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Crítica/artes plásticas
"Panorama dos Panoramas" propõe reflexão sobre a trajetória do MAM
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Recentemente, Ivo Mesquita, curador da 28ª
Bienal de São Paulo,
afirmou em um debate que
uma das razões para as freqüentes crises da Bienal foi seu
desligamento do Museu de Arte Moderna de São Paulo
(MAM), em 1961, e seu funcionamento a partir da fundação
que, de fato, tem vivido permanente instabilidade.
Seria possível comprovar que
com o museu paulista os rumos
da Bienal teriam sido melhores? A exposição "Panorama
dos Panoramas", em cartaz no
MAM, é uma boa forma de avaliar a tese de Mesquita.
Com curadoria de Ricardo
Resende, a mostra é uma retrospectiva dos quase 40 anos
da exposição periódica sobre
arte brasileira, criada em 1969.
Organizada em ordem cronológica, "Panorama dos Panoramas" apresenta uma grande
quantidade de obras, são 101
trabalhos de 90 artistas, que resultam numa grande dissonância com a história da arte brasileira. A ausência de nomes fundamentais da produção nacional é gritante.
As primeiras obras expostas,
com "Mastros" (1970), de Alfredo Volpi, ou "Escultura UM"
(1972), de Ascânio MMM, abordam a tradição construtiva numa década onde a experimentação era a tônica, vertente essa
inexistente nas premiações dos
Panoramas. Nada de Lygia
Clark, Hélio Oiticica ou qualquer outro artista mais radical.
O mesmo ocorre na década
seguinte, marcada pela chamada geração 80. Artistas como
Leda Catunda, Leonilson, Nuno Ramos ou Beatriz Milhazes,
entre outros, fundamentais para a compreensão daquele período, também passaram longe
das premiações dos "Panoramas". Apenas na década de
1990, quando Mesquita assume
a curadoria do "Panorama" de
1995, o museu passa a acompanhar a produção nacional de
forma significativa, o que é ressaltado pelo próprio Resende
em texto na mostra.
Ao traçar esse percurso de
forma tão transparente, Resende não foge às instabilidades do
próprio MAM. Nesse sentido, a
tese de Mesquita parece não alcançar validade, afinal a Bienal,
mesmo com altos e baixos,
mostrou-se um espaço mais vital para a produção nacional do
que o "Panorama". Não deixa
de ser sugestivo, contudo, que
ambas as instituições estejam
debruçadas sobre si mesmas,
agora em 2008. O MAM, ao comemorar 60 anos, inicia sua
programação avaliando o "Panorama", e a Bienal, com um
andar inteiro vazio, irá abordar
suas crises. Em relação ao Panorama, o futuro parece mais
promissor que o passado.
PANORAMA DOS PANORAMAS
Quando: de ter. a dom., das 10h às
18h; até 23/3
Onde: Museu de Arte Moderna de
São Paulo (pq. Ibirapuera, portão 3,
tel. 0/xx/11/5085-1300)
Quanto: R$ 5,50
Avaliação: regular
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