São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2009

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Márcio Local ganha fama nos EUA

Desconhecido no Brasil, carioca ganhou elogios da "New Yorker" e fechou contrato com gravadora de David Byrne

DA SUCURSAL DO RIO

Bastaram sete dias para que Márcio Local, 32, conseguisse o que buscava há 16 anos. Na primeira quinzena de janeiro, fez sete shows em Washington e Nova York, ganhou uma reportagem carregada de elogios na revista "New Yorker" -dentre outras menções na imprensa- e a gravadora Luaka Bop, de David Byrne, passou a receber vários pedidos de seu disco, embora ele sequer tenha sido lançado no exterior.
Até chegar a esse momento conto de fadas, o carioca Márcio André de Lima Ribeiro viu muita bruxa solta. Aos 15, foi expulso de casa pelo pai, que considerava música "coisa de vagabundo". Teve de trocar a vida de classe média baixa de Realengo (zona oeste) por favelas. Foi contínuo, mecânico de aviação, fez bicos, mas nunca largou o violão.
"A música mete a mão na tua cabeça e te coloca como escravo dela", acredita ele, que nunca mais voltou a falar com o pai, morto no ano passado, mas que vê um aspecto positivo no que aconteceu. "Meu pai me deu a oportunidade de ser tudo o que eu sou, pois sem história eu não teria nada para contar. Minha música é relacionada a isso."
Tendo frequentado a Mocidade Independente de Padre Miguel desde a infância e ido muito a pagodes, Local ressalta que a base de sua música é o samba. Mas as noites de black music no Grêmio de Realengo também o marcaram, como deixam claras suas composições dançantes e as influências listadas em sua página no MySpace: Wilson Simonal, Jorge Ben Jor, Banda Black Rio, Carlos Dafé, Tim Maia e outros -incluindo grandes sambistas.
"Eu faço samba com influência de tudo", define. "O pessoal gosta lá fora porque há melodias que lembram Bob Marley, outras têm muito soul, mas o samba é a referência."
Local tocou muito na noite, em festas, onde pagassem. "Podia tocar até em Gaza e no Afeganistão", lembra. Há dois anos, conseguiu comprar uma casa em Santa Teresa (bairro central que é reduto de artistas no Rio), na qual ensaiou seu primeiro disco.
Com ajuda da mãe e do padrasto, arrecadou R$ 70 mil ("a dívida já se multiplicou por dez", ressalta) e gravou "Samba sem Nenhum Problema" pela sua Local Records. A distribuição da Universal foi tímida, mas ele conheceu o veterano produtor Armando Pittigliani -que trabalhou com Nara Leão, Elis Regina e muitos outros-, e este mostrou seu trabalho a Mario Caldato, produtor de Marcelo D2, Marisa Monte etc. Caldato pôs o CD na Luaka Bop, que marcou os shows de janeiro e lançará o disco nos EUA, no Canadá e no Reino Unido em maio.
"Foi tudo muito rápido. Agora vou ser Local e internacional", diz ele, em tom de brincadeira, reconhecendo que, apesar da filha de cinco anos no Rio, deverá morar no exterior.


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