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CRÍTICA
Ação celebra rito de sacrifício em montanha
TIAGO MATA MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Não por acaso , o som que
abre "Limite Vertical" é o de
uma batida tribal. Filme de ação
que encontra o seu álibi numa
pretensa apologia ao alpinismo
romântico, idealista, "Limite Vertical" não passa de um infindável
rito sacrificial celebrado na "montanha da morte".
Entre o sacrifício que marca o
início do filme e o que o encerra,
assistimos, sobressaltados, à ação
de um grupo de alpinistas que,
por motivos diversos (honra, dinheiro ou abnegação), se lançam
a uma missão suicida.
Eis a situação: separados pelo
trauma de terem sido obrigados,
outrora, a sacrificar numa escalada a vida do próprio pai, dois irmãos, uma alpinista (Robin Tunney) e um fotógrafo (Chris
O'Donnell), reencontram-se no
Paquistão, à beira do K2, a tal
"montanha da morte".
Os dois nunca superaram esse
trauma, mas é sobretudo O'Donnell quem carrega a culpa por ter
obedecido à ordem derradeira e
auto-sacrificial do pai.
Assim, quando a irmã se vê
aprisionada, por culpa de um
inescrupuloso colega texano, numa caverna gelada, a cerca de
8.000 metros de altitude, prestes a
morrer de edema pulmonar,
Chris O'Donnell ganha a sua
chance de redenção (o velho clichê), passando a liderar um grupo
de resgate munido, fatalmente, de
nitroglicerina.
A célebre "montanha da morte"
torna-se assim uma espécie de
montanha-russa, em que o coração do espectador é constantemente afetado pelos sustos de um
percurso vertiginoso, mas perfeitamente previsível.
"Limite Vertical" é um daqueles
filmes que vão matando seus personagens aos poucos, meticulosamente, mais uma prova cinematográfica da tese de Theodor
Adorno de que o princípio sacrificial das sociedades primitivas
nunca foi de fato extirpado pela
civilização. Ao contrário, acabou
introjetado pela própria racionalidade.
Eis uma das funções (míticas)
de uma arte que nasceu como
ciência: o cinema nunca deixará
de constituir uma das formas modernas desse rito tribal. Ao menos
enquanto houver espectadores
dispostos a se oferecerem em sacrifício por filmes como "Limite
Vertical".
Limite Vertical
Vertical Limit
Direção: Robert King
Produção: EUA, 2000
Com: Chris O'Donnell, Bill Paxton, Robin
Tunney, Scott Glenn
Quando: a partir de hoje nos cines
Center Norte, Continental, Eldorado,
Interlagos, Morumbi, Pátio Higienópolis
e circuito
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