São Paulo, sábado, 09 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/artes plásticas

"Panorama dos Panoramas" propõe reflexão sobre a trajetória do MAM

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Recentemente, Ivo Mesquita, curador da 28ª Bienal de São Paulo, afirmou em um debate que uma das razões para as freqüentes crises da Bienal foi seu desligamento do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), em 1961, e seu funcionamento a partir da fundação que, de fato, tem vivido permanente instabilidade.
Seria possível comprovar que com o museu paulista os rumos da Bienal teriam sido melhores? A exposição "Panorama dos Panoramas", em cartaz no MAM, é uma boa forma de avaliar a tese de Mesquita.
Com curadoria de Ricardo Resende, a mostra é uma retrospectiva dos quase 40 anos da exposição periódica sobre arte brasileira, criada em 1969.
Organizada em ordem cronológica, "Panorama dos Panoramas" apresenta uma grande quantidade de obras, são 101 trabalhos de 90 artistas, que resultam numa grande dissonância com a história da arte brasileira. A ausência de nomes fundamentais da produção nacional é gritante.
As primeiras obras expostas, com "Mastros" (1970), de Alfredo Volpi, ou "Escultura UM" (1972), de Ascânio MMM, abordam a tradição construtiva numa década onde a experimentação era a tônica, vertente essa inexistente nas premiações dos Panoramas. Nada de Lygia Clark, Hélio Oiticica ou qualquer outro artista mais radical.
O mesmo ocorre na década seguinte, marcada pela chamada geração 80. Artistas como Leda Catunda, Leonilson, Nuno Ramos ou Beatriz Milhazes, entre outros, fundamentais para a compreensão daquele período, também passaram longe das premiações dos "Panoramas". Apenas na década de 1990, quando Mesquita assume a curadoria do "Panorama" de 1995, o museu passa a acompanhar a produção nacional de forma significativa, o que é ressaltado pelo próprio Resende em texto na mostra.
Ao traçar esse percurso de forma tão transparente, Resende não foge às instabilidades do próprio MAM. Nesse sentido, a tese de Mesquita parece não alcançar validade, afinal a Bienal, mesmo com altos e baixos, mostrou-se um espaço mais vital para a produção nacional do que o "Panorama". Não deixa de ser sugestivo, contudo, que ambas as instituições estejam debruçadas sobre si mesmas, agora em 2008. O MAM, ao comemorar 60 anos, inicia sua programação avaliando o "Panorama", e a Bienal, com um andar inteiro vazio, irá abordar suas crises. Em relação ao Panorama, o futuro parece mais promissor que o passado.


PANORAMA DOS PANORAMAS
Quando:
de ter. a dom., das 10h às 18h; até 23/3
Onde: Museu de Arte Moderna de São Paulo (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5085-1300)
Quanto: R$ 5,50
Avaliação: regular


Texto Anterior: Trecho
Próximo Texto: Alunos fazem curadoria coletiva
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.