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MÚSICA
Grupo que criou um genuíno pop brasileiro no fim dos anos 70 apresenta trabalho acústico e ao vivo, em CD e DVD
A Cor do Som soa desbotado em novo álbum
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A música pop funciona em
ciclos. A vanguarda de hoje é
o som ultrapassado de amanhã, o
máximo da modernidade de ontem é o som datado de hoje. Se em
2006 certas sonoridades são proibidas pelo bom gosto, em 1980
elas eram exatamente o que todo
mundo queria ouvir. A despeito
de suas qualidades ou fraquezas,
artistas de uma época "negada"
por um certo zeitgeist são relegados a limbo conceitual e malvistos
pela intelligentsia.
Com o conjunto A Cor do Som
acontece algo parecido. Extremamente popular em um momento
da cultura brasileira, hoje é tido
por alguns como banda "menor",
fruto de uma época pouco memorável na nossa música. Mas o fato
é que a banda tinha sim grande
valor e, mais importante, talvez
tenha sido o mais genuíno pop
brasileiro de sua época e desde
então.
Formado por Dadi (na época
Novo Baiano, hoje Tribalista), Armandinho (então já baluarte de
trios elétricos na Bahia) e Mú Carvalho (irmão de Dadi, virtuose do
piano), incluindo o baterista Gustavo Schroeter e o percussionista
Ary Dias, A Cor do Som misturava rock com frevo, Jimi Hendrix
com trio elétrico, e criou em fins
dos anos 70 uma espécie de new
wave particular, de sotaque tropical e sem medo de ser feliz.
Boas lembranças
Se agora, 26 anos depois do auge
e 23 anos depois do desmanche da
formação original, a banda se
reencontra para registrar seus hits
e novidades no previsível formato
acústico-e-ao-vivo-com-convidados, é porque sabe de sua importância. Mais relevante, o grupo sabe que existe público à margem
de discussões teóricas, com boas
lembranças e saudades de seu
som leve, agradável, despreocupado.
Tudo certo, mas, como seria de
se esperar, as coisas não são mais
as mesmas. Se antes eles conseguiam soar originais e divertidos
-ainda que cafonas, pode dizer
algum espertinho mais cínico-,
hoje soam mais desbotados. Não
inteiramente, é verdade. Bons
momentos existem e valem a curiosidade (sobretudo no DVD,
com os sons acompanhados por
imagens), só não dá pra dizer que
é um grande trabalho.
Gravado em agosto de 2005 no
Rio de Janeiro, em um Canecão
lotado, o show traz hits como "Beleza Pura" e "Zanzibar", com participação de Caetano Veloso, Daniela Mercury, Moraes Moreira,
além da excelente faceta instrumental do grupo, em menor porcentagem.
Se antes o pop parecia ter chegado até A Cor do Som por acidente
-era um grupo instrumental,
acompanhavam outros artistas,
todos cantavam, mas ninguém
tão a sério-, o pop agora parece
ser uma amarra artística: seria legal ver mais do que o já esperado.
Em suma, é OK ouvir A Cor do
Som. Na verdade, pode ser uma
experiência ótima e libertadora.
Sempre vai ser ótimo ouvir o frescor com que o grupo aborda rock,
frevo, new wave, música baiana e
transforma tudo em um genuíno
e delicioso pop brasileiro cheio de
groove. Mas é difícil imaginar alguém preferindo ouvir o novo
acústico ao vivo do que qualquer
um dos quatro ou cinco primeiros
álbuns clássicos.
Acústico
Artista: A Cor do Som
Lançamento: Sony BMG
Quanto: R$ 45 (DVD) e R$ 30 (CD), em
média
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