|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Otto é arauto da contemporaneidade
MARCELO NEGROMONTE
da Redação
Pelo que se viu último sábado
no "Tribos Eletrônicas", no Sesc
Vila Mariana, a música pop dos
anos 90 no Brasil seria infinitamente mais banal sem o celeiro
Pernambuco (Chico Science,
Nação Zumbi, Mestre Ambrósio, Mundo Livre S/A... Otto).
Otto revelou-se o arauto - até,
talvez, com certa involuntariedade- da contemporaneidade
política e social brasileira.
No ponto alto alto da noite, Otto, em trajes camuflados, disparou "Renault/Peugeot", entrelaçando a ciranda popular de Lia
de Itamaracá -drum'n'bass,
Renault, ciranda, Peugeot, Pernambuco... Seria influência, reflexo ou mera concomitância
com o neoliberalismo globalizante dos anos tucanos?
"Ciranda de Maluco" em versão "downtempo", mais soul,
evocando James Brown e Tim
Maia, foi o final da noite triunfal.
Antes do pernambucano, o experimental e simpático Lourenço Brasil, o Loop B, sacudiu o
teatro do Sesc vestido de lata caminhando e cantando pela platéia -criatura e instrumento
uno-, lambendo o serrote-instrumento, transando com a furadeira numa carcaça de porta
de automóvel, em "Everybody
É", e martelando a mente. Tudo
dançante, sujo e pesado, um
Hermeto Paschoal apocalíptico.
O Concreteness abriu a noite
com guitarras, bateria e sintetizador num corpo de mistura esquizóide e disforme de Nine
Inch Nails, Prodigy e rock progressivo com uma mãozinha do
karnak André Abujamra.
O inglês Aphrodite teve a ingrata, mas bem-sucedida tarefa
de suceder Otto no palco e encerrar a noite. Drum'n'bass para
pular, samples de Beastie Boys,
Prodigy, o diabo. Palco-platéia
mais vazio e mais suado; hall de
entrada mais cheio e extasiado.
Mas a Música Contemporânea
Brasileira, que era a rainha da
noite, já revelara-se impávida,
um colosso esplêndido que chuta e absorve seu berço ainda retumbante, a chamada MPB.
Texto Anterior: Tribos eletrônicas: Festival eletrônico termina em pique de missão cumprida Próximo Texto: Literatura: Carpentier é lançado na Espanha Índice
|