|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Márcio Local ganha fama nos EUA
Desconhecido no Brasil, carioca ganhou elogios da "New Yorker" e fechou contrato com gravadora de David Byrne
DA SUCURSAL DO RIO
Bastaram sete dias para que
Márcio Local, 32, conseguisse o
que buscava há 16 anos. Na primeira quinzena de janeiro, fez
sete shows em Washington e
Nova York, ganhou uma reportagem carregada de elogios na
revista "New Yorker" -dentre
outras menções na imprensa-
e a gravadora Luaka Bop, de
David Byrne, passou a receber
vários pedidos de seu disco,
embora ele sequer tenha sido
lançado no exterior.
Até chegar a esse momento
conto de fadas, o carioca Márcio André de Lima Ribeiro viu
muita bruxa solta. Aos 15, foi
expulso de casa pelo pai, que
considerava música "coisa de
vagabundo". Teve de trocar a
vida de classe média baixa de
Realengo (zona oeste) por favelas. Foi contínuo, mecânico de
aviação, fez bicos, mas nunca
largou o violão.
"A música mete a mão na tua
cabeça e te coloca como escravo
dela", acredita ele, que nunca
mais voltou a falar com o pai,
morto no ano passado, mas que
vê um aspecto positivo no que
aconteceu. "Meu pai me deu a
oportunidade de ser tudo o que
eu sou, pois sem história eu não
teria nada para contar. Minha
música é relacionada a isso."
Tendo frequentado a Mocidade Independente de Padre
Miguel desde a infância e ido
muito a pagodes, Local ressalta
que a base de sua música é o
samba. Mas as noites de black
music no Grêmio de Realengo
também o marcaram, como
deixam claras suas composições dançantes e as influências
listadas em sua página no
MySpace: Wilson Simonal, Jorge Ben Jor, Banda Black Rio,
Carlos Dafé, Tim Maia e outros
-incluindo grandes sambistas.
"Eu faço samba com influência de tudo", define. "O pessoal
gosta lá fora porque há melodias que lembram Bob Marley,
outras têm muito soul, mas o
samba é a referência."
Local tocou muito na noite,
em festas, onde pagassem. "Podia tocar até em Gaza e no Afeganistão", lembra. Há dois
anos, conseguiu comprar uma
casa em Santa Teresa (bairro
central que é reduto de artistas
no Rio), na qual ensaiou seu
primeiro disco.
Com ajuda da mãe e do padrasto, arrecadou R$ 70 mil ("a
dívida já se multiplicou por
dez", ressalta) e gravou "Samba
sem Nenhum Problema" pela
sua Local Records. A distribuição da Universal foi tímida,
mas ele conheceu o veterano
produtor Armando Pittigliani
-que trabalhou com Nara
Leão, Elis Regina e muitos outros-, e este mostrou seu trabalho a Mario Caldato, produtor de Marcelo D2, Marisa
Monte etc. Caldato pôs o CD na
Luaka Bop, que marcou os
shows de janeiro e lançará o
disco nos EUA, no Canadá e no
Reino Unido em maio.
"Foi tudo muito rápido. Agora vou ser Local e internacional", diz ele, em tom de brincadeira, reconhecendo que, apesar da filha de cinco anos no
Rio, deverá morar no exterior.
Texto Anterior: Destaques das gravações Próximo Texto: Frase Índice
|