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ANÁLISE
Hollywood se alimentou do teatro com chegada do som
Cinema importou dramaturgos para melhorar roteiros e criar bons diálogos
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Desde "A Morte do Duque de
Guise", pelo menos -e o século
20 estava apenas começando-,
o cinema se alimenta do teatro.
A rigor, pode-se recuar um
pouco mais: a Georges Méliès,
que, não se pode esquecer, era
um prestidigitador, ou ainda ao
teatro burlesco, com seus números e seus comediantes.
O "Duque de Guise" é também o primeiro exemplo vivo
de inadequação na passagem ao
cinema. Ou melhor, mal se pode falar em passagem, pois ele
se concebia, em linhas gerais,
como uma peça filmada.
Na verdade, até o advento do
sonoro, o cinema esteve muito
preocupado perguntando por si
mesmo e sua natureza. Com o
sonoro, no entanto, o roteiro
tornou-se uma peça vital, sobretudo devido à necessidade
de ter bons diálogos à disposição dos atores.
Foi quando Hollywood importou uma penca de dramaturgos, da Broadway em especial. Mas entre os anos 1930 e
40 até Bertolt Brecht andou
por lá, embora não muito feliz.
Para o cinema americano, o
pós-guerra representa um momento fundamental para a interação cinema/teatro. Elia
Kazan, famoso diretor de teatro, chega ao cinema, trazendo
a dramaturgia de, por exemplo,
Tennessee Williams. Kazan
trazia também o Actor's Studio
e toda uma nova maneira de
encarar o trabalho de ator
(além de novos atores, como
Marlon Brando, James Dean,
Montgomery Clift, Paul Newman etc.).
Talvez hoje a obra de Tennessee Williams soe um tanto
ultrapassada, mas na época significava um sopro adulto em
Hollywood. De todo modo, seu
nome ficará associado a algumas obras-primas, como "Uma
Rua Chamada Pecado" (vulgo
"Um Bonde Chamado Desejo"), do próprio Kazan, e "De
Repente, no Último Verão", de
Joseph L. Mankiewicz.
Na França, Jean Cocteau é o
principal nome clássico associado ao teatro (e também à
poesia), não apenas pelos filmes que realizou, como pelos
roteiros que escreveu, desde
"As Damas do Bois de Boulogne", para Robert Bresson, e pelas adaptações de seus textos
("O Mistério de Oberwald", de
Antonioni). Mas não se pode
esquecer também Marcel Pagnol, dramaturgo e muito bom
cineasta.
No Brasil, a influência de
Nelson Rodrigues é a mais notável, seja pela natureza popular de sua escrita, seja pela força
imagética de seus textos e diálogos, que se prestaram a ótimas adaptações.
Embora não se possa esquecer, entre outros, o "Navalha na
Carne" que Braz Chediak dirigiu a partir do texto de Plínio
Marcos, nem o fato de que foi
Abílio Pereira de Almeida, dramaturgo, quem introduziu ao
cinema seu comediante de
maior sucesso, Mazzaropi.
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