São Paulo, sábado, 9 de janeiro de 1999

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JAZZ
Sai documentário sobre a obra do compositor, que teve os 20 anos de sua morte completados nesta semana
Vídeo e CD celebram o vulcão Mingus

CARLOS CALADO
especial para a Folha

Os 20 anos da morte do jazzista Charles Mingus -completados nesta semana- não passaram em branco. Um documentário em home video e um CD triplo com gravações inéditas, recém-lançados nos EUA, voltam a focalizar a música vulcânica de um dos maiores compositores deste século.
Combinando múltiplas influências, do blues à música contemporânea, Mingus construiu ao longo de quatro décadas uma obra extremamente original e criativa. Suas composições impressionam tanto pela liberdade formal, como pelo alto grau de vigor e expressividade que exige dos músicos.
"No jazz, eu só o comparo a (Duke) Ellington", declara o maestro e musicólogo Gunther Schuller, em uma das cenas de "Charles Mingus - Triumph of the Underdog", o primeiro documentário dedicado à obra do "band leader".
Para resgatar a trajetória musical de Mingus, o diretor Don McGlynn dispensou a figura do narrador. Preferiu contar a história por meio de depoimentos -não só de músicos, mas do próprio jazzista e seus familiares.
"Eu sou Charles Mingus. Meio negro, meio amarelo. Nem amarelo, nem branco o suficiente para deixar de passar por negro, nem muito claro para ser chamado de branco", autodefine-se o retratado, com uma sinceridade surpreendente, logo na primeira cena.
Filho de um soldado negro com uma descendente de chineses, Mingus nasceu em Nogales, Arizona, em 22 de abril de 1922. Mas cresceu em Los Angeles, na explosiva área de Watts, semelhante ao Harlem nova-iorquino.
Ainda garoto, aprendeu violoncelo e trombone até se decidir pelo contrabaixo. Aos 17 anos, já escrevia sua primeira composição, "What Love", que veio a gravar somente duas décadas depois.
Depois de acompanhar músicos mais tradicionais, como Louis Armstrong e Kid Ory, estabeleceu-se em Nova York, no início dos anos 50. Ali passou a tocar com Charlie Parker, Bud Powell e outros adeptos do inovador bebop. Uma década mais tarde, o decidido Mingus já tinha conquistado seu lugar definitivo na linha de frente do jazz moderno.
Entremeando os depoimentos e entrevistas com fotos e filmes raros, o documentário traça o perfil de um artista explosivo. Mingus era capaz até de demitir seus músicos durante os concertos, se as performances não o agradassem.
Para os fanáticos, não faltam documentos preciosos, como trechos de gravações domésticas que permitem ouvir Mingus compondo. Ou flagrantes de apresentações históricas, como o conturbado concerto no Town Hall de Nova York, em 1962, e a parceria com o saxofonista Gerry Mulligan, no Montreux Jazz Festival, em 1975.
Por sinal, aí se encontra o único defeito do documentário. Talvez por receio de torná-lo longo, o diretor optou por retalhar esses registros, mas não faria mal nenhum se mantivesse completos dois ou três deles. Os fãs agradeceriam.
˛

Vídeo: Charles Mingus - Triumph of the Underdog
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