São Paulo, segunda-feira, 09 de janeiro de 2006

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MÚSICA

Grupo que criou um genuíno pop brasileiro no fim dos anos 70 apresenta trabalho acústico e ao vivo, em CD e DVD

A Cor do Som soa desbotado em novo álbum

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A música pop funciona em ciclos. A vanguarda de hoje é o som ultrapassado de amanhã, o máximo da modernidade de ontem é o som datado de hoje. Se em 2006 certas sonoridades são proibidas pelo bom gosto, em 1980 elas eram exatamente o que todo mundo queria ouvir. A despeito de suas qualidades ou fraquezas, artistas de uma época "negada" por um certo zeitgeist são relegados a limbo conceitual e malvistos pela intelligentsia.
Com o conjunto A Cor do Som acontece algo parecido. Extremamente popular em um momento da cultura brasileira, hoje é tido por alguns como banda "menor", fruto de uma época pouco memorável na nossa música. Mas o fato é que a banda tinha sim grande valor e, mais importante, talvez tenha sido o mais genuíno pop brasileiro de sua época e desde então.
Formado por Dadi (na época Novo Baiano, hoje Tribalista), Armandinho (então já baluarte de trios elétricos na Bahia) e Mú Carvalho (irmão de Dadi, virtuose do piano), incluindo o baterista Gustavo Schroeter e o percussionista Ary Dias, A Cor do Som misturava rock com frevo, Jimi Hendrix com trio elétrico, e criou em fins dos anos 70 uma espécie de new wave particular, de sotaque tropical e sem medo de ser feliz.

Boas lembranças
Se agora, 26 anos depois do auge e 23 anos depois do desmanche da formação original, a banda se reencontra para registrar seus hits e novidades no previsível formato acústico-e-ao-vivo-com-convidados, é porque sabe de sua importância. Mais relevante, o grupo sabe que existe público à margem de discussões teóricas, com boas lembranças e saudades de seu som leve, agradável, despreocupado.
Tudo certo, mas, como seria de se esperar, as coisas não são mais as mesmas. Se antes eles conseguiam soar originais e divertidos -ainda que cafonas, pode dizer algum espertinho mais cínico-, hoje soam mais desbotados. Não inteiramente, é verdade. Bons momentos existem e valem a curiosidade (sobretudo no DVD, com os sons acompanhados por imagens), só não dá pra dizer que é um grande trabalho.
Gravado em agosto de 2005 no Rio de Janeiro, em um Canecão lotado, o show traz hits como "Beleza Pura" e "Zanzibar", com participação de Caetano Veloso, Daniela Mercury, Moraes Moreira, além da excelente faceta instrumental do grupo, em menor porcentagem.
Se antes o pop parecia ter chegado até A Cor do Som por acidente -era um grupo instrumental, acompanhavam outros artistas, todos cantavam, mas ninguém tão a sério-, o pop agora parece ser uma amarra artística: seria legal ver mais do que o já esperado.
Em suma, é OK ouvir A Cor do Som. Na verdade, pode ser uma experiência ótima e libertadora. Sempre vai ser ótimo ouvir o frescor com que o grupo aborda rock, frevo, new wave, música baiana e transforma tudo em um genuíno e delicioso pop brasileiro cheio de groove. Mas é difícil imaginar alguém preferindo ouvir o novo acústico ao vivo do que qualquer um dos quatro ou cinco primeiros álbuns clássicos.


Acústico
  
Artista: A Cor do Som
Lançamento: Sony BMG
Quanto: R$ 45 (DVD) e R$ 30 (CD), em média


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