São Paulo, sexta-feira, 09 de fevereiro de 2007

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"Pecados Íntimos" reflete política, diz Todd Field

Diretor nova-iorquino diz em entrevista à Folha que filme é uma metáfora da paranóia que ronda a sociedade norte-americana

TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM WASHINGTON

O ator e diretor nova-iorquino Todd Field demorou cinco anos para decidir qual seria seu projeto depois de "Entre Quatro Paredes", de 2001, que rendeu cinco indicações ao Oscar.
A espera valeu a pena. "Pecados Íntimos", que entra em cartaz hoje em São Paulo, foi uma das grandes estréias americanas do final do ano passado e está indicado a três Oscar, com Kate Winslet (atriz), Jackie Earle Haley (coadjuvante) e o próprio Field e Tom Perrotta (roteiro adaptado).
Field trabalha como ator desde os anos 80 -é o pianista que dá a dica da orgia a Tom Cruise em "De Olhos Bem Fechados". Em "Pecados Íntimos", baseado em livro de Perrotta, ele devassa um subúrbio que vê seus moradores entrarem em pânico quando um ex-presidiário volta para casa.
Ele havia sido preso por atentado ao pudor contra menores, e seu retorno deixa as mães nos parquinhos e piscinas públicas desesperadas. Uma delas é Sarah (Winslet), uma dona-de-casa que se envolve com o pai bonitão. Field falou à Folha por telefone:

 

FOLHA - Por que essa história?
TODD FIELD -
Li o livro "Pecados Íntimos" no começo de 2003, antes da guerra do Iraque e na época o clima do país estava muito estranho, havia uma sensação de medo e paranóia no ar. Essa história é muito política, ainda que seja uma política de parquinho de criança. Há vários elementos da atual política externa dos EUA naquele pequeno universo. As pessoas julgam as outras simplesmente porque são diferentes. E tomam decisões extremas baseadas em pouca informação.

FOLHA - Mas as mães no seu filme não são assim, pelo menos não em relação aos próprios filhos...
FIELD -
É o outro lado da moeda, é uma história muito matriarcal também. O amor incondicional e o ódio gratuito coabitam os mesmos lugares. O que acontece quando essas duas coisas entram em choque? Há uma saída graciosa, leve, moral.

FOLHA - Por que escolher Kate Winslet?
FIELD -
Eu não tinha visto nenhum filme com ela, nem "Titanic". Então assisti "O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança" e fiquei louco com o trabalho daquela moça de cabelo colorido (tinha certeza de que era americana). Minha protagonista estava escolhida.

FOLHA - O filme se passa em um subúrbio, como as séries "Desperate Housewives", "Weeds". Por que os subúrbios se tornaram tão fundamentais na cultura americana?
FIELD -
Os subúrbios não existem mais, para falar a verdade. A não ser que você considere que o mundo inteiro virou um subúrbio, Nova York virou um subúrbio. Você não consegue mais encontrar um lugar nesse país que não tenha uma Banana Republic, um McDonald's e um Starbucks. Todo mundo está muito parecido, contando as mesmas piadas, usando as mesmas roupas. Os filmes e seriados que se passam no subúrbio, inclusive o meu, são resultado de um sonho de subúrbio que não existe mais, um lugar onde você pode escapar de tudo que acontece nos grandes centros.

FOLHA - Nervoso com as indicações ao Oscar?
FIELD -
Um pouco, mas elas já cumpriram o seu papel, de despertar nas pessoas a vontade de ir ao cinema, em vez de esperar o DVD. É cada vez mais difícil fazer as pessoas saírem de casa e a experiência coletiva de ver um filme no cinema é muito mais profunda.


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