São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"PETER PAN"

Erotismo infantil dilui-se nas nuvens rosas da Terra do Nunca

CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR DO FOLHATEEN

Peter Pan é uma criança tão estranha que às vezes parece muito adulto solto por aí. Acredita que nunca vai envelhecer, nutre uma rixa mal explicada com o Capitão Gancho e domina uma gangue num lugar sem lei.
Ao completar cem anos de idade, esse pequeno rebelde criado em 1904 pelo escritor escocês Sir James Matthew Barrie (1860-1937) comprova a força de uma idéia quando ela forja um mito. Além da versão para cinema que estréia hoje, "Peter Pan" ocupa a cena em um teatro londrino e Hollywood conclui uma biografia de Barrie para as telas.
Entretanto, esse "Peter Pan" escrito e dirigido por P.J. Hogan padece do mesmo mal que o "Hook - A Volta do Capitão Gancho", dirigido por Steven Spielberg em 1991: a valorização excessiva dos efeitos e da imagem põe a perder o que há de mais essencial na história de Peter, a imaginação e a simbologia.
A ambiguidade sexual de Peter (sedutor assexuado de Wendy e ao mesmo tempo seduzido pelo fálico gancho do homônimo capitão), o despertar libidinoso de Wendy, seu papel de "mamãe" ao lado do "papai" Peter para os Garotos Perdidos da Terra do Nunca e o micro-modelo da fada Sininho são alguns dos enfoques eróticos que tornam a versão de Hogan interessante. Além disso, o personagem de Gancho ganha em nuanças e simbolismos. Só o fato de o mesmo ator representar o pai de Wendy, João e Miguel e o malvado Capitão permitiria ecoar laços psicanalíticos.
Chega a ser apavorante a transição da maldade dos "inocentes heróis" no confronto final, quando Hogan mostra as crianças celebrando a derrota do "velho" e seu fim na boca "quente e úmida" do crocodilo.
Porém, como a platéia visada pela produção é predominantemente infantil, a ambiguidade sexual e moral dissolve-se em nuvenzinhas cor-de-rosa.
Para quem pretende levar suas crianças, não se preocupe. As doses extra-adrelinadas de aventura nem vão deixá-los perceber que a maldade não sobrevive sem a ajuda de tanta bondade.


Peter Pan
Peter Pan
   
Produção: EUA, 2003
Direção: P.J. Hogan
Com: Jason Isaacs, Jeremy Sumpter, Rachel Hurd-Wood
Quando: a partir de hoje nos cines Morumbi, Kinoplex Itaim e circuito



Texto Anterior: Cinema/estréias - "Swimming pool": Clichê policial ressoa na boa atmosfera de François Ozon
Próximo Texto: Copião: Governo prevê público nacional 31 % menor
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.