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Crítica
David Lynch cria delírio em "Cidade dos Sonhos"
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O onírico no cinema de David
Lynch nada tem a ver, por
exemplo, com o apresentado
no cinema de Fellini, onde o sonho é puro deleite e gozo.
Com Lynch, ao contrário, o
clima é de pesadelo, sem distinção entre real e alucinação
(porque, em tempos tão loucos,
a fantasia seria a única realidade possível, como é a da qualidade reprodutiva do cinema,
tema caro ao diretor).
Lynch filma num momento
histórico em que se perdeu a
clareza do cinema clássico,
aquele da era de ouro. Diante
da abstração que chamamos
comodamente de pós-modernidade, temos um mundo reiterativo e em colapso sensorial,
que não diferencia corpos de
suas imagens reproduzidas.
"Cidade dos Sonhos" (TC
Cult, 0h10, não indicado a menores de 18 anos) fala um tanto
disso. Temos uma aspirante à
atriz engraçando-se com uma
diva consagrada, um acidente
de carro na célebre Mulholland
Drive, em Hollywood, sexo,
violência e um dos grandes trabalhos sobre a natureza da
imagem contemporânea.
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