geral, as pessoas pensam que, só pelo
fato de tocar o blues, o músico deve
ser triste. Isso não é verdade.
Folha - Após dois CDs com duetos, o senhor resolveu tornar as
coisas simples, levar sua banda para estúdio e gravar composições
suas. Como a idéia surgiu?
King - Eu já tinha esse projeto na
cabeça havia muito tempo. Mas,
no começo deste ano, eu e minha
banda decidimos que era chegada
a hora de fazer esse disco.
Folha - Que tipo de magia há no
interior da Louisiana para que o senhor tenha decidido gravar lá?
King - Não houve magia nenhuma. Escolhi aquele lugar porque
uma pessoa da área de produção
da minha gravadora (MCA) disse
que o estúdio seria bom para o
projeto. Fui lá, vi, gostei e decidi
gravar naquele estúdio.
Folha - No palco, fica claro o controle que o senhor exerce sobre
sua banda. Foi muito diferente
controlá-la no estúdio?
King - Não. Eu sou o líder. E, como em toda organização, a nossa é
baseada no respeito mútuo. Eu os
respeito, e eles me respeitam. Isso
tornou o trabalho mais fácil.
Folha - Quais foram as suas tarefas específicas como produtor em
"Blues on the Bayou"?
B.B. King - Eu sabia o que queria.
Contratamos um engenheiro
(Tony Daigle) para colocar na fita
o que eu queria. Não foi difícil.
Folha - Na hora de conceber os
arranjos, o senhor deu espaço para
sugestões dos músicos da banda?
King - Estou aberto a sugestões.
Tenho sete arranjadores na minha
banda e um sobrinho que compõe
arranjos. Divido as tarefas. Alguns
arranjos são feitos por ele. Outros
são compostos por alguém da banda. E há os que eu faço.
Folha - Toda discografia básica
da sua obra inclui dois ou três CDs
ao vivo. É possível sonhar com um
"B.B. King Live in Brazil"?
King - Eu não sei. Talvez logo.
Folha - Uma das surpresas da sua
autobiografia é o fato de o senhor
ter 15 filhos. O senhor mantém
contato com eles? Algum deles
quer seguir a carreira do pai?
King - Sempre que posso, claro,
mantenho contato com meus filhos. Tenho uma filha que está se
tornando cantora profissional.
Folha - No livro, o senhor descreve suas experiências com a pobreza, o trabalho duro no campo, o sexo precoce e as questões raciais. É
preciso um currículo desses para
fazer um blues honesto?
King - Não. É possível tocar bem
sem passar pelo que passei. Eu tenho dois músicos na minha banda
que só estiveram no Mississippi
para me acompanhar. Eles nunca
tiveram de colher algodão nem sofreram discriminação. E eles tocam blues como poucos.
Folha - O seu clube em Memphis
tem muitos funcionários. Suas
bandas sempre foram numerosas.
É bom negócio ser empregado da
B.B. King S/A?
King - Você deve perguntar para
meus músicos. Nunca assinei um
contrato com eles. Alguns estão
comigo há 20 anos, e tudo o que
trocamos foi um aperto de mãos
quando os contratei. Eles podem
deixar a banda quando quiserem.
Mas, pelo visto, eles preferem ficar.
Folha - O senhor tem talento para
negócios como para música?
King - Não. Eu jamais seria um
homem de negócios. Nesse campo,
eu sei pouco mais do que dois e
dois são quatro. Há muito tempo,
alguém me disse que, se eu não
souber fazer determinada coisa,
devo procurar alguém que saiba.
Acho que escolhi as pessoas certas.
Folha - O senhor gosta desse
blues tingido de rock que vários
músicos brancos, como Jonny
Lang,vêm fazendo?
King - Acho que eles vêm prestando um grande serviço para
manter o blues vivo. Mas, além deles, gosto também da música que
jovens negros estão tocando.
Folha - Ao lado de clássicos como
"The Thrill Is Gone" e "Sweet Sixteen", nós vamos ouvir no Brasil as
15 músicas que o senhor gravou
em "Blues on the Bayou"?
King - Não todas. Acredito que os
mais de 70 discos que gravei tenham pelo menos uma música que
mereça fazer parte dos meus
shows. Acho que, fazendo uma seleção delas, posso agradar um número maior de fãs.
²
Shows: B.B. King
Quando: domingo, às 22h30
Onde: Bourbon Street (r. dos Chanés, 127,
Moema, tel. 011/5561-1643)
Quanto: de R$ 90 a R$ 150
Quando: segunda, às 22h30
Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, tel. 011/
3105-9760)
Quanto: de R$ 35 a R$ 80
²
Livro: B.B. King - Corpo e Alma do Blues
Autores: B.B. King e David Ritz
Lançamento: Ática
Quanto: R$ 29,90 (272 págs.)
Tarde de autógrafos: segunda, às 17h, no
Ática Shopping Cultural (av. Pedroso de
Moraes, 858, Pinheiros, tel. 011/867-0022)
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