São Paulo, terça-feira, 09 de fevereiro de 2010

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ANÁLISE

Hollywood se alimentou do teatro com chegada do som

Cinema importou dramaturgos para melhorar roteiros e criar bons diálogos

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Desde "A Morte do Duque de Guise", pelo menos -e o século 20 estava apenas começando-, o cinema se alimenta do teatro. A rigor, pode-se recuar um pouco mais: a Georges Méliès, que, não se pode esquecer, era um prestidigitador, ou ainda ao teatro burlesco, com seus números e seus comediantes.
O "Duque de Guise" é também o primeiro exemplo vivo de inadequação na passagem ao cinema. Ou melhor, mal se pode falar em passagem, pois ele se concebia, em linhas gerais, como uma peça filmada.
Na verdade, até o advento do sonoro, o cinema esteve muito preocupado perguntando por si mesmo e sua natureza. Com o sonoro, no entanto, o roteiro tornou-se uma peça vital, sobretudo devido à necessidade de ter bons diálogos à disposição dos atores.
Foi quando Hollywood importou uma penca de dramaturgos, da Broadway em especial. Mas entre os anos 1930 e 40 até Bertolt Brecht andou por lá, embora não muito feliz.
Para o cinema americano, o pós-guerra representa um momento fundamental para a interação cinema/teatro. Elia Kazan, famoso diretor de teatro, chega ao cinema, trazendo a dramaturgia de, por exemplo, Tennessee Williams. Kazan trazia também o Actor's Studio e toda uma nova maneira de encarar o trabalho de ator (além de novos atores, como Marlon Brando, James Dean, Montgomery Clift, Paul Newman etc.).
Talvez hoje a obra de Tennessee Williams soe um tanto ultrapassada, mas na época significava um sopro adulto em Hollywood. De todo modo, seu nome ficará associado a algumas obras-primas, como "Uma Rua Chamada Pecado" (vulgo "Um Bonde Chamado Desejo"), do próprio Kazan, e "De Repente, no Último Verão", de Joseph L. Mankiewicz.
Na França, Jean Cocteau é o principal nome clássico associado ao teatro (e também à poesia), não apenas pelos filmes que realizou, como pelos roteiros que escreveu, desde "As Damas do Bois de Boulogne", para Robert Bresson, e pelas adaptações de seus textos ("O Mistério de Oberwald", de Antonioni). Mas não se pode esquecer também Marcel Pagnol, dramaturgo e muito bom cineasta.
No Brasil, a influência de Nelson Rodrigues é a mais notável, seja pela natureza popular de sua escrita, seja pela força imagética de seus textos e diálogos, que se prestaram a ótimas adaptações.
Embora não se possa esquecer, entre outros, o "Navalha na Carne" que Braz Chediak dirigiu a partir do texto de Plínio Marcos, nem o fato de que foi Abílio Pereira de Almeida, dramaturgo, quem introduziu ao cinema seu comediante de maior sucesso, Mazzaropi.


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