São Paulo, sexta-feira, 09 de fevereiro de 2001

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CRÍTICA

Ação celebra rito de sacrifício em montanha

TIAGO MATA MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não por acaso , o som que abre "Limite Vertical" é o de uma batida tribal. Filme de ação que encontra o seu álibi numa pretensa apologia ao alpinismo romântico, idealista, "Limite Vertical" não passa de um infindável rito sacrificial celebrado na "montanha da morte".
Entre o sacrifício que marca o início do filme e o que o encerra, assistimos, sobressaltados, à ação de um grupo de alpinistas que, por motivos diversos (honra, dinheiro ou abnegação), se lançam a uma missão suicida.
Eis a situação: separados pelo trauma de terem sido obrigados, outrora, a sacrificar numa escalada a vida do próprio pai, dois irmãos, uma alpinista (Robin Tunney) e um fotógrafo (Chris O'Donnell), reencontram-se no Paquistão, à beira do K2, a tal "montanha da morte".
Os dois nunca superaram esse trauma, mas é sobretudo O'Donnell quem carrega a culpa por ter obedecido à ordem derradeira e auto-sacrificial do pai.
Assim, quando a irmã se vê aprisionada, por culpa de um inescrupuloso colega texano, numa caverna gelada, a cerca de 8.000 metros de altitude, prestes a morrer de edema pulmonar, Chris O'Donnell ganha a sua chance de redenção (o velho clichê), passando a liderar um grupo de resgate munido, fatalmente, de nitroglicerina.
A célebre "montanha da morte" torna-se assim uma espécie de montanha-russa, em que o coração do espectador é constantemente afetado pelos sustos de um percurso vertiginoso, mas perfeitamente previsível.
"Limite Vertical" é um daqueles filmes que vão matando seus personagens aos poucos, meticulosamente, mais uma prova cinematográfica da tese de Theodor Adorno de que o princípio sacrificial das sociedades primitivas nunca foi de fato extirpado pela civilização. Ao contrário, acabou introjetado pela própria racionalidade.
Eis uma das funções (míticas) de uma arte que nasceu como ciência: o cinema nunca deixará de constituir uma das formas modernas desse rito tribal. Ao menos enquanto houver espectadores dispostos a se oferecerem em sacrifício por filmes como "Limite Vertical".



Limite Vertical
Vertical Limit
 
Direção: Robert King
Produção: EUA, 2000
Com: Chris O'Donnell, Bill Paxton, Robin Tunney, Scott Glenn
Quando: a partir de hoje nos cines Center Norte, Continental, Eldorado, Interlagos, Morumbi, Pátio Higienópolis e circuito




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