São Paulo, Terça-feira, 09 de Fevereiro de 1999
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Otto é arauto da contemporaneidade

MARCELO NEGROMONTE
da Redação

Pelo que se viu último sábado no "Tribos Eletrônicas", no Sesc Vila Mariana, a música pop dos anos 90 no Brasil seria infinitamente mais banal sem o celeiro Pernambuco (Chico Science, Nação Zumbi, Mestre Ambrósio, Mundo Livre S/A... Otto). Otto revelou-se o arauto - até, talvez, com certa involuntariedade- da contemporaneidade política e social brasileira.
No ponto alto alto da noite, Otto, em trajes camuflados, disparou "Renault/Peugeot", entrelaçando a ciranda popular de Lia de Itamaracá -drum'n'bass, Renault, ciranda, Peugeot, Pernambuco... Seria influência, reflexo ou mera concomitância com o neoliberalismo globalizante dos anos tucanos?
"Ciranda de Maluco" em versão "downtempo", mais soul, evocando James Brown e Tim Maia, foi o final da noite triunfal.
Antes do pernambucano, o experimental e simpático Lourenço Brasil, o Loop B, sacudiu o teatro do Sesc vestido de lata caminhando e cantando pela platéia -criatura e instrumento uno-, lambendo o serrote-instrumento, transando com a furadeira numa carcaça de porta de automóvel, em "Everybody É", e martelando a mente. Tudo dançante, sujo e pesado, um Hermeto Paschoal apocalíptico.
O Concreteness abriu a noite com guitarras, bateria e sintetizador num corpo de mistura esquizóide e disforme de Nine Inch Nails, Prodigy e rock progressivo com uma mãozinha do karnak André Abujamra.
O inglês Aphrodite teve a ingrata, mas bem-sucedida tarefa de suceder Otto no palco e encerrar a noite. Drum'n'bass para pular, samples de Beastie Boys, Prodigy, o diabo. Palco-platéia mais vazio e mais suado; hall de entrada mais cheio e extasiado.
Mas a Música Contemporânea Brasileira, que era a rainha da noite, já revelara-se impávida, um colosso esplêndido que chuta e absorve seu berço ainda retumbante, a chamada MPB.


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