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Registros caseiros de João Gilberto na web são fartos
Material raro veiculado pela internet na semana passada não é um caso isolado
Diversos amigos gravaram sessões de cantor e compositor, mas disponibilizaram material para poucos "privilegiados"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Para provável desagrado do
perfeccionista baiano, o baú de
registros não-oficiais de João
Gilberto é grande e só tende a
aumentar, por causa das novas
tecnologias de captação e difusão. O material que circula na
internet desde a semana passada tem causado alvoroço pelo
seu valor histórico, que o destaca do conjunto infinito.
Afinal, são cerca de 30 músicas (há trechinhos de algumas e
exercícios ao violão) interpretadas por João em 1958, exatamente o ano de nascimento da
bossa nova. Acredita-se que todas tenham sido registradas pelo fotógrafo Chico Pereira, pois
ele tinha o costume de ligar seu
gravador de rolo quando o amigo João tocava -como Ruy
Castro relata no livro "Chega de
Saudade"- e sua voz e seu nome são ouvidos nas conversas.
Mas o próprio Ruy lembra
que o pianista Bené Nunes, o
cantor e compositor Luiz Cláudio e outros também apertavam o "rec" em suas máquinas
quando João pegava o violão.
As gravações também não estão em estado bruto. Há momentos de conversas -alguns
divertidos, outros de difícil
compreensão- e se ouve por
três segundos um cachorro latindo durante "Um Abraço no
Bonfá", mas também há uma
longa sequência de músicas tocadas com total silêncio ao fundo. Alguma edição do material
deve ter ocorrido.
Castro teve acesso a ele, ainda em fita de rolo, em 1989, um
ano antes de lançar seu livro.
Outros pesquisadores conseguiram o mesmo nas duas últimas décadas, entre eles o paulista Sérgio Ximenes.
"Em se tratando de João, [o
repertório] é sempre mais do
mesmo. Com uma qualidade
sofrível, interessa mais aos superfanáticos", diz Ximenes.
Mas ele reconhece que os
empecilhos criados por João
para que suas gravações se tornem públicas aumenta o interesse por qualquer tipo de "vazamento". Das músicas que
constam do registro caseiro, 15
apareceriam, em qualidade obviamente superior, nos três discos de João que formam a trilogia básica da bossa nova: dez
em "Chega de Saudade" (1959),
quatro em "O Amor, o Sorriso e
a Flor" (1960) e uma em "João
Gilberto" (1961).
E cadê esses discos? Desde os
anos 90, o músico trava uma
guerra judicial contra a EMI,
pois a gravadora os lançou numa coletânea com as faixas fora
de ordem e, segundo ele, mal
remasterizadas.
Despertam mais curiosidade
nas gravações de Chico Pereira
as músicas que João nunca viria a gravar, como "Chão de Estrelas" e "Beija-Me" (ver quadro ao lado), e pequenas bossas
naquelas que se tornariam
constantes depois.
Registros diversos
Quem navegar por sites de
música, de leilões ou pelo YouTube vai encontrar João cantando em Salvador, na Argentina, na Europa... Nada com qualidade muito boa nem com profundo valor histórico -o francês Christophe Rousseau, que
remasterizou uma cópia dos registros de 1958, está agora fazendo o mesmo com um concerto de João no Roxy Theatre,
de Los Angeles, em 1977.
Melhor é achar aquelas com
inegável valor histórico. Um
exemplo: o show "Um Encontro", que reuniu na boate Au
Bon Gourmet, no Rio, em 1962,
Tom Jobim, Vinicius, João e Os
Cariocas, e no qual foi lançada
"Garota de Ipanema".
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